O que há de errado nas finanças do Governo
Outro dia vi, no espaço destinado ao leitor de jornal de Ponta Grossa, o artigo “Há algo de muito errado nas finanças do Governo”, de autoria de renomado jurista brasileiro. No artigo, os erros são diagnosticados pelo tamanho da dívida pública, pela falta de confiança do empresariado brasileiro, pela alta do dólar e queda da bolsa, e até pela malograda importação de arroz para fazer frente à tragédia no Rio Grande do Sul.
Não sou nem renomado jurista, nem analista financeiro, mas sinto-me obrigado a manifestar minha opinião sobre o tema. Primeiro, o tamanho da dívida não é nenhum absurdo. Todos os países trabalham com dívidas. Os EUA, país imperialista idolatrado pelos financistas brasileiros, têm dívida proporcional ao PIB muito maior que o Brasil. Segundo, interessa aos rentistas e especuladores uma dívida alta, pois eles são os credores dessa dívida, e recebem – sem pagar impostos – um dos maiores juros do planeta. Estes juros altos, estabelecidos pelo preposto dos rentistas na presidência do Banco Central, são os maiores responsáveis pela dívida pública do País. E, como dizem economistas fidedignos, gasto governamental com infraestrutura, que aumenta a dívida, não é gasto, é investimento. Que gera empregos, distribuição de renda, aumento da arrecadação, bem-estar social e prosperidade da Nação.
A alegada falta de confiança do empresariado brasileiro, anunciada em nota de repúdio divulgada na imprensa, merece questionamento. A elite do empresariado brasileiro merece confiança? Não há analistas que dizem que é uma elite ainda ressentida por não ter sido indenizada pela abolição da escravatura, e ainda enxerga o trabalhador como mão de obra a ser explorada e tratada como coisa? A elite tem dado várias demonstrações de que não pensa no País, mas pensa em seus lucros. É assim na sabotagem econômica dos governos, na participação em privatizações vergonhosas, nas operações destinadas a manipular o dólar e a bolsa, na sempre presente maciça campanha contra os governos socialistas, e não neoliberais, na sonegação de impostos.
A alta do dólar e a queda da bolsa são resultado de ataques desse ser impessoal, nervoso e idiossincrático, que é o mercado. Manipulado pelas especulações das elites econômicas. O mercado responde ao deus lucro, e não a princípios e ética humanizadas. O mercado é um deus antropófago, que devora seres humanos para gerar riqueza cada vez mais concentrada, nas mãos de poucos já locupletados tiranos.
A malograda importação de arroz parece ter sido mesmo um erro. Prontamente corrigido pelo Governo. Ele também comete erros! Como todo Governo, como todo ser humano. Errar é humano. A reação ao erro é que faz a diferença. Os rentistas, os críticos do Governo socialista – este empenhado em diminuir o abismo econômico da sociedade – vêm errando há muito tempo, e não aprendem: só fazem recrudescer o erro. E assim desencadeiam as muitas crises que vivemos hoje: sociais, econômicas, ambientais, éticas, religiosas, sanitárias, de segurança...
O que há de errado nas finanças do País é a elite econômica que não abre mão de seus ganhos escorchantes. E usa seu porta-voz – a grande mídia – para lograr a população. Passos para a solução são a diminuição dos juros (taxa Selic), taxação dos juros da dívida, imposto de renda progressivo para os mais ricos, taxação de fortunas e heranças, investimento em infraestrutura, criação de empregos e distribuição de renda.