Pais! Dizer não também educa.

Muitos artigos em revistas e programas de tevê tratam já há alguns anos o fato de que precisamos dar limites aos filhos, resgatar a educação, os valores e a importância da família.

A falta de limites tornou-se um problema em razão da dificuldade que os pais encontram em dizer não. A geração atual é o resultado da psicologia do “não”, difundida mais ou menos há duas décadas atrás. Nela, psicólogos renomados – contrapondo as teorias vigentes de uma educação tradicional anos 60, de repressão e proibição – espalharam aos quatro ventos que o “não” poderia traumatizar e que os pais deveriam mostrar-se mais amigos do que pais, permitindo que os filhos tivessem atitude em casa. Isso, aliado ao “boom” da tendência educacional chamada construtivismo, mostra os resultados agora, nos filhos e até netos daqueles pais que não podiam dizer “não” aos filhos.

Só que pelo fato desses pais não terem tido a educação do “não”, hoje não sabem o que fazer. Eis aí a criação da Supernanny, que ensina e disciplina não os filhos, mas os pais, pois as crianças são apenas o reflexo deles, respondem aos estímulos que eles dão às sugestões da sociedade consumista em que vivemos.

Supernanny. Para quem nunca viu ou ouviu falar, trata-se de um programa exibido pelo SBT e pela Discovery Home & Health direcionado a tratar de famílias cujos filhos não têm limites, são mal-criados e birrentos. Em cada edição, a personagem da pedagoga argentina, radicada brasileira, Cris Poli visita e (re)educa uma família com filhos problemáticos. Essas famílias já se inscreveram previamente na emissora para receber a visita de Supernanny, que (re)ensina-os a lidar com os filhos. Até aí, nada de mais. Trata-se de mais um programa formatado para o entretenimento vespertino. Porém, será esse o único, digamos, mérito do programa?

Analisando com mais detalhes a questão, é possível responder que não. O que para muitos pode apenas representar mais um programa manipulado, na verdade, mostra sim a realidade da família brasileira. Programas como esse são comuns, em todos os canais, mas esse em especial mostra nas entrelinhas uma mensagem clara, já revelada pela própria Cris Poli em entrevistas: precisamos (re)educar os pais, e não as crianças.

A questão é bem mais profunda e retrata uma neo-programação da família. Cris Poli (re)ensina-os a ter voz de comando, regrar as atividades da casa e da família e assumir a postura de pais. Óbvio, nosso conceito de família não é mais o mesmo, mas a postura precisa continuar, independente de quem componha o quadro desses membros.

Por essa razão, é hora dos adultos se darem conta de que podemos (e devemos) evoluir com os tempos modernos, mas não podemos (e não devemos) deixar que as rédeas escapem. Ainda é e sempre será necessário a figura de adultos retos, coerentes de seu papel como pai e mãe. Se não, a escola não dará jeito sozinha de tudo e a Supernanny terá que continuar a agir ainda por muito tempo.