Escola Sustentável: Possibilidade ou Utopia?
A Sustentabilidade hoje é palavra de ordem em todas as atividades humanas e sendo assim, na Educação não poderia ser diferente, ou seja, há necessidade de que a Educação também se enquadre nesse preceito. Entretanto, para que a Educação seja efetivamente sustentável é fundamental que todo o cenário educacional esteja enquadrado na sustentabilidade, o que ainda está muito longe da realidade nesse país continental. Desta forma, é urgente que se possa pensar, planejar e estabelecer um modelo de escola sustentável para que se projete uma sustentabilidade efetiva da Educação.
A idéia de sustentabilidade está relacionada com a prática de fazer alguma coisa de forma perene, isto é, utilizar um mecanismo que permita o “fazer hoje” de uma maneira que possa contribuir e possibilitar a continuidade desse mesmo “fazer amanhã”. Quer dizer, a sustentabilidade é uma prática produtiva que deve ser continuada e, se possível, melhorada ao longo do tempo. A escola sustentável não poderá ser diferente e também terá que ser capaz de manter a sua sustentabilidade ao longo do tempo.
Pouquíssimas das muitas escolas que conhecemos, estão aí há mais de 100 anos, outras não têm tantos anos, mas a grande maioria não chega aos 50 anos. Isto nos permite afirmar seguramente que a maior parte das escolas brasileiras são instituições novas, algumas delas novíssimas. Mas a “novidade” nessa questão se refere apenas ao tempo, porque do ponto de vista funcional a maioria dessas escolas, praticamente sem exceção, é exatamente igual as demais. Apenas os prédios, os jardins, a decoração e como já foi dito o tempo (idade) são diferentes. Até bem recentemente, nunca se pensou numa escola diferente. Aliás, nem aqui e nem no resto do mundo. As escolas do mundo continuam amarradas no velho modelo francês desenvolvido no final do século XIX.
Mas, por que será que existe tanto conservadorismo na Educação? Por que o modelo Educacional do mundo não muda, já que todas as outras coisas têm mudado significativamente? Enquanto o mundo viaja de Internet, a Educação do mundo está viajando na velocidade de uma tartaruga paralítica e que além de tudo possui um padrão Fisiológico de um caracol. Quer dizer, a Educação no Brasil, está muito devagar, quase parando e em alguns casos já parou realmente.
Para falar a verdade sobre essa questão, devo dizer que a Revista Super interessante recentemente (setembro de 2007) trouxe uma matéria, na qual alguns pesquisadores aparecem comentando sobre possíveis mudanças, que atualmente se fazem necessárias nas escolas e no modelo das aulas. Porém, antes deste artigo, não me recordo de nenhum outro que tenha tratado sobre o assunto.
Mas, vamos voltar ao nosso Norte, qual seja: a Sustentabilidade nas Escolas. Como Educador, apesar de todo o conservadorismo da Educação, em vários momentos e sentidos tenho que me considerar um vanguardista, porque sempre projetei uma escola moderna diferenciada e diferente daquela em que eu estudei. Só para dar alguns exemplos e quem sabe, para satisfazer um pouco mais o meu ego, devo dizer que há mais de 30 anos, eu já realizava provas em grupo, porque sempre entendi que a melhor maneira de acabar com a cola é torná-la oficial. Permita ao aluno que ele converse com alguém e ele não conversará com mais ninguém durante a prova. Permita que o aluno consulte e ele procurará as respostas por si só, porém faça perguntas que necessitem de entendimento, reflexão e conclusão e não de simples cópias.
Nessa mesma época eu também já procurava contextualizar as minhas aulas e ministrava algumas aulas no jardim da escola, para falar de Ecologia e das coisas da natureza, mesmo contra a vontade do Diretor, pois a aula é do Professor e ele não pode ser impedido de exercer o seu trabalho. Eu já procurava fazer o meu aluno entender que o que ele tinha de mais importante era a sua capacidade de pensar e que essa capacidade poderia levá-lo indefinidamente para frente ou para trás, dependendo da aplicabilidade desse seu pensamento. Eu dizia o seguinte: Pensar é fundamental, porém também costuma ser muito perigoso. Assim, torna-se necessário estabelecer limites à prática do pensamento, porque muitas vezes se acaba pensando naquilo que “não se deve pensar”.
Existe uma coisa pela qual sempre lutei e que acabei por ver acontecer pela primeira vez numa escola em que eu trabalhei, mas que hoje tem acontecido algo bastante parecido em praticamente todas as escolas públicas, pelo menos aqui, no Estado de São Paulo. Na minha cabeça, as escolas, sobretudo as escolas públicas, sempre deveriam ser entendidas como grandes centros culturais, que atrairiam a comunidade do entorno para participar da grande e permanente “festa da cultura, do saber e do lazer do local”, que era a presença da própria escola e das atividades que ela deveria apresentar cotidianamente, envolvendo toda a comunidade desse local onde estava inserida. Várias vezes me manifestei aventando essa possibilidade em inúmeros eventos e reuniões, mas só consegui ver isso acontecer (ou quase acontecer) na ETE Machado de Assis, em Caçapava, onde trabalhei e sempre insisti que a escola deveria ser um centro comunitário e cultural.
O Modelo Salesiano de Ensino, o qual considero o melhor Sistema Educacional desenvolvido no país, talvez seja o que mais se aproxima daquilo que penso, mas mesmo assim, acredito que ainda falta alguma coisa para estabelecer a escola que idealizo. Depois que trabalhei em Escolas Salesianas pude observar que não estou sozinho na minha maneira de pensar, mais ainda falta um pouco na maneira Salesiana de agir. Os Oratórios Festivos existentes nas escolas Salesianas chegam bem próximo do meu pensamento, quando criam mecanismos de manter o jovem na escola nos finais de semana e feriados. Entretanto, como é uma obra Salesiana, ela só é sustentável dentro de seu espaço físico e ideológico. Isto é, o Modelo Salesiano, embora bom, está limitado aos alunos da escola e eu penso que essas atividades deveriam ser expandidas a toda comunidade do entorno da escola independente de envolvimento escolar ou religioso com as Instituições Salesianas.
Hoje, o Estado de São Paulo oferece o Programa Escola da Família, que embora não seja bem o que eu idealizo está muito próximo e que tem produzido resultados bastante positivos para as escolas, para os alunos e principalmente para a comunidade da escola e do seu entorno, além de oferecer bolsas de estudo para os estudantes de Ensino Superior que participam do Programa.
O Programa Escola da Família é, em minha maneira de entender, um mecanismo que pode ser enquadrado num modelo bastante razoável de escola sustentável, pois faz com que a escola de hoje crie e desenvolva condições para o estabelecimento da escola de amanhã e envolve, de alguma maneira, a comunidade local no andamento desse processo. Os resultados positivos produzidos pelo Programa Escola da Família para as escolas transcendem a minha idéia num único aspecto e ficam aquém dela em vários outros. Ou seja, o programa é bom, mas falta muita coisa.
Mas, e daí? O que isso tem a ver com a Escola Sustentável?
Penso que isso tem tudo a ver com a Escola Sustentável, porque esse modelo de escola necessariamente passa pela abertura da escola à comunidade. A escola sustentável tem que se desenvolver a partir dos serviços que a escola puder prestar primeiramente ao público interno que é a comunidade próxima e daí para o público externo de seu entorno. A escola tem que se fazer centro de atividades e tem que ser o interesse de todos que estão em sua proximidade ou que de alguma maneira são afetados por sua interferência. Esse grupo de pessoas que compreende os alunos, os professores, os funcionários, os moradores do entorno, os comerciantes do entorno entre outros, constitui a “comunidade-escola”. Essa comunidade precisa ser atendida pela escola em todos os interesses possíveis, para tanto cada segmento dessa comunidade precisa se sentir como sendo os “verdadeiros donos da escola”.
Para atingir esse nível de envolvimento é preciso estabelecer critérios do que a escola pretende fazer dentro das necessidades mínimas para o atendimento da comunidade escola. Em primeiro lugar deve ser realizado um levantamento dos interesses e necessidades das pessoas e do local onde a escola está situada. Depois disso, devem ser estabelecidas todas as prioridades e planejadas todas as ações para os devidos atendimentos. Ao longo do tempo, novos projetos devem se viabilizados para envolver um número cada vez maior de pessoas. A escola pode até se transformar num centro de negócios locais que, além de oferecer educação e cultura, também produz e comercializa utensílios e serviços no interesse da comunidade.
Cabe ressaltar que a escola não pode perder sua função precípua de educar e formar os alunos, assim ao assumir uma série de outras funções concomitantes que vão complementar sua a ação social na comunidade, a escola também passa a ser geradora de novos conhecimentos para os seus alunos. A escola passa a ser um centro social e cultural que envolverá de alguma forma a todos, pois quase tudo, em certo sentido passa a se desenvolver e se resolver no espaço da escola, sob a influência da escola e com as pessoas da escola.
A ação voluntária acontecerá naturalmente, porque quem não se envolver na escola não terá envolvimento na comunidade. A escola é de todos e o aprendizado também será de todos, porque todos ganham com a escola totalmente aberta à comunidade. Até mesmo a segurança passa a ser total, pois com o envolvimento de todos, cada pessoa também passa a ser um fiscal das ações das demais e assim atos de vandalismo e outros serão naturalmente inibidos. As pessoas de bem procurarão a escola para fazer coisas boas, enquanto as demais pessoas ficarão desajustadas e assim ou ajudam a escola também ou se afastam e identificam na comunidade o seu lado malévolo.
O voluntariado atingirá níveis extremos e a congraçamento entre as pessoas da comunidade será cada vez maior. A escola será um fator de união e de integração social que propiciará educação, cultura, cidadania e lazer a toda a comunidade. Em tese, essa deveria ser a Escola Sustentável, aquela que deveria ser orgulho, interesse e trabalho da comunidade, do local e de todos que dela participam. É claro que essa escola está fora da realidade que vivenciamos na atualidade, mas não é de todo uma utopia pensar na sua possível existência. No passado, quando eu pensei em ocupar a escola nos finais de semana com atividades comunitárias me chamaram de maluco, mas hoje isso já acontece, inclusive com respaldo governamental. Então, porque não aprofundar um pouco mais esta idéia e criar uma verdadeira “escola sustentável”.