A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO-INSTITUCIONAL
A Psicopedagogia é uma ciência que se ocupa em estudar o processo de ensino-aprendizagem do ser humano, bem como os fatores que impedem e /ou dificultam o ato de aprender do mesmo. Isso se dá de forma interdisciplinar, uma vez que a Psicopedagogia é uma ciência nova e, portanto, com a parte teórico-metodológica sendo construída.
Dessa forma, ela busca fundamentar-se através de outras áreas científicas, como a Pedagogia, Psicologia, Fonoaudiologia, Lingüística, Sociologia, Medicina, etc. Ela se preocupa com o ser aprendente*, bem como tudo que o circunda (família, sociedade, professores, escola) para desenvolver estratégias teóricas e práticas, que garantam a eficácia no processo de ensino-aprendizagem do mesmo.
Deve-se salientar que o termo empregado “ensino-aprendizagem” é indissolúvel, pois se existe um aprendente, há também um ensinante e, diante disso, o sucesso escolar só será possível, quando houver reciprocidade entre ambos. Conforme Neves (apud BOSSA, 2007, p. 21):
"A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta, as realidades interna e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos".
Ela possui dois campos de atuação: o institucional e o clínico.
No campo institucional, o psicopedagogo vai atuar de forma preventiva ou profilática, isto é, antes que os sintomas das dificuldades no processo de ensino-aprendizagem sejam considerados agravantes. Esse tratamento geralmente é feito com um grupo de alunos.
Ressalta-se que a Psicopedagogia Institucional se divide em três formas de atuação: a escolar, a empresarial e a hospitalar.
A Psicopedagogia Institucional Escolar, como o próprio nome diz, tem o seu enfoque voltado à escola. Significa dizer que busca ferramentas teórico-práticas conforme o surgimento das necessidades humanas, bem como as transformações – de ordem social, política, econômica, social e histórica – dos aprendentes , no intuito de garantir o sucesso escolar, e também diminuir ou sanar as dificuldades de aprendizagem dos mesmos por meio de uma intervenção criteriosa.
Segundo Serra (2005, p.6):
"O atendimento psicopedagógico institucional escolar ocorre normalmente na escola, em grupos, não necessariamente grupos compostos por alunos da mesma série ou da mesma idade, já que o objetivo desta atuação é o desenvolvimento das habilidades e competências, não o de conteúdos. Aprender conteúdos deve ser uma consequência da intervenção psicopedagógica. E não um objetivo direto deste trabalho".
Além disso, o psicopedagogo possui o compromisso de trabalhar em conjunto com os demais profissionais da área da educação para a elaboração de estratégias que possam prevenir o fracasso escolar, e dialogar com os pais a fim de que estes tenham uma participação efetiva na vida escolar dos filhos.
A atuação do psicopedagogo na empresa consiste em aprimorar o desempenho dos funcionários, elucidar dificuldades de adaptação profissional a novos cargos e/ou situações, etc.
Para Heloise Fogali (apud Bossa, 2007, p.87), o psicopedagogo vai “[...] trabalhando a criatividade e os diferentes caminhos para buscar saídas, desenvolvendo o imaginário, a função humanística e dos sentimentos na empresa, ao construir projetos e dialogar sobre eles”.
No hospital, o psicopedagogo orienta crianças e adolescentes que estejam internados por um período considerado longo, com o propósito de reduzir o déficit na aprendizagem causado pelo afastamento (involuntário) da escola. Este profissional vai, inclusive, auxiliar o paciente e a família deste a encarar a internação da forma menos traumática possível.
Conforme Porto (2008, p.50):
"Não somente o paciente, mas também os pais necessitarão da equipe de saúde para o devido esclarecimento sobre a doença, o tratamento e o possível tempo de internação, sendo este último um dos motivos mais sofridos e angustiosos por ambas as partes envolvidas; de tantas outras situações, mas particularmente nestas, que se fazem necessárias a presença e a atuação de um psicopedagogo, proporcionando ao enfermo e à sua família a devida e carinhosa acolhida [...]".
Já, no campo clínico, a atuação do psicopedagogo é terapêutica e/ou curativa, pois se considera que o aprendente está em um estágio acentuado de dificuldades de aprendizagem, o que inviabiliza o tratamento preventivo. Geralmente, esse tipo atendimento ocorre fora do ambiente escolar (em consultório), onde há coleta de dados para a avaliação psicopedagógica clínica de forma individualizada.
Para Bossa (2007, p.94):
"Ao se falar da forma de se operar na clínica psicopedagógica, vale recordar que ela varia entre os profissionais, a depender, por exemplo, da postura teórica adotada, além de haver o fato de que, como já haver dito, cada caso é um case – como se diria em inglês – com suas variantes, suas nuances, que diferenciam o sujeito, seu histórico, seu distúrbio".
Portanto, o que diferencia o campo institucional do clínico é que o primeiro mais consiste na prevenção, ao passo que o segundo, procura descobrir e “curar” os fatores que levam o sujeito a não aprender (quando as dificuldades persistem mesmo após a intervenção preventiva). É por isso que o tratamento clínico é individualizado, uma vez que o psicopedagogo vai observar o aprendente e utilizar as técnicas apropriadas através do diagnóstico.
*Termo utilizado por Alicia Fernández, psicopedagoga argentina.
Referências:
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
PORTO, Olívia. Psicopedagogia Hospitalar: intermediando a humanização na saúde. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
SERRA, Dayse Carla Gênero. Teorias e práticas da psicopedagogia institucional. Curitiba: IESDE, 2005.