Ser professor: uma profissão em construção
SER PROFESSOR: UMA PROFISSÃO EM CONSTRUÇÃO
Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo*
Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de informação e comunicação incidem fortemente na escola e na formação dos professores, aumentando os desafios para torná-la uma conquista democrática efetiva. Transformar práticas e culturas tradicionais e burocratizadas através dos tempos na formação dos profissionais da educação não é tarefa fácil e nem tampouco simples.
O grande desafio que se coloca a nossa frente é encontrar saída que nos permitam trazer para a sala de aula dos cursos de formação de professores propostas educacionais que se afine com a legislação oficial desses novos tempos e do mesmo modo valorizem a formação dos profissionais do ensino escapando da racionalidade técnica que os considerava meros executores de decisões alheias, substituindo essas velhas praticas por uma metodologia que reconheça sua capacidade de agir na incerteza e decidir na urgência (PERRENOUD, 2000).
Entendendo que a democratização do ensino conforme pleiteia a Lei de Diretrizes e Bases da educação (LDB 9394/96), passa pela formação dos professores, por sua valorização profissional e por melhores condições de trabalho, pesquisadores têm defendido a importância do investimento no seu desenvolvimento profissional. Esse processo envolve a valorização da formação inicial e continuada, articulada, identitária e profissional.
Esse identidade profissional é epistemológica, ou seja, reconhece a docência como um campo de conhecimento especifico configurado em quatro grandes conjuntos, a saber: i) conteúdos especifico da área; ii)conteúdos didáticos-pedagogicos; iii) conteúdos ligados a saberes do cotidiano e, iiii) conteúdos ligados a explicitação do sentido da existência humana individual, com sensibilidade pessoal e social, destacando a docência como um campo especifico de intervenção profissional na prática social, conforme nos aponta Pimenta (2008).
Dessa forma, para os profissionais que integram a área de conhecimento da História, a substituição do currículo mínimo por um instrumento diferente é uma necessidade que se impunha a bastante tempo em virtude do baixo grau de profissionalização dos professores em exercício na escola básica e uma pratica de ensino-aprendizagem que contemplasse a pesquisa no exercício da docência.
Estas mudanças vieram também contemplar a aproximação entre bacharéis e licenciados, pois com a modernização da base legal a pesquisa tornar-se principio educativo e vem contribuir para uma construção identitaria do professor capaz de ter domínio da natureza do conhecimento histórico e das praticas essenciais a sua produção e difusão, suprindo demandas sociais relativas ao seu campo de conhecimento e aos setores culturais, políticos educacionais
Em nossa sala de aula na Universidade Federal do Maranhão, no exercício da docência do componente curricular Pratica de Ensino I temos colocado em pratica novas metodologias que se afina com a base legal da educação brasileira e com as exigências do mundo do trabalho objetivando contribuir para a construção de um profissional mais humano e integrado a uma sociedade onde a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão transformou-se em preceito constitucional e institucional.
Ao construir o Plano de Disciplina, optamos por uma abordagem reflexiva (Zcheiner, 1992), onde buscamos situar o licenciando nas múltiplas dimensões das experiências dos sujeitos históricos, bem como na constituição de diferentes relações de tempo e espaço, conforme as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação – área de História (PARECER N.º:CNE/CES 492/2001).
Tomando como referencia a legislação oficial dividimos a dimensão prática em módulos que contemplam:
1º Módulo - a leitura analise e interpretação da base legal da educação brasileira (Constituição Cidadã de 1988, LDB 9394/96, Diretrizes Curriculares de História, Parâmetros Curriculares da Educação Básica, Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e Médio, Lei 10.639/03 e Propostas Curriculares do Município e do Estado do Maranhão), objetivando situar o futuro professor (a) na realidade educacional brasileira e maranhense, bem instrumentaliza-lo no sentido de compreender o porque da necessidade de transformar as praticas de sala de aula de História na Educação Básica.
2º Módulo – objetivando contextualizar a base legal e as práticas docentes desenvolvemos seminários de textos explicativos do sistema nacional de educação, tratamos do planejamento educacional, do cotidiano escolar e da organização curricular, buscamos entendimento da avaliação nacional da educação brasileira como processo necessário para melhorar o ensino e incluímos sessões fílmicas e documentários ( Nenhum a menos, o Jarro, Escritores da Liberdade; Edgar Morin e o pensamento complexo, Gardner e as inteligências Multiplas) onde poder-se-á analisar experiências ficcionais ou reais de práticas educativas com base nas orientações advindas dos PCN’s.
3º Módulo – tratamos de contemplar a pesquisa como recurso educativo (DEMO,1998), utilizando a pedagogia de projetos para a montagem de uma proposta de intervenção afim de visitar e conhecer o cotidiano das escolas de Educação básica do Município de São Luis, o que pensam os gestores, educadores e alunos dessas escolas escolhidas aleatoriamente, sobre o ensino de História, como atuam os egressos do curso de História e qual suas expectativas em relação as mudanças oriundas da reforma educacional contemplada na legislação oficial, ou seja, procuramos levar nosso aluno a incursionar no campo da pesquisa com a base epistemológica do módulo anterior, demonstrando que o ato de pesquisar carece de conhecimento teórico 9relação teoria X pratica).
O retorno dessa atividade orientada com instrumentos de investigação educativa é coroado com uma oficina onde todos os alunos apresentam suas considerações a cerca da intervenção nas escolas aos seus pares, recebendo criticas e contribuições para a confecção de seu relatório de pesquisa, assim partindo do discurso da professora da cadeira sobre o cenário real da escola brasileira e maranhense agora eles possuem um feed-back construído por eles sobre o ambiente de exercício profissional dos mesmos no futuro bem próximo.
4º Módulo – nesse momento procuramos tratar do ensinar História tomando como referencia o livro das professoras Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli publicado pela Editora Scipione,2004, onde estão reunidas questões relativas a metodologia e prática do ensino de História, abordadas com base na produção historiográfica e nas propostas pedagógicas atuais. Organizada em forma de lições ou aulas o livro está estruturado em seções , onde contempla a teorização, o debate, as atividades praticas , o retorno ao debate para aprofundamento e por fim uma bibliografia comentada, enfim contribuições significativas para a tarefa de ensinar História. A metodologia utilizada para que todos conheçam a obra é de Seminários abertos onde em dupla os alunos se responsabilizam por cada temática contemplada no livro que vai desde a origem da disciplina História passando pela construção do fato histórico, noções de tempo, conceitos e fontes históricas até conceitos de historia oral, local, livro didático, cinema e musica como recursos para o ensino de Historia e a problemática da avaliação do ensino de Historia.
Acreditamos com essa metodologia construir em nossos alunos a consciência de que não existem verdades absolutas em matéria de História, que o bom historiador age como detetive, que o estudo do presente é o começo de tudo além do que trabalhar com a interdisciplinaridade amplia a visão dos alunos, pois eles captam informações, da mídia, dos livros, dos amigos, dos educadores em exercício, de suas andanças pela rua e levam para a sala de aula onde o professor ajuda-os a organizar essa coletânea de dos fragmentados por meio do dialogo, do debate e da critica, esse papel do professor é catalizador e agregador de particularidades, um verdadeiro quebra-cabeça onde as peças vão se encaixando, através de questionamentos, pesquisas confrontando versões oficiais e de rotina, para finalmente encontrar a sua melhor maneira de ensinar-aprender História.
Quanto à avaliação trabalhamos com o portfólio entendido como um dossiê, uma coleção organizada e devidamente planejada dos trabalhos produzidos pelo aluno ao longo do semestre letivo. Em nosso caso o mesmo é produzido a cada modulo contendo os trabalhos produzidos, sejam resumos das aulas expositivas, resenhas de textos, comentários de filmes ou documentários, analise da legislação oficial, trabalhos individuais ou de grupos de forma a proporcionar uma visão pormenorizada dos diferentes componentes tratados em sala de aula e desenvolver as habilidade redacionais e cognitivas do aluno (a).
Os trabalhos inseridos no portfólio devem trazer como anexos os documentos pertinentes bem como fotos, charges, diagramas, desenhos, todos datados de forma a fornecer informações progressivas da aprendizagem e experiências adquiridas pelo aluno. Para organiza-lo o aluno (a) será orientado (a) pela professora, pois em se tratando de uma atividade acadêmica deverá ter : índice, introdução, trabalhos desenvolvidos, comentários e ou reflexões que serão as considerações finais, deverá ser encadernado pois servirá de guia acadêmico na sua formação e profissionalização.
No portfólio será avaliado a sua organização, cuidados na seleção do material, correção e adequação dos processos e produtos apresentados, reflexão sobre os trabalhos desenvolvidos e sua evolução ao longo do semestre, afim de verificar as situações de melhor aprendizagem, descobrir áreas de interesse do aluno, perceber como o aluno se auto-avalia e avalia o professor, desenvolver seu espírito critico, capacidade autonomia nos estudos e crescimento individual e coletivo.
REFERENCIAS
BRASIL, Ministério de Educação. PARECER N.º:CNE/CES 492/2001.
DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
PERRENOUD, Phillippe. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
PIMENTA, Selma Garrido. Estágio Docência. São Paulo: Cortez, 2008.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São PAULO: Scipione, 2004.
SHORES, Elizabeth e GRACE, Cathy. Manual de Portfólio: um guia passo para passo para o professor. Porto Alegre: ArtMed, 2001.
Zcheiner, Ken. Novos Caminhos para o Practicum: Uma Perspectiva para os Anos 90. In Nóvoa, A. (Coord.). Os Professores e a sua Formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote/Instituto de Inovação Educacional,1992.