PSICANÁLISE X INCONSCIENTE: METODOLOGIAS APLICADAS AO SABER PSICOPEDAGÓGICO
Ciência que utiliza o método investigativo para compreender e tratar conflitos imaginários como sonhos, delírios, esquecimentos – a Psicanálise – constitui uma ferramenta de suma importância para o campo da Psicopedagogia.
A psicanálise possui como objeto de estudo o inconsciente, que é o conjunto de conteúdos reprimidos pela consciência.
É impossível falar sobre essa ciência sem relacioná-la ao seu fundador, Sigmund Freud.
"Compreender a Psicanálise significa percorrer novamente o trajeto pessoal de Freud, desde a origem dessa ciência e durante grande parte de seu desenvolvimento. A relação entre autor e obra torna-se significativa quando descobrimos que grande parte de sua produção foi baseada em experiências pessoais, transcritas com rigor em várias de suas obras [...]. Compreender a Psicanálise significa, também, percorrer, no nível pessoal, a experiência inaugural de Freud e buscar 'descobrir' as regiões obscuras da vida psíquica, vencendo as resistências anteriores (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999, p.71)".
O pai da psicanálise, através de suas pesquisas, deixou um legado imprescindível às áreas da saúde e da educação. Uma das descobertas de Freud, que muito contribuiu para o processo educativo foi defender a existência da sexualidade infantil. Esta já se fazia presente, porém fora negada por outras ciências.
A sexualidade infantil, de acordo com seu mentor, foi dividida em fases e, em cada uma delas, a criança apresenta determinadas atitudes e descobertas.
Todo esse processo acontece concomitante com a entrada da criança na escola. Nesse espaço educacional ela vai conviver e relacionar-se com outras pessoas – professores, alunos, etc.
Então, é fundamental que o professor conheça a respeito da sexualidade infantil e, dessa forma, ajude os seus alunos, compreendendo-os no caso de surgirem dificuldades de aprendizagem relacionadas a esse fator.
Além do conteúdo mencionado no parágrafo anterior, Freud descobriu um outro aspecto vital sobre o desenvolvimento infantil – a Transferência.
Trata-se de um processo que traz à tona desejos inconscientes do passado para o contexto atual de forma a repetir os modelos infantis, em especial àqueles que estabelecem ligação com o triângulo edípico – os pais e a criança.
Assim, Silva (2006, p.4) aponta que:
"Na sala de aula, o aluno revive a relação original entre pais e filho transferindo para o professor todo o amor e/ou hostilidade que teve de abrir mão. O professor para cumprir seu papel enquanto tal precisa considerar os sentimentos transferenciais, sem corresponder a eles".
Diante desses fatos, percebe-se claramente o quanto a transferência desempenha papel de destaque para a educação e, em especial, à Psicopedagogia. É tomando conhecimento disso que o educador poderá entender melhor as atitudes de seus educandos no contexto da aprendizagem destes.
Conforme Silva (2006, p. 7), “Quanto mais o professor buscar se reconhecer no processo pedagógico, mais facilmente ele poderá lidar com as manifestações tranferenciais e contratransferenciais na sala de aula, possibilitando o crescimento dos alunos, bem como o seu próprio”.
Portanto, compreendendo o fenômeno da transferência, o profissional da educação terá condições de auxiliar, e muito, seus alunos a se tornarem pensadores ativos e/ou críticos na busca do conhecimento.
Não menos importante que as colocações e os esclarecimentos supracitados é o relato de Sigmund acerca da significação da brincadeira para a compreensão das dificuldades de aprendizagem.
"Para Freud, além da repetição, trata-se aí de uma condição específica estruturante do brincar: o “como se...”. Se a realidade é marcada pelo imperativo do “é assim”, a brincadeira é marcada pelo “como se” fosse assim. Reproduzindo a situação sob essa condição, cabe à criança o domínio da situação, diferentemente daquela originária, a qual teve que sofrer passivamente (Contribuições da psicanálise para o conhecimento psicopedagógico, 2007, p.26)".
Para a psicanálise, a brincadeira é um recurso que a criança utiliza para reproduzir de forma ativa uma situação conflitante e/ou dolorosa vivida na realidade.
"Winnicott (1975) considera assim o “brincar” como um mecanismo psicológico que garante ao sujeito manter, naquele instante, um distanciamento e, ao mesmo tempo, uma aproximação com a realidade. A criança brinca assim não somente para repetir situações satisfatórias, mas também para elaborar as que lhe foram traumáticas e dolorosas (Contribuições da psicanálise para o conhecimento psicopedagógico, 2007, p.26)".
É através da brincadeira que a criança tem a possibilidade de extravasar e/ou dominar sentimentos negativos como a raiva, o ciúme, que não poderia fazê-lo dentro da realidade propriamente dita.
Conclui-se, após essas explanações, que a psicanálise apresenta pressupostos teóricos relevantes e indispensáveis ao saber psicopedagógico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
CETEB/POSEAD - Contribuições da psicanálise para o conhecimento psicopedagógico. Brasília, 2007.
SILVA, Carla Sofia Rocha da. Relação Dinâmica Transferencial entre professor-aluno no ensino. Portugal, 2006.