A greve dos professores em 2010
Na terça-feira do dia 25 de maio deste ano, os professores em assembléia decidiram por colocar fim à greve que já ultrapassava 46 dias. O movimento, mais do que justo, previa um reajuste no piso salarial da categoria que é de R$ 850. Os professores estaduais reivindicavam R$ 1.312,85 para o período de 24 horas de trabalho. Parece até brincadeira, mas a greve terminou em torno de negociações enclausuradas diante da onda de judicialização e criminalização dos movimentos de trabalhadores.
O movimento reivindicatório, iniciado em 08 de abril, na realidade não parou todas as escolas do estado, tampouco os professores. Muitas escolas continuaram funcionando e muitos docentes não optaram pelo movimento por medo ou por estarem enganados com as reais condições de trabalho. Difícil encontrar professores satisfeitos com um salário destes e, mais difícil ainda saber que no judiciário e no executivo (como é o caso da Polícia Militar) os aumentos salariais tem sido contínuos. De duas uma: (1) ou o Estado tem medo dos policiais e dos agentes do judiciário, os quais andam a apoiar o Governo do Estado ou, (2) a educação é coisa de segundo plano em tempos de choque de gestão no meio das montanhas que recebem estradas e avenidas gigantescas. A questão é problemática mesmo.
No final da década de 70 e no decênio de 80, professores apanharam da polícia e tomaram banho do então governador Newton Cardoso. De lá para cá, muitos de nossos colegas se transformaram em autoridades e políticos de prestígio. Porém, estes mesmos colegas não nutrem a mesma galhardia pela luta salarial e melhores condições de trabalho como é perceptível nas categorias mencionadas. A disparidade salarial é notória e tudo indica que os professores não conseguem ter a mesma força de outrora. Isso significa que fazer greve é estar próximo da ilegalidade. É pensar que junto aos interesses estão somente os do campo da política ou que as lideranças sofrem devido às “intrigas da oposição”. As condições de trabalho dos professores do estado (municipal e estadual) são vergonhosas chegando a ser ridículo os acordos de produtividade e resultados. Se o básico ainda está a desejar o que esperar de metas mais complexas? Em tais casos lembro-me sempre das acertadas palavras de Paulo Freire no seu já conhecido “Pedagogia da autonomia” (São Paulo: Ed. Paz e Terra, p. 96), “o respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da Educação”. O movimento dos professores, no mínimo, aponta para uma indecência no trato com a categoria. Há tempos as escolas andam degradadas, professores adoecem aos montes e alunos e pais andam denunciando, processando e ameaçando os docentes. Tenho comentado sobre a silenciosa crise na educação, mas tais fatos parecem sintomas que não merecem atenção. Um perigo em longo prazo.
Durante o movimento dos trabalhadores da educação as lideranças enfrentaram o executivo e o judiciário. No término da greve ficou condicionado o “pedido” de suspensão da liminar judicial que determinou multa de R$ 30 mil por dia de greve. Para os professores, sem o poder da lei e da arma, talvez poucos reais fossem o suficiente para acabar com o movimento. Os docentes (por paradoxal que possa parecer), nos dias de hoje se movimentam com medo. Um medo difuso, envergonhado e doentio que lhes impedem de exercer, falar ou se vangloriar da profissão.
De todo modo, a greve terminou com a possibilidade do Governo do Estado em negociar ante a formação de uma comissão que fará um estudo para viabilizar mudanças nos vencimentos básicos do professorado. Além disso, ficou acordado - após as ameaças de demissão e contratação de substitutos - a reposição dos dias parados, a não punição (o famoso corte de salários) e a demissão dos grevistas.