A Maturidade Mental (Final)
“O poder da razão é o poder de extrair conseqüências lógicas: de similaridade e diferença, de causa e efeito, de relações de tempo e espaço, de quantidade e qualidade, do subjetivo e do objetivo, de importância e de não-importância. A mente humana tem, como um dos potenciais únicos a capacidade de perceber tais conseqüências lógicas. Caso se desenvolva de maneira saudável, da infância à meninice, e daí para a vida adulta, esta capacidade se transforma numa ferramenta cada vez mais adequadamente desenvolvida para bom emprego.
... Como a maioria das pessoas chega à idade adulta trazendo consigo várias razões inconscientes para não desejar a maturidade, prestam apenas ouvidos relutantes à voz da razão; e o dom de uma cocepção, oferecida pelo maior dos gregos, e por outras mentes, através dos séculos, tem sido amiúde mais rejeitado do que bem acolhido.
... As mais recentes das grandes concepções que convidaram o homem à maturidade, advieram com o desenvolvimento da ciência. O método científico não é comumente considerado como visão interior da natureza humana; mas, em essência, é o que é. Trata-se de uma expressão sistematizada do fato de que o homem é uma espécie capaz de transcender suas próprias limitações dos sentidos e de subjetividade.” Este excelente livro, depois de analisar com profundidade as causas da imaturidade das nossas instituições: lar, escola, governos, mídia, etc., conclui no sentido de nos sugerir o que poderíamos fazer a respeito dessa maturidade. Assim, na conclusão, prossegue o autor do livro:
... “ É uma boa notícia a de que a nossa vida possa crescer em poderes e venturas à medida que se liga a outras vidas que não a nossa: através do conhecimento deliberado, da responsabilidade, da graça e da clareza das palavras, através do sentimento empático, do entendimento sexual e da apreensão filosófica. É boa nova que não haja para nós estrada predestinada ao tédio adulto- nenhum predestino “amortecimento do cérebro”.
... “ A vida adulta, em suma, é o período significativo, no sentido do qual se encaminha a vida. A educação nos anos adultos deveria, pois, pelo direito, ser mais do que um simples acréscimo a este ou àquele curso, destinado a manter a mente ocupada e a reduzir o tédio. Deveria ser o tipo de educação que dispõe a fazer algo notável: tomar-nos como adultos, nesta nova fase de nossa vida, e ajudar-nos a ir além das rotinas de uma vida adulta mal acabada, para as surpresas criadoras de uma vida adulta verdadeiramente em maturação. Por ora ainda não temos essa educação. Mas há bons começos. ... Em primeiro lugar, poderiam concordar os adultos em que, tendo avançado além da infância e da adolescência, necessitam agora ver a si próprios com os olhos da maturidade. Pela primeira vez em sua vida, possuem esta visão desenvolvida. Precisam, por conseqüência, encarar a si mesmos, e fazer de si uma apreciação madura. Isto poderia ser aceito como o seu primeiro projeto adulto. Podemos imaginá-los pedindo a vinda de peritos, que lhes dessem acesso ao novo conhecimento sobre a mente e o caráter humano- psicólogos, psiquiatras, médicos, antropólogos e sociólogos. Não falariam disso como um “curso” de psicologia, mas, antes, como uma tentativa adulta de autocompreensão. Veriam uma segunda coisa que seria necessário fazer. Agora, pela primeira vez, poderiam remontar às suas vidas, e fazer uma apreciação dos meios pelos quais foram criados e educados. Com a sua nova compreensão, poderiam começar a avaliar o bem e o mal, a sabedoria ou a tolice, do que lhe fora feito em casa, na escola, no colégio e alhures. Estariam,portanto, em situação de julgar, com uma nova sabedoria, como as vidas jovens deveriam ser cultivadas. ... Desejariam fazer pesquisas no ambiente particular que estaria dando forma talvez mal – às suas próprias vidas, às de seus filhos e de seus semelhantes. Desejariam encarar de maneira franca e inteligente a sua comunidade. Quereriam, então, fazer a difícil aproximação com o grande mundo – o da nação e o das muitas nações e povos. ... Mas aprender seria apenas o início. Desejariam por em prática o aprendido. Em primeiro lugar, a prática de criar. Em segundo lugar, a prática da obrigação. Quereriam ,então, cada qual por sua conta, ou em camaradagem, empreender algum projeto pela melhoria humana, algum meio de trazer maior cota de juízo para o cenário humano. Em terceiro lugar, a prática da pesquisa. A maioria dos adultos permanece apenas adulto porque nunca vai além da superfície das coisas. Adquirem o hábito de mentalidade superficial, com opiniões de superfície que se transformam em dogmatismo de superfície. ...Em quarto lugar, a prática da sociabilidade e da diversão. Aprendendo juntos, gostariam do sentimento de reunião. ... Uma tal comunidade de adultos, fazendo um esforço deliberado no sentido de penetrar na plena dignidade da vida adulta, talvez jamais exista no mundo. Nesse caso, é pena. ... O meio verdadeiro de pensar na vida adulta é concebê-la como uma fase da vida com uma significação que nenhuma outra possui. A vida adulta é o tempo de por em vigor uma sabedoria sobre a vida, que a infância e a juventude são incapazes sequer de possuir.
... Onde não há visão, somos informados, o povo perece. Onde não há maturidade, também não há visão. Começamos agora a inteirarmo-nos disto. Percebemos que os males de nossa vida provêm não de um mal profundo dentro de nós, mas de reações retardadas em relação à vida. Nossa obrigação é,portanto, de crescer. Isto é o que o tempo exige de nós. Isto é o que pode ser ainda a nossa salvação.”