A ESCRITA QUE CONHEÇO
A ESCRITA QUE CONHEÇO
MÁRCIA MARIA SANTOS DA SILVA
NORLANGE SILVA RIOS
ORLANDO ALMEIDA PACHECO
RESUMO:
O presente artigo, vem apresentar a realidade de alunos que cursam a 2ª série do Ensino Fundamental em três escolas da rede municipal. Esses alunos têm pouca ou nenhuma chance de leitura fora da sala de aula, pois, os mesmos não têm incentivo por parte de seus pais que na maioria das vezes acham que o essencial é aprender a escrever, fazer conta e nada mais. Sabe-se que a leitura é grande parceira da escrita, e que grandes escritores são grandes leitores e vice-versa. As escolas onde foram feitas as produções textuais que citaremos no artigo não possuem biblioteca, com isso, dificulta muito o trabalho do professor e a aprendizagem dos alunos, que não tem o hábito de freqüentar a biblioteca municipal e com isso a leitura fica a desejar e por sua vez a escrita também.
Quando recebemos a tarefa em escrever este artigo, pensamos em vários caminhos para abordar os textos dos alunos da 2ª série do Centro Educacional Padre João Farias, Odilon Sena Cerqueira (Sede) e Centro de Educação Municipal Lagoa Danta, situado na Zona rural deste município. Primeiramente pensamos em fazer uma abordagem histórica do passado destes alunos, mostrando as suas idéias e avaliações das aprendizagens.
As escolas a que nos referimos apresentam um quadro desagradável ao educando, não oportunizando e/ou possibilitando ao desenvolvimento da leitura, da escrita, dos jogos e recreações, pois a sua estrutura física interna apresenta modelos do “fordismo”, do tipo “galpão”. Salas sem ventilação e escuras a ponto de ser necessário manter a iluminação artificial constantemente.
O Centro de Educação Municipal Lagoa Danta, apresenta uma decadência ainda pior. O prédio não tem energia elétrica, haja vista que a rede elétrica está a menos de 15 metros, sendo que, em dias nublados a luz natural é insuficiente para manter essas crianças em atividade, pois dificulta assim o seu aprendizado.
É necessário aos educandos o incentivo a leitura, mas para isso é preciso que as escolas possuam bibliotecas no seu interior, livros e materiais didáticos que também são molas de propulsão para alavancar o desenvolvimento das crianças, principalmente na escrita. Além desses aspectos vivenciados por essas crianças, muitas ainda se deparam com a questão familiar onde às vezes o apoio merecido e devido não é oferecido pelos pais. Sabe-se que muitos destes não tiveram a oportunidade de freqüentar uma escola ou até mesmo de saber como esta funciona. O que não justifica o descaso com a educação dos filhos.
A realidade vivenciada pelos nossos alunos ainda há certo distanciamento de uma família a outra. A aluna (J.A.S) tendo 10 anos de idade é bastante ativa, busca entender e acompanhar os ensinamentos da escola, faltando nas suas escritas à ligação das idéias, pois estas se apresentam soltas dentro do texto. Não podemos afirmar e tampouco negar que o seu desenvolvimento cognitivo seja de inteira responsabilidade dos pais. A sua genitora cursa a 7ª série no mesmo turno da filha, fazem as atividades sempre juntas adquirindo assim uma maior cumplicidade na busca dos conhecimentos e isso pode levar a um gosto maior pelos livros. O pai desta aluna é semi-analfabeto embora demonstre um empenho muito grande pela filha, para esta adquirir o conhecimento que ele não tem.
O aluno (I.A.N) no seu contexto apresenta dificuldades com relação à escrita e a leitura. Seus pais não tiveram a oportunidade de estudar o que naturalmente reflete na educação do filho. Razão pela qual o interesse, a participação e conseqüentemente a aprendizagem são bastante escassos no aluno. A família gera as influências nos diversos seguimentos na sociedade, e conviver com pais analfabetos não quer dizer que o aluno não desenvolva a sua intelectualidade, apenas esta ocorre de maneira mais lenta. Portanto a família deve estabelecer compromissos com o aprendizado.
Ao verificar os textos dos alunos (J.A.S; J.O.S; I.A.N) pudemos perceber nos seus escritos a quantidade de frases soltas, onde seria necessária a existência de uma pontuação. um outro fator para o qual eles não atentaram foram os parágrafos. Nota-se que a preocupação deles é escrever com legibilidade suficiente para que o seu professor decifre. Nesses momentos cada um quer fazer a sua produção esquecendo dos ensinamentos perfilados na escola, e passam a atropelar a concordância, coerência e coesão, pois sabemos que sem estes é impossível para alguém ler e entender a mensagem escrita. Cria-se assim o desconexo dos textos.
Percebemos que o texto escrito pela aluna (J.A.S) não forneceu elementos da idéia focalizadora do tema, faltando a ele a coesão textual. Mas a falta de um elemento no texto não vem descaracterizar a sua produção, sendo o bastante que possamos traduzir os símbolos. Nesta linha de pensamento Cagliari (1994: ? ) afirma:
“A escrita seja ela qual for tem como objetivo primeiro permitir a leitura; a leitura é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os símbolos escritos em fala”.
Ao produzir o texto (L) utilizou a imagem a ele apresentada e desenvolveu uma fábula com personagens distintos e presentes no seu cotidiano. Podemos verificar esta relação a partir do seu relato:
Nota-se pequenos deslizes nesta escrita. Sendo ele aluno de uma 2ª série e com pouca idade acreditamos na sua formação cultural bastante elevada e de um raciocínio lógico.
Um texto claro agradável e bem escrito é o que todos nós professores desejamos que os nossos alunos sejam capazes de produzir. Uma das maiores frustrações nessa disciplina (Língua Portuguesa), é perceber que os “erros” ortográficos se repetem constantemente. Portanto seria necessário que as escolas dispusessem de pequenas bibliotecas, onde os educandos pudessem pesquisar, ler bons livros que venham, a funcionar como um suporte, fornecendo assim algo novo para a produção de bons textos.
Dentre os textos analisados pode-se perceber erros ortográficos parciais, isso não significa que o aluno não tenha capacidade de escrever o que pensa. As redações foram feitas espontaneamente e, por conta disso, não nos prendemos muito aos erros ortográficos e sim a capacidade que a criança tem de escrever. Portanto afirmamos que, toda construção cultural que tem significados constituídos a partir de sistemas de códigos e convenções podem ser chamados de texto. Neste sentido Cagliari afirma ainda que:
“O controle das formas ortográficas é conveniente para fazer avaliações de massa nas classes, mas um desastre para ensinar alguém a escrever o que pensa. Isso não significa que o aluno não precise aprender a ortografia. É evidente que sim, mas na justa medida e no tempo oportuno” (CAGLIARI: 1994)
Dos textos analisados, um despertou à atenção de todos nós, pois se trata de um texto com cinco palavras e, foi transcrito pela aluna (J) com 15 anos de idade, e que tem deficiência fonética (não fala). Ela é uma aluna hiper ativa com uma sensibilidade aguçada. Acredita-se que o desenvolvimento dessa jovem não seja maior, devido à falta de informação da família, por morar no interior do município, com pouco ou nenhum grau de instrução. O que analisamos no seu texto apesar das poucas palavras é que a aluna o interpretou a sua maneira, demonstrando sentimento pela imagem vista. Seu texto foi transcrito da seguinte forma:
“Sol bonitos pato casa chuva”.
Assim pode-se dizer que a aluna (J) mesmo tendo uma deficiência, conseguiu do seu modo fazer a leitura da imagem apresentada. Conforme a descrição do texto relatado, Bakhtin afirma que:
“Um texto é a realidade imediata em que o pensamento e a experiência podem se constituir” acrescenta ainda mais “não há possibilidade ao homem e sua vida se não através de textos signicos criados ou por criar” (BAKHTIN. p. 11 in: SILVA Antonio de Siqueira, 2002)
De acordo a atividade e/ou situações as crianças cometem mais erros ao escrever. Observamos que embora consigam vencer certas dificuldades ortográficas, essas dificuldades são mais visíveis ao escrever textos espontâneos, pois para elas essa é uma das tarefas que envolvem muita “carga” do trabalho mental. Neste contexto citaremos frases do aluno (I.A.N.) 12 anos:
“A cachuera é muito boita (...) as pedra fica mito alergri”
O aluno (I.A.N.) ao descrever a imagem apresentada esqueceu de utilizar a pontuação a paragrafação, não apresentou a idéia central, pois aparecem frases soltas dificultando assim o entendimento central da sua idéia.
Para compreender melhor os textos dos nossos alunos foi preciso saber da sua realidade contextual. O aluno deve ter uma afinidade com a leitura, para que venha produzir textos com coesão e coerência. Sabe-se, porém que o aluno escreve com relação ao seu contato com a leitura, também é sabido que com o fim da decoreba as crianças podem estabelecer desde pequenas uma relação com a escrita. De acordo com Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1970) A criança estabelece, muito cedo, hipóteses em relação à escrita. Por isso é necessário compreender que as idéias do aluno evoluem e, assim, dar espaço para que ele produza e mostre o que já sabe.
Concluímos este trabalho devido à necessidade de uma pesquisa no campo da escrita e da oralidade, visando melhorar o desempenho dos alunos das escolas e que também é preciso que nós educadores estejamos juntos nesta tarefa de educar, buscando no dia-a-dia a melhora da escrita e da oralidade dos nossos alunos procurando incentivar os mesmos a ler mais, freqüentar a biblioteca, e conscientizar os pais que as crianças tem que ler bem para escrever bem.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
AVALIAÇÃO do rendimento escolar/ Clarilza Prado de Souza (org.) – 4ª edição – Campinas. SP: Papirus, 1995. (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico)
A LINGUAGEM e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento/Ana Luisa Smolka, Maria Cecília Rafael de Góes (orgs.) – 5ª ed. – Campinas, SP: Papirus, 1996. (Coleção magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
TEMAS Transversais & conteúdos normais: proposta prática de construção do conhecimento transversal: 1º ciclo / Tânia Dias Queiroz... [et al.]; coordenação pedagógica T6ania Dias Queiroz . – São Paulo: Didática Paulista 2000.
PRÁTICA da linguagem escrita e oral: língua portuguesa / Célia Passos, Zeneide Silva. – São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.
REVISTA nova escola, ano XVII, edição nº 154: São Paulo: Editora abril 2002.
FERREIRO, Emilia e ANA Teberosky. In: REVISTA nova escola, ano XVIII, edição nº 161: São Paulo: Editora abril 2003.
LINGUAGEM e vivência: língua portuguesa / Antônio de Siqueira e Silva, Rafael Bertolin, Tânia Amaral Oliveira. -- São Paulo: IBEP, 2001.