Educação em conflito ou conflito na educação?

Quantas “Isabelas”, “Eloás” ou “Racheis” precisarão rechear a mídia para que se perceba a dimensão do problema? Quantas crianças mais terão sua vida dilacerada pelo ódio, pela cobiça, pela violência pura para que percebamos, enquanto sociedade, que estamos doentes, que estamos carentes, que precisamos de ajuda?

Como educadora, percebo que há muitas entrelinhas nesse discurso. É cada vez mais difícil termos uma turma de alunos considerados “sem problemas”, com família estruturada. Se em minha década encontrava-se meia dúzia de crianças difíceis em cada classe, hoje, a situação é exatamente o avesso: meia dúzia, quando há, são os que não apresentam dificuldades de aprendizagem. E isso, infelizmente, é fácil de explicar. Sabe-se que pais que usaram álcool, tabaco, drogas ilícitas apresentam filhos com maior dificuldade de aprender e encontram em casa um pai/padrasto ou mãe/madrasta que não consegue acompanhá-los pelo déficit educacional que eles mesmos apresentam pela vida desregrada ou, pior, nem vocação para ter filhos possuem e os tratam como mini-adultos, que a tudo assistem e tudo sabem, menos a tabuada e o verbo amar. E isso é só o começo.

Essas crianças crescem, terminam o ensino fundamental empurrados. Como não encontram na família e na educação o alicerce, buscam-no no dinheiro fácil e rápido: droga – armas – crime. Aí, os que um dia foram crianças que não conseguiram aprender porque a genética e o meio em que vivem não ajudou, acabam atacando crianças que hoje, nessa mesma situação, ainda têm família que tenta resgatá-las do vil mundo, e as destroem, como que na desforra de um criança que diz ao amiguinho ao destruir seu brinquedo: “bem feito, eu não tenho e tu também não”.

Então, círculo vicioso já se fechou há tempos. Nossas crianças, fruto do acaso, estão se tornando homens em cujo acaso não acreditam e matam, ferem, agridem a sociedade que já os agrediu desde a infância, tirando-lhes a oportunidade de uma família de valores. E na escola, professores com cara de dúvida se questionam a todo momento sobre como fazer, o que fazer e com quem fazer com o aluno, com a pseudo-família, com a vida? Aí, sobra somente a Deus o enigma de como deixarmos de enviar a Ele “Isabelas”, “Eloás” e “Racheis” sem culpa, mas condenadas por uma sociedade carente de resolutibilidade para suas próprias mazelas.