Maçonaria: Governo e Pátria

      
Em 07 de setembro próximo comemoramos mais um aniversário de nossa independência política em relação a Portugal. E é inspirado em tal evento que proponho-me, neste texto, tecer opinião sobre a contraposição dos conceitos de “governo” e “pátria”, em específico, evidentemente, ao caso brasileiro.
       Primeiro, vejamos o que cabe entender por “governo” . Temos que notar que tal palavra tem um sentido amplo, pois refere-se a diferentes níveis hierárquicos de administração pública, sendo eles o municipal , o estadual e o federal, e que, por seu lado, atuam divididos em três outras ordens de poderes : o executivo, o legislativo e o judiciário.   
       Ora, isto dito fica claro que “governo” está associado a administrar. Então, cabem-nos as perguntas: “mas quem administra?” e “ por que este alguém administra?”. E a resposta é a seguinte : três tipos básicos exercem tal administração: o funcionário público de carreira (portanto, concursado), os políticos eleitos e os tais cargos de confiança preenchidos por indicação destes últimos.
       Entretanto, embora a administração seja exercida por estes grupos, o fato é que o grupo eleito é quem determina o direcionamento da administração, ou seja, supõe-se que no estado democrático a representatividade dos eleitos seja capaz de estar em comunhão com os anseios dos seus eleitores. Algo meio que simples na teoria, mas que parece tão difícil na prática, pois afinal o que se espera de quem governa?  Saúde, segurança, educação, habitação, alimentação... coisas que estão escritas na “Constituição”.
       É claro que não se deve esperar um paternalismo que tudo faça por nós, não. Ao “governo” cabe arrecadar e converter em serviços aos cidadãos. Sim, é este o nome que o contribuinte recebe nas obrigações do governo, que não é uma espécie de “Robin Hood” , mas tem lá suas afinidades. Assim é que deve utilizar os recursos visando reduzir as diferenças sociais, proporcionando qualidade de vida aos seus cidadãos.
        Tão simples, e tão difícil, pois que nos últimos anos o que vemos é uma verdadeira fúria arrecadatória, que talvez se fosse acompanhada de igual ímpeto pelo prestador de serviços não haveria razões para reclamar. Mas não, ao que parece a relação ocorre no sentido inverso. Retira-se cada vez mais da sociedade, para devolver-lhe cada vez menos, visando apenas pagar “juros” aos banqueiros internacionais que na prática parecem, por vezes, patrões dos nossos governantes, seus meros serviçais e, é claro, para sustentar a própria máquina do estado. Basta informar-se para perceber as distorções nababescas que existem neste setor.
       A direção do governo pode ser observada ao concluirmos que boa parte da economia está quebrada enquanto uma elite financeiro-bancária, associada a outra que é mais que produtiva, encastela-se na sua força de mercado oligopolizado azeitado por uma política pró-exportação que resulta numa progressiva concentração do capital, que aniquila a possibilidade reguladora da concorrência de mercado. Por detrás disto tudo uma elite política encastelada em privilégios. São os mesmos sujeitos que há tanto tempo têm discursos diferentes, mas na prática são todos iguais, e de outro lado uma classe média decadente, e um classe operária cada vez mais marginalizada : nem saúde, nem segurança....muito papo furado, muito marketing, este grande milagre que deu status cientifico à hipocrisia e à dissimulação dos oportunistas que vêem a vida pública não como meio de servir, mas de servir-se.
       Vejamos agora a segunda palavra : “pátria”. Eis algo um tanto abstrato, distante dos trâmites burocráticos, mas que ao vermos a bandeira verde-amarela a tremular, nos emociona, nos faz sonhar, nos eleva, faz-nos sentir que em algum lugar estamos acima da massacrante mediocridade com que nos brinda a realidade do dia a dia.
       Eis-nos vibrantes ao vencermos no futebol, de alma lavada na época em que Senna dava a volta com nossa bandeira pelos autódromos do mundo, como se neste momento disséssemos ao mundo que por mais que nos façam menores, ainda assim temos uma secreta grandeza que só os grandes povos têm.
        Pátria é a cultura, é o jeito de ser, é mesclar de estados que mais parecem nações diferentes, mas que mostram-se unidos pelo “Cruzeiro do Sul”.
       Pátria é tesouro oculto, é como se fosse um pacto, uma promessa do Divino, como se de alguma forma neste Brasil fôssemos errantes israelitas do passado em busca da sua terra prometida. De alguma forma eis-nos em nossa terra, mas ainda errantes.
       Falta-nos uma direção, falta-nos uma verdadeira liderança, alguém que ame na mesma proporção de uma razão ética aos seus irmãos eleitores. Pátria é antes desejo, mas de tão distante pode, com o passar dos anos, perder-se em utopia. E eis assim que a Pátria que podia ser sorriso e confraternização transforma-se em tristeza e em confrontos diários que mais parecem com uma guerra civil.
       Eis o governo e a Pátria: e nós, maçons, que temos a dizer sobre isto?
       O maçom é homem de ação que espiritualiza-se na prática diária da virtude. Ao maçom cabe a ação da evolução dos indignados que respeitam os governos, mas não se conformam com a tortura e a pouca lisura com que se vem tratando a Pátria. E é só.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 04/09/2009
Reeditado em 04/09/2009
Código do texto: T1792236
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