Maçonaria: Os Limites da Lealdade
 
Em princípio, lealdade significa dedicação e fidelidade a algo, o que por sua vez pode ser feito através da palavra, pela ação ou por ambas juntas.
Pode atender à convicção nascida da consciência superior ou interesse visando a atender as conveniências pessoais. Embora um substantivo abstrato, pode ser verificado em diferentes níveis de graduação. De forma que o egoísta somente é leal a si mesmo que, corruptível, é leal às suas próprias necessidades.
Servo ou escravo de outrem é o leal por imposição. E é servil o leal pelo medo, assim como heróico o leal a um ideal de grupo e, santo, o leal a Deus.
De modo geral, tal graduação não é excludente, ou seja, o mesmo indivíduo poderá experimentar vários graus durante a vida, sublimando-os ou simplesmente convivendo com eles com maior ou menor dedicação.
Entendo essa graduação como sinal evolutivo, de modo que o homem mais primitivo só consegue ser leal a si, enquanto que aquele que, pela experiência viveu diferentes situações, consegue ser leal a objetivos maiores e com implicações coletivas mais amplas.
De fato, a lealdade denuncia o nível de amor que um indivíduo traz dentro de si. Uns estão aptos apenas amar a si mesmo. Outros, já amadurecidos em espírito, já amam a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ele mesmo. Um é escravo do ego, o outro pleiteia a filiação do único Pai.
A lealdade não é característica exclusiva humana, também os animais a demonstram em menor ou maior grau a seus donos.
 É sagrado o despertar da afeição, que mostra-se em maior grau nos cães, daí o termo “lealdade canina” que, se ao animal o eleva perante os outros, aos homens, de fato, o rebaixa, pois o cão é leal, mas não tem princípios éticos ou morais.
 Se o dono for bom, será ensinado a fazer coisas boas; se for ruim, fará coisas ruins: não tem consciência própria, mas apenas obedece ao mando, é capaz de matar ou morrer pelo dono, se bem que, mesmo nos cães, existem os que são adestrados pelo afeto e os que são ensinados pelo castigo.
Após este parecer resumido, o que verificamos é que a lealdade maçônica é a mais sublime das lealdades, pois acima de tudo está o fato de ser leal a Deus, depois ser leal ao ideal maçônico, que é constituído pela união das revelações divinas com o que existe de superior na sabedoria humana. Daí ser ético e moral, daí aprofundar os bons costumes do profano que um dia iniciou-se maçom. É claro que é mais simples falar e pensar e que existe a hipocrisia para dissimular a ação. Sempre existirão os soberbos nas palavras, mas miseráveis nas ações. Cabe ao maçom, sendo leal a Deus e a princípios elevados, ser leal àqueles que também o são, pois estão ligados por causa comum, sendo, portanto, irmãos não apenas pela origem divina, mas por convicção e ação.
Supõe-se, assim, que sendo maçom a ação de um indivíduo deverá seguir tal orientação. De forma que estando um irmão em situação por defender de forma limpa e justa tais convicções deverá receber o apoio e a defesa dos outros. Entretanto, não caberá auxílio dos outros irmãos àquele que contraria com sua atitude o que é maçônico, aquele que despreza o que é sublime à ordem. Pode receber o auxílio piedoso da compaixão caritativa, mas nunca a ajuda fraterna do irmão que ombreia o outro irmão.
Pode o maçom ser leal a outro homem desde que este esteja a representar ideal maior e de acordo com os princípios maçônicos. Já quanto àqueles que o fazem apenas para autossuprirem os próprios interesses, em verdade ainda não são livres, pois mesmo não sendo escravos ou servos alienam a mais sagrada das liberdades: o templo de Deus dentro de cada um, que é a própria consciência.
De fato, só não se incomoda ante aos erros aqueles que, infelizmente, ainda não a têm.
Concluindo, se existe beleza na lealdade é essencial aprendermos a avaliar a que somos leais, pois é no diferenciar o que merece lealdade e o que atende unicamente às conveniências da vida efêmera é que alimentamos o espírito para a eternidade e passamos a agir como verdadeiros maçons no cotidiano.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 22/04/2009
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