A Escola e a Família na Formação do Jovem Brasileiro

No passado, não muito longínquo, a educação básica era um atributo da família, a qual se encarregava de orientar as crianças sobre os deveres fundamentais, sobre as posturas e condutas preferenciais, sobre práticas de camaradagem e de cortesia. Enfim, a família informava e orientava os meninos e meninas sobre as normas primárias da boa educação, do respeito mútuo e da convivência coletiva no grupo social. Assim, quando as crianças iam finalmente para as escolas elas já conheciam as regras básicas da vida comunitária e possuíam uma noção bastante clara da ética social e a escola apenas reforçava e tentava aprimorar mais efetivamente essas regras por conta da convivência coletiva obrigatória do ambiente escolar.

Naquela época, as escolas tinham uma função muito maior e mais eficaz na Instrução e na Formação Cultural e Intelectual do aluno do que na Educação do indivíduo humano, como jovem cidadão, comunitariamente participativo e socialmente bem adaptado. Hoje essa questão mudou significativamente para pior, por conta de vários aspectos, os quais passarei apresentar, sem me preocupar com ordem ou o grau de importância entre eles, pois considero todos eles igualmente prejudiciais. A numeração atribuída é apenas é tão somente como contagem de itens.

O primeiro desses aspectos é a própria “evolução dos tempos”, a chamada “modernidade” ou “pós-modernidade” como querem alguns, a qual, passa de roldão pela sociedade e não se sabe bem o porquê, traz no seu bojo uma falta generalizada de consideração e de apreço entre os indivíduos que compõem as diferentes comunidades.

O segundo é o incrível desenvolvimento ocorrido na área da Comunicação, o qual produziu na mídia um poder fantástico, particularmente a televisão, que reduz cada vez mais as distâncias geográficas do mundo e que é capaz de construir e destruir conceitos, idéias e ícones muito rapidamente.

O terceiro é a vulgarização da noção central e real de Democracia, o que gerou e ampliou, em muitas comunidades, a perspectiva ilusória de se sentir no direito de realizar quaisquer ações que achassem possível em nome dessa coisa estranha chamada “Democracia”.

O quarto é a inversão total de valores, também criada, em certo sentido, a partir dessa noção errada da Democracia, que fez com que ser correto passasse a ser vexatório e vergonhoso, enquanto ser marginal passou a ser um bom negócio.

O quinto é a ênfase nas questões econômicas em detrimento, algumas vezes total, de outras questões mais importantes e até de relevância muito maior à vida humana e ao viver social da Humanidade no Planeta Terra.

O sexto é o avanço científico e tecnológico generalizado e da Informática particularmente, que permitiu uma infinidade de coisas novas, que levaram ao rompimento com algumas formas de tradicionalismo e consequentemente diferenciaram e desenvolveram novos padrões de comportamentos sociais.

O sétimo é o consumismo exacerbado e a falta de controle no uso dos recursos e da noção de direito e dever que deve estar estabelecida num encontro social qualquer, onde o direito daquele que tem um bem qualquer deve entender aquele que não possui esse mesmo bem e vice-versa.

O oitavo consiste numa série de maus exemplos e de modelos que têm servido de referencial para os jovens, os quais não se enquadram de maneira nenhuma com os padrões sociais preferenciais primários, pois são movidos por outras idéias e forças, as quais transcendem os valores morais e éticos anteriormente estabelecidos.

O nono é a noção errada do conceito de liberdade que foi confundido há muito tempo com libertinagem e posteriormente foi “promovido” para uma anarquia ampla geral e irrestrita e que permite ou, o que é pior, finge permitir qualquer coisa em qualquer lugar, em nome da liberdade de expressão.

O décimo consiste no surgimento de uma nova ética baseada na agregação e na mistura dos demais aspectos anteriormente citados, o que criou uma nova noção de valores, bastante diferentes daqueles do passado, onde o desrespeito e os interesses individuais suplantam os bons costumes e as necessidades comunitárias. A idéia central é a seguinte: “o eu destroçando o nós, enquanto o todos é derrubado pelo alguns”.

Com isso, a escola que antes tinha na família uma precursora e aliada, agora ficou a mercê desses aspectos contraproducentes no que se refere à Educação dos jovens, porque a família está diretamente tão envolvida nesses aspectos, que não consegue mais cumprir sua parte no processo educacional. Em suma, a escola agora, além de ter que fazer a sua parte, também tem que fazer a parte da família. Ora, isso é quase impossível, haja vista que cada família tem os seus problemas, as suas particularidades e a escola, embora possa sugerir, não tem como desenvolver certos procedimentos que são intrínsecos à família. Esse fato, não só ampliou o compromisso social da escola, como prejudicou a sua função precípua de instruir, quando lhe atribuiu também algumas das funções familiares. De fato, a escola está num mato sem cachorro, pois tem que fazer aquilo que não é sua função e assim acaba, muitas vezes, não fazendo nada.

A escola hoje é quase exclusivamente um ponto de encontro social, aonde alunos e lamentavelmente muitos professores vão para bater um papinho, trocar uma idéia e outras coisas do gênero, mas não para aprender, ensinar ou discutir sobre cultura e formação do cidadão. Hoje, o aluno vai à escola da mesma maneira que vai ao estádio de futebol, ao cinema, ao teatro ou ao “shopping center”, como mais um local onde as pessoas se encontram para o lazer. Esse fato até seria bom, desde que ficasse claro que o objetivo desse lugar é o aprendizado do aluno e que isso deveria ser um prazer para ele, assim como o prazer de ir ao cinema é ver o filme.

Mas, infelizmente o aluno não tem querido faze do aprendizado um prazer e a escola está mais para passatempo do que para diversão programada e nem mesmo como mecanismo de lazer ou simples distração ela tem sido considerada pelos alunos. Quando muito, a escola é o local onde são programadas as demais atividades sociais que serão desenvolvidas pelos alunos ao longo do tempo.

Aliás, ao contrário da noção de lazer, para muitos alunos, professores e pais, a escola ainda é um lugar terrível, de dominação, de imposição e por isso mesmo não é um bom lugar nem para as comunidades se encontrarem. Lamentavelmente, eu já ouvi de vários alunos a seguinte frase: “professor eu venho à escola porque meu pai manda, senão eu não viria, preferiria ficar em casa vendo televisão ou jogando no computador. Algumas aulas até são legais, mas isso aqui é um tédio professor, eu tenho que ficar aqui ouvindo um monte de coisas que não me interessam”. E também já ouvi alguns colegas professores reclamando, mais ou menos assim: “que droga que eu tenho que dar aulas, bem que eu podia ter arrumado alguma coisa melhor para fazer na minha vida”. Pior mesmo é quando se ouve dos pais o seguinte: “professor eu não aguento mais o meu filho em casa, por isso dou graças a Deus pelas horas que ele passa dentro da escola, pena que é tão pouco tempo”.

Meu Deus, como as coisas mudaram! Na minha época, eu ia à escola para aprender e obviamente travava também contatos sociais com outros alunos, com os professores e funcionários da escola e me envolvia comunitariamente. Mas, pelo que se vê hoje, o aluno vai à escola porque os pais mandam e aproveitam para manter contatos e atividades quase estritamente sociais com um grupo seleto, a partir das quais eles se programam no que diz respeito às atividades de lazer; os professores vão a escola porque não arrumaram coisa melhor para fazer e as mães mandam os filhos para a escola a fim de poder ficar livres deles por algumas horas. Ora, isso é um grande e trágico absurdo.

Mas, enfim, de quem é a culpa? Do aluno? Do professor? Da escola? Da família? Da mídia? Do governo? Da sociedade? De todo mundo? De ninguém?

Pois é, a culpa é de todo mundo e de ninguém. A culpa é da família e da escola, a culpa é do professor e do aluno, a culpa é da mídia e de toda a sociedade. Enquanto a mídia não mudar o enfoque sobre a Educação, enquanto não tivermos bons exemplos; enquanto as famílias não quiserem se responsabilizar pela Educação primária de seus filhos; enquanto o governo tratar o processo Educacional como mais uma linha de montagem industrial ou mais uma questão monetária; enquanto os alunos forem à escola buscando somente discutir sobre o lazer pessoal, enquanto os professores entrarem diretamente na idéia dos alunos e não o contrário e principalmente, enquanto a Sociedade não gritar contra o despautério ético e moral que se estabeleceu na Educação Brasileira por conta daqueles aspectos anteriormente citados, não haverá solução e todo mundo é culpado, mas como a responsabilidade se dilui dentro a sociedade ninguém se sente culpado pela questão que continua seu destino errante e degradante.

Esse quadro, além de trágico e perverso, é muito triste para o futuro de nossa nação e precisa ser mudado para o bem de todos nós. A Escola e a Família têm que se unir e ajudar mutuamente porque, na prática, essas são as duas únicas instituições sociais que deveriam estar efetivamente mais interessadas em resolver a questão educacional desse país. Entretanto a tarefa é árdua e muito difícil de ser implementada, mas é necessário que ela seja desenvolvida o mais rápido possível.

Em matéria de Educação, o Brasil já chegou ao fundo do poço. No que diz respeito à Educação, o Haiti é aqui! Já temos um dos piores níveis de educação do mundo. O que nos falta mais? Estamos esperando mais o quê?