Educar; ainda é preciso!

Este artigo escrevi por sugestão do "Carìssimo Escritor Marcio JR" aqui do Recanto, após ler o "Crianças trabalhando e tapas educativos" do escritor.

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Educar ainda é preciso!

Dois temas polêmicos propostos: “Crianças trabalhando e tapas educativos”, assuntos de grande importância social, contudo, podem ser tratados com equilíbrio de pensamento.

A legislação brasileira nos informa; “o trabalho infantil é considerado ilegal para crianças e adolescentes entre 5 e 13 anos, já para adolescentes entre 14 e 15 anos, o trabalho é legal desde que na condição de aprendiz.” Mas, podemos ter certeza: a realidade continua sendo bem diferente.

A realidade rural do nosso país é perversa com as crianças (também com jovens e adultos), um exemplo é o que vemos nas carvoarias brasileiras. O trabalho é degradante e posso até afirmar ser análogo ao trabalho escravo, e, os trabalhadores que enfrentam o dia-a-dia na dura rotina carvoeira na grande maioria são analfabetos, e foram explorados como trabalhadores infantis. Isto vem se sucedendo com seus pais e seus avós. E, sem uma política social com projetos sólidos entre governo federal e estadual tenho a certeza que esse ciclo degradante de trabalho inumano vai continuar com seus filhos e netos.

O que vemos como você tão bem escreveu em seu artigo; é que presenciamos dois pensares para a questão, enquanto crianças trabalham nas lavouras de cana, algodão, carvoarias, olarias, quebrando pedras, marcando para sempre o seu corpo e seu futuro, outras são disputadas para desfilar em passarelas ou colecionar papéis que nos levam a discutir; o quanto é pernicioso uma menina de apenas oito anos interpretar uma vilã em uma novela de horário nobre.

Caríssimo Márcio: como por anos e anos lecionei a noite não assisto novelas, mas, procuro estar por dentro dos fatos que envolvem este meio de entretendimento, tão questionável, a meu ver para a sociedade brasileira (isto é assunto para outro estudo). Pois bem, eu li um artigo no jornal “O Dia” em que dizia mais ou menos assim: “O autor da “tal novela” recebeu uma notificação, o alertando: "Nem todas as manifestações artísticas são passíveis de serem exercidas por crianças e adolescentes".

Procuradoras do Trabalho; Maria Vitória Sussekind Rocha e Danielle Cramer afirmam: "No caso em questão, uma criança de oito anos não tem discernimento e formação biopsicossocial para separar o que é realidade daquilo que é ficção. Isso sem contar com as eventuais manifestações de hostilidade que ela pode vir a sofrer por parte do público e não compreendê-las".

A UNICEF formalizou o “Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil (12 de junho)” a UNICEF se referiu com base em estimativas que o tráfico de “Seres Humanos” começa a aproximar-se do tráfico ilícito de armas e drogas. O dado não é preciso, mas estima-se que cerca de 1.2 milhões de crianças são traficadas por ano. Realidade sórdida que vivenciamos, não é mesmo?

Mas, vamos ao outro questionamento sobre os tapas que ensinam!

A maioria dos pesquisadores abomina as “palmadinhas” e vão além ao afirmar que elas provocam raiva e medo, portanto, não educam!

A educação começa desde o momento em que as crianças são pequeninas, e ensinar os limites é a função principal dos pais e educadores. As crianças se espelham no adulto e desta maneira elas distinguim o certo do que está errado. E entendem muito bem; quando erram e recebem a reprovação, e nos acertos a aprovação do adulto que as acompanham.

O educador (pai ou professor) esta investido no papel de autoridade para educar e formar o filho ou o seu aluno. Uma porcentagem desse trabalho formativo e educativo pode ser exercida através das correções. Se for tirada do educador a possibilidade de corrigir, finda a sua capacidade de educar.

O educador precisa mostrar para a criança o motivo da correção para que elas entendam a relação da causa e do efeito da sua má conduta gerar a punição (castigo). O castigo está incorporado na sua função educativa.

Se a palmada for necessária como último recurso de acabar com um hábito negativo que extrapola os limites da convivência ela deve ser dada com a mão aberta (sem uso de cinto ou chinelo).

Émile Chartier (1868-1951) um pensador francês mostrou a importância dos pais “educar”, e da escola “ensinar”. Cada qual no seu campo deve fazer bem a sua função. Os pais devem “educar” com firmeza, “mas não com pancadas”.

Em sua obra "Vigiar e Punir", Michel Foucault faz um amplo estudo sobre a disciplina na sociedade moderna, para Michel, "uma técnica de produção de corpos dóceis". Ele analisou os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exemplos da imposição, às pessoas, e padrões "normais" de conduta estabelecida pelas ciências sociais. O filósofo a partir desse trabalho explicitou a noção de que as formas de pensamento são também relações de poder, implicam a coerção e imposição.

Paulo Freire educador e filósofo brasileiro na sua pedagogia crítica. ensina: “Não há vida sem correção, sem retificação.” E em outro pensamento sabiamente nos explica: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”

Bibliografia:

1) Rede Social de Justiça e Direitos Humanos: Trabalho infantil no Brasil: dilemas e desafios (em português) (texto de Sven Hilbig, pesquisador da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos

2) "O que conhecemos sobre o trabalho infantil?" (em português) . Artigo de Ana Lúcia Kassouf publicado na revista Nova Economia, vol.17, n.2, 2007.

3) Foucault e a Educação, Alfredo Veiga-Neto, 160 págs., Ed. Autêntica,

4) Michel Foucault Vigiar e Punir Nascimento da Prisão Tradução de Raquel Ramalhete 29 Edição: Editora Vozes, Petrópolis 2004

5) BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998.