COMUNICAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Trabalhar o conceito de modernidade é também, trabalhar com uma época recente, ou seja, aquilo que é atual a vivência de um período de disparidade em relação ao passado. Assim, neste tirocínio, pretendemos esboçar um pouco do que vem ser a comunicação nestes tempos de giro tecnológico.

A sociedade contemporânea está inserida num contexto onde a tecnologia invade a vida das pessoas diariamente, seja em casa, no trabalho, no shopping, na rua ou em qualquer outro lugar; deparamo-nos vigiados e instrumentalizados por aparelhos tecnológicos. As pessoas já não conseguem viver sem instrumentos avançados de comunicação, informação e outros. Apesar de muito se debater no Brasil sobre a exclusão digital, nos deparamos com um maquinário de auto-atendimentos em diversos setores de prestação de serviço, vão desde os bancos até serviços judiciários, perpassam os rádios de pilha e dão asas no mundo "globalizado" da internet. E como podemos pensar a interação de máquinas inteligente com a humanidade?

Não precisamos estar nos grandes centros para vivenciar esta interação. A simples rotina de pegar um ônibus ou barca para ir ao trabalho envolve uma interação direta com a máquina. No caso do ônibus ainda temos contato com o trocador, mas em barcas, metrôs e trens nosso contato é direto com a máquina.

Estas máquinas deveriam ser instrumentos para propiciar uma existência digna, confortável a humanidade, no entanto, como Pucci (in Vaidergom & Bertoni, 2003) atesta, elas acabaram tendo vida própria. “Geraram homens frios, turbinados pelos motores das possantes máquinas, impulsionados ao infinito pela velocidade das informações, navegantes indefesos pelos mares agitados e sedutores da internet”.

Segundo Nietzsche a finalidade da cultura seria domesticar a besta humana, assim, fazer dela um animal manso e civilizado. No entanto, o referido filósofo, reconhece que na modernidade há outro niilismo, o reativo, onde os valores divinos são transferidos para a esfera do humano . Se no começo da modernidade viu-se a queda de Deus e a eleição da ciência como o fundamento para tudo, hoje, há uma inconstância. A crença em Deus e na ciência se alternam. A ciência também está no campo da crença, quase uma religião. O homem se depara com tantas mudanças ocorridas em átimos, avanços dantes incalculáveis e ao mesmo tempo se vê aquilo que Paulo Freire já dizia a aberração da miséria na fartura.

Um grande aparato desta realidade são os meios de comunicação. A grande mídia trabalha com a venda de fantasias, diz a todo o momento: "você pode você faz do seu jeito", "você compra o que você quer". Isso perpassa as novelas do Manuel Carlos e cai no campo das propagandas. Um comercial interessante para ser analisado é a da loja de vestiário da Renner, onde trabalha em sua campanha de vendas: “você tem um estilo, a Renner tem todos”. Marca a falsa liberdade do indivíduo, onde lhe vende um estilo, ou seja, apesar de favorecer uma suposta identidade do sujeito, este tem que estar enquadrado em um perfil de roupas, de crenças, de gostos culturais. Esse direito a escolha, seja da cor do carro, das roupas que vai usar ao até mesmo em ter pasta de dente que protege a boca de 12 bactérias diferentes , transmite ao homem a falsa idéia dele estar no comando.

Uma das formas mais atuais de programas televisivos que as pessoas pensam interferir são os Realitys Shows, há uma aleivosia na idéia de que o telespectador está direcionando o final da história. Um exemplo é o quadro no Domingão do Faustão chamado Dança dos Famosos, os júris votam, o telespectador vota via telefone, e-mail e serviço de SMS e o programa passa a imagem de que “você decide” quem irá ganhar a competição. Sendo que o tempo todo está sendo direcionado, pelos artifícios da edição a estarem votando num determinado casal. O mais alarmante nisso é o porquê as pessoas gastam seu tempo e dinheiro exercendo uma função de poder ilusória?

A mídia dita às regras, uma vez que dita valores, modas, cardápios. Estamos destinados a perder a identidade ou viver assumindo varias identidades impostas pelo sistema?

Como podemos perceber a televisão é um meio de comunicação com enorme poder de manipulação das informações e de condução à hábitos de consumo. Recorrendo a Guattari, poderíamos dizer que a mídia de massa age na subjetividade de forma maquínica. A grande mídia com suas atividades/programações não permite ao consumidor/espectador refletir. Uma banalização do humano é expresso a todo instante nas mercadorias expostas. Num pensamento marxista podemos ver nitidamente que o valor de toda mercadoria é o trabalho abstrato, sendo o trabalho alienado da sociedade burguesa.Vivemos doutrinados a sermos felizes, o mundo moderno educa os institos e mesmo quando passam a idéia de liberdade e felicidade te prendem a necessidade de fazer escolhas, de pertencer a "um estilo". Para exemplificar utilizarei uma propaganda da Coca Cola de 2006 que enfatiza: “Coca Cola todos juntos, loucos pelo Brasil na Copa do Mundo!” . Trabalham imagens de pessoas, objetos, comidas, animais etc. embalados por uma trilha sonora que demonstra tudo e todos unidos pelo Brasil, o interessante desta propaganda é a idéias que todas as pessoas, objetos etc. estão mais unidos ainda pela Coca Cola, uma vez que, é utilizado mãos - através do recurso de animação – onde todos os personagens seguram o refrigerante, mas a maioria dos personagens não tem camisa ou outro ornamento que remeta às cores do Brasil, me redimindo do espírito nacionalista que a história mostra que fomenta guerras, mas que no contexto do comercial remete a marca como sendo algo que não tem fronteiras. Vivemos numa sociedade de consumo, isto é fato, muitas vezes compramos mais do que precisamos e isso ocorre porque a busca pelo prazer converteu-se em dever. Se para Freud havia culturas edificadas sobre a repressão e a renúncia pela pulsão, hoje podemos questionar se os meios de comunicação trabalham diretamente no superego de forma que este não aja mais como repressor e sim favoreça a falsa liberdade que o homem moderno está livre para fazer escolhas .

As rádios comerciais também influenciam de maneira siginificativa nesta alienação, isso ocorre, também, devido as gravadoras manipularem a programação musical da rádio. Bom exemplo disto é o típico “jabá” ocasionada pelas “10 mais do ouvinte”, em que estes acreditam que são as músicas mais ouvidas, e de tanto estas músicas tocarem nas rádios acabam sendo assimiladas e caem no gosto do povo.

Pensar numa Rádio Comunitária é pensar como um dos personagens do filme “Uma onda no ar” disse na cena onde está com seus amigos após uma ação da policia, “a gente precisa de uma rádio para a gente falar o que a gente quiser para todo mundo escutar, uma rádio da gente”. Montar uma rádio comunitária proporciona uma alternativa aos meios de comunicação existente. Faz alavancar a união e prestação de serviços nas comunidades, aumenta a gama de programas oferecidos, oferece oportunidade para os artista locais, serve como arma de proteção contra as bábaries ocasionadas pela violência policial, contribui para dá voz aos excluídos.

No entanto, vemos no próprio movimento de Rádios Comunitárias uma grande contradição diante de seus fins estipulados pelo Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998 . Segundo pesquisa do Projor (Instituto Para o Desenvolvimento do Jornalismo), de 2.205 rádios comunitárias 50.2% delas têm vínculos políticos.

Assim, podemos perceber que no Rio de Janeiro muitas das Rádios Comunitárias legalizadas estão servindo como instrumento de barganha política.

A mídia impressa tem grande importância na formação de opinião do sujeito, relata acontecimentos considerados dignos de evidência e divulgação. O jornal é o “carro chefe” da mídia impressa por ser mais acessível financeiramente.

A qualidade de informações dos jornais oferecidos a grande parte da população, não é o exemplo de mecanismo de informação coerente e precisa. O que vemos são jornais vendidos no valor de R$0,50 que dão meias-notícias, contribuindo para o processo de alienação das massas.

A mídia impressa é utilizada por algumas associações e organizações como forma de resistência. Exemplos disso são os jornais o “Papo Reto” - Frente de Luta Popular – e “O Cidadão” – Jornal do bairro da Maré e outros, que são mecanismo de fazer circular uma informação que seja comprometida com a comunidade. Uma forma de resistência aos mecanismos das grandes mídias.

A relação mal compreendida entre comunicação e educação é tema constante, seja na própria mídia, seja nos debates educativos e seus processos. Geralmente o tema é focado sob dois aspectos principais: a contribuição do impacto das novas tecnologias midiáticas para a didática da sala de aula, ou então o discurso de “demonização” da internet, atribuindo responsabilidade a ela pelo estímulo à violência, à erotização da infância e a uma série de outros comportamentos considerados “socialmente inadequados” .

Não podemos negar a importância da internet para a sociedade e a sua contribuição no campo educacional. Todavia, nos deparamos com um instrumento que apesar de acelerar o processo de comunicação, também inibi a relação social humana uma vez que estamos sendo conduzido cada vez mais a comprar, pagar, assistir filmes, fazer trabalhos, conferências, enfim se relacionar no campo virtual.

As crianças já aprendem desde cedo a ter domínio das tecnologias, se numa outrora não tão distante tivemos a “febre” do games portáteis no momento temos a “febre” dos computadores. As crianças são seduzidas pelos Note Books infantis temáticos – Xuxa, Homem Aranha e outros – ainda devemos contabilizar o uso de computadores ligados à internet no qual fazem uso em suas residências, em Lan House ou em salas de informática das escolas.

A Internet produz a idéia de mídia com frincha, descentralizada; é um espaço “aberto” cujo ser humano também faz de sua vida um “livro aberto”, ou como em alguns casos assumem outra vida, um personagem, os fakes.

Salas de bate-papo, blogs, sites de relacionamento e outros transmitem ao homem o gosto de liberdade. Liberdade de expor suas obras, liberdade de baixar músicas, liberdade de comunica-se em tempo real, liberdade de viajar sem sair do local. Porém, tal liberdade tem implicações; assim como a internet pode ser uma ferramenta para o bem se torna uma arma para o mal. É comum vermos sites de pornografias infantis, de estimulo a violência, páginas que servem para aplicar estelionato etc.

A informatização e globalização da sociedade colocam o conhecimento numa posição de valor e de poder. Profundas alterações na organização do trabalho aconteceram desde a passagem do modelo taylorista-fordista para o modelo flexível. Se antes tínhamos um trabalho intelectual e manual, hoje, na era da informática, a nova organização do trabalho exige uma integração sistêmica de diversas unidades, práticas gerenciais interativas, equipes responsáveis por grupos de produção e com capacidade de decidir e muita flexibilidade no ambiente de trabalho, mas umas das questões cruciais no processo de trabalho é a comunicação. Uma das frases do Chacrinha - “Quem não se comunica se trumbica” - serve bem para as necessidades do mundo moderno.

À medida que os recursos midiáticos estão envolvidos em processos de produção das subjetividades, e decisões políticas devem ser analisados com a mesma responsabilidade com que têm sido analisados os mecanismos inerentes à ao campo educacional. Ou seja, a partir de nossos objetos de estudo, compreendemos a educação, cultura e comunicação como um sistema de conhecimento capaz de produzir significações e transformações políticas e sociais. Nesta perspectiva, a mídia torna-se, na modernidade, um elemento de formação cultural e política com igual ou maior presença do que a formação acadêmica tradicional, fazendo-se necessária a perspectiva de novos trabalhos que possam analisar estes novos códigos semióticos de subjetivação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SAFATLE, V. Um supereu para a sociedade de consumo.

VAIDERGON, J., BERTONI, L. M. (Orgs.) Indústria Cultural e Educação. Araraquara: JM

Editora, 2003.

08/07/2007

Inca
Enviado por Inca em 29/10/2008
Reeditado em 29/08/2017
Código do texto: T1254138
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