A Alta do Dólar – Verdades e Narrativas em Debate*
Bom dia, ouvintes do Notícias da Manhã. Hoje, abordamos um tema que domina as rodas de conversa Brasil a fora: a recente alta do dólar. Entre acusações, narrativas e especulações, vamos buscar entender o que está acontecendo e de quem é, de fato, a responsabilidade.
Primeiramente, precisamos esclarecer que a alta do dólar é um fenômeno complexo, influenciado por fatores internos e externos. Sim, o governo federal tem um papel nesse cenário, mas não é o único agente responsável. A recente instabilidade no mercado global, marcada por decisões de juros do Federal Reserve (o Banco Central americano), tensões geopolíticas e desaceleração econômica em países emergentes, são fatores que impactam diretamente o câmbio.
O dólar, como qualquer ativo, é também um objeto de especulação. Grandes players, como fundos de investimento, bancos e investidores internacionais, muitas vezes atuam com base em expectativas e, por vezes, amplificam os movimentos cambiais. Se o mercado percebe fragilidade fiscal ou falta de previsibilidade, acelera a compra de dólares, intensificando a pressão sobre o câmbio. Esse comportamento especulativo pode ser natural em um mercado globalizado, mas seus impactos no cotidiano dos brasileiros são muito concretos: aumento nos preços de combustíveis, alimentos e produtos importados.
O governo Lula enfrentou críticas sobre a expansão dos gastos públicos, o que gerou incertezas no mercado financeiro. No entanto, é importante lembrar que a autonomia do Banco Central, conquistada em gestões anteriores, torna essa instituição o principal responsável por controlar a política monetária e cambial. O Banco Central possui instrumentos como a taxa Selic e intervenções no mercado de câmbio para tentar estabilizar a moeda.
Mas será que o Banco Central está agindo de forma independente ou, como insinuam alguns aliados do presidente, há uma sabotagem em curso? Essa é uma questão delicada. A narrativa de que o mercado estaria sabotando o governo é recorrente em períodos de instabilidade política, mas há pouca evidência concreta que sustente essa afirmação. Na prática, o mercado reage a sinais. Se o governo não apresenta uma política fiscal clara ou emite mensagens contraditórias, o mercado penaliza, mas isso não é sabotagem, é dinâmica de mercado.
O que o governo pode fazer para reverter a situação? Primeiramente, buscar equilíbrio fiscal. As reformas tributária e administrativa, já em pauta, precisam ser aprovadas com agilidade para dar sinais de responsabilidade econômica. Além disso, é essencial que o governo e o Banco Central mantenham um diálogo transparente e coerente, evitando ruídos que aumentem as incertezas.
Os aliados do governo também precisam agir com responsabilidade ao levantar teorias de sabotagem. Ainda que existam interesses políticos contrários ao governo Lula, como sempre ocorre em democracias, atribuir o problema a uma conspiração pode desviar o foco das medidas concretas que precisam ser tomadas.
Por fim, cabe a nós, jornalistas e cidadãos, observarmos os fatos com atenção, questionarmos narrativas simplistas e cobrarmos responsabilidade de todos os envolvidos. Afinal, quando o dólar sobe, o impacto é sentido por cada brasileiro, especialmente os mais vulneráveis. A verdade, como sempre, está no meio do caminho e deve ser buscada com seriedade.
*Editorial do jornal Notícias da Manhã, da rádio Espinharas FM de Patos, em 20 de dezembro de 2024.