PIAGET E VYGOTSKY: CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS PSICOGENÉTICAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Falar sobre o desenvolvimento humano é uma tarefa complexa, porque há toda uma subjetividade a ser desvendada. Cada sujeito é único no meio social em que está inserido.

Nos primórdios não se tinha uma concepção específica e/ou científica de como ocorria o desenvolvimento do indivíduo.

Dessa forma, surge, então, a Psicologia, que se tornou uma ciência no fim do século XIX, o que oportunizou observar que a infância passa por fases distintas de desenvolvimento, cujos processos de aprendizagem são diferentes dos adultos. Nessa mesma época, o perfil da adolescência surge e é visto como uma fase importante nesse processo de desenvolvimento.

"Quando a Psicologia se torna uma ciência, no final do século XIX, encontraremos a criança compreendida sob nova perspectiva, agora acrescida dos conhecimentos psicológicos que a definem como um ser que vivencia fases desenvolvimentais distintas e com mecanismos de aprendizagem diferenciados dos adultos. A figura do adolescente também emerge, como uma das etapas fundamentais no processo de desenvolvimento humano (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p. 21)".

Sob essa ótica é que se destacam as presenças de Piaget e Vygotsky, através das teorias psicogenéticas de ambos na construção do conhecimento.

Falar-se-á, primeiramente, das contribuições deixadas por Jean Piaget à educação.

Piaget (1896-1980) foi especialista em psicologia evolutiva e epistemologia genética, filósofo e educador. Além disso, “era biólogo e teve uma significativa experiência nesta área, concluindo seu programa de doutoramento com apenas 25 anos de idade” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.37).

Com os conhecimentos que possua, desenvolveu a sua tese, Espitemologia Genética, que objetivava conhecer e/ou compreender a origem do conhecimento e de que maneira o indivíduo se apropriava dessas estruturas mentais.

"A Epistemologia Genética investiga o desenvolvimento cognitivo desde o nascimento até a adolescência, onde encontramos o jovem dotado de pensamento formal, assim como o adulto. Sua proposta é conhecer esta trajetória desenvolvimental, é investigar como as estruturas cognitivas vão se organizando, durante a infância, caracterizadas por processos evolutivos distintos" (DOLLE, 1995, APUD A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.37).

Assim, Jean dá início ao seu trabalho, o Método Clínico, cujo principal interesse era investigar o processo da construção do conhecimento a partir das respostas erradas das crianças.

Toda essa dinâmica defendida por ele pressupunha a busca da Adaptação, ou seja, um mecanismo que gera equilibração Adaptar-se, significa “operar cognitivamente de modo a compreender, seja do ponto de vista de qualquer lógica, o ambiente a sua volta” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.40).

A adaptação se relaciona com dois processos: Assimilação e Acomodação. O primeiro diz respeito ao ato de “incorporar elementos, experiências, objetos e relações provenientes do meio a estruturas ou esquemas já existentes, sendo uma atividade de repetição que permite fixar e consolidar os esquemas” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.40). O segundo, “representa a modificação das estruturas ou esquemas já existentes em função das modificações do meio” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.40).

Entenda-se por Esquema “o modo de agir, construído pelo sujeito” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.40).

Diante de toda essa dinâmica da construção do conhecimento, Piaget criou os estágios de desenvolvimento cognitivo, a saber:

Estágio sensório-motor (0 a 2 anos), cujas características são a falta de representação, de pensamento e sem linguagem, a criança opera somente em presença do objeto ou pessoas por meio da percepção;

Estágio Pré-operatório ou da inteligência simbólica (2 a 7 anos), em que impera o egocentrismo. Neste período a criança tem acesso à linguagem;

Estágio operatório concreto (7 a 12 anos), a criança desenvolve o processo de socialização. Nessa fase, a escola aparece como referência;

Estágio operatório formal (12 anos em diante), aqui o adolescente sabe operar entre as possibilidades e a realidade, ou seja, realiza hipóteses e, a partir delas, vai construindo o seu pensar.

Piaget contribuiu, e muito, para a educação. Para ele, a aprendizagem deveria acontecer de forma interacionista, na qual “a criança fosse levada a operar por si mesma, qualquer que fosse o domínio da atividade” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.49).

Outro cientista que, igualmente, deixou seu legado para a educação foi Vygotsky (1896-1934). Este iniciou sua teoria a partir do pressuposto que o sujeito se desenvolve através do seu contexto sócio-histórico-cultural.

Para tanto, Vygotsky criou os Processos Psicológicos Superiores, que conferem ao indivíduo um domínio muito específico – a consciência.

"A consciência tem sua origem no cenário cultural, exatamente como todas as outras funções psicológicas. Ela surge a partir do momento em que o homem começa a trabalhar e se comunicar de modo voluntário, no momento em que o sujeito humano passa a atuar instrumentalmente sobre a natureza, mediado por suas relações com seus semelhantes e em um contexto de coletividade" (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.53).

Dessa forma, esse autor entende que é através da bagagem sócio-histórica-cultural que o sujeito vai construir a própria aprendizagem, que funciona como elemento externo.

Outra abordagem da teoria Vygotskiana é a da Mediação Simbólica, em que o ser humano tem o domínio dos significados culturais. Essa mediação se dá por Instrumentos e Signos. Os instrumentos são mediadores entre o homem e a natureza. Os signos são mediadores entre o homem e suas ações psicológicas.

Esse teórico destaca, também, um outro conceito, a Internalização, cuja função “diz respeito ao processo de apropriação dos significados culturais, via mediação, que são os construtores dos processos psicológicos superiores, típicos da espécie humana” (A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, 2007, p.56).

Um último conceito estudado por Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento Proximal.

"A zona proximal dos nossos alunos não pode ser medida, pois representa o desenvolvimento que ainda está por vir. Além disso, cada ser humano possui uma zona proximal diferente, pois cada informação, cada contato com a realidade e, portanto, cada aprendizagem, altera a nossa zona proximal. Isso significa que o professor pode se posicionar perante o aluno considerando que o desenvolvimento não aconteceu ou que a aprendizagem ainda está por vir" (SERRA, 2005, p. 45).

Percebe-se que Vygotsky valoriza o sócio-interacionismo através da mediação como forma de desenvolvimento e de aprendizagem por parte do sujeito.

Portanto, cabe tanto ao professor quanto ao psicopedagogo aprofundarem-se nos modelos teóricos de Piaget e de Vygotsky e fazer um bom uso dos mesmos a fim de tornar a escola e, mais especificamente, a sala de aula um lugar das transformações sociais em prol de uma sociedade mais digna e justa.

REFERÊNCIAS

CETEB/POSEAD- A construção do conhecimento. Brasília, 2007.

SERRA, Dayse Carla Gênero. Teorias e práticas da psicopedagogia institucional. Curitiba: IESDE, 2005.

Poesya
Enviado por Poesya em 16/08/2010
Reeditado em 10/03/2013
Código do texto: T2441048
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