DICIPLINA FINANCEIRA DO POBRE ANALFABETO
DICIPLINA FINANCEIRA DO POBRE ANALFABETO
Disciplina financeira é planejamento financeiro, é gastar somente o que se tem em dinheiro no bolso e quando digo isto, para facilitar o conceito vamos voltar 50 anos atrás, quando não tínhamos internet, celular.
Se estamos falando do pobre e analfabeto, não tinha carta (CNH), não tinha carro, mora em rua não asfaltada, isto mesmo, porque o asfalto é coisa nova, com aproximadamente 50 anos., morava em casa simples, alugada ou não, mas muito simples;
Se estamos falando de pobre e analfabeto, estamos falando de alguém que não exercia trabalho intelectual, e sim braçal, e, portanto, pessoa que ganhava naquela época salário-mínimo, abaixo de vinte dólares, que era o salário-mínimo antes da década de 1970.
Naquela época o pagamento do salário, por falta da existência de cartão ainda era feito em dinheiro vivo, quando os empregadores sacavam no banco em dinheiro vivo a folha de pagamento e se dirigia para a empresa e chamando um a um, fazia o pagamento do salário mensalmente, em alguns casos semanalmente.
O empregado recebia o salário em dinheiro e se TINHA DISCIPLINA FINANCEIRA, só iria gastar o que tinha no bolso e enquanto tivesse alguma coisa no bolso.
Pobre, não tinha crédito, e ainda não tem salvado aqueles que hoje tem verbas a receber do governo, seja de aposentadoria ou emergencial, que assim pode hoje fazer consignado, ou fazer empréstimo para descontar do valor a receber.
Não podemos esquecer que na década de 60/70, não havia aposentadoria, não existia farmácia popular, não existia verbas emergencial do governo.
Não existia TV, poucos tinham rádio, ninguém tinha telefone, que valiam mais que uma casa de rico, e podia ser alugado pelo valor de uma casa, tina um custo superior a dez mil dólares.
Assim DISCIPLINA FINANCEIRA, para pobre, alfabetizado ou não, era receber o salário e somente gastar enquanto tinha no bolso, tinha de começar pagando o aluguel, água quando tinha, uma vez que os pobres normalmente tinham somente um poço, ou tinham de pegar água em algum lugar e transportar para o próprio uso, energia elétrica também eram para poucos pobres, e mesmo para os mais abastados.
Assim pago o aluguel, se comprava comida para o mês, ou ainda muitos para o ano, como no caso feijão que se comprava direto do produtor, um saco, ou quantia para o ano, arroz se comprava em casca também para o ano e na medida que ia precisando ia na máquina para descascar, sal, açúcar também para muitos não havia o período de mês, muitos quando podia estocava para período maiores que mês.
As comidas de pobre logicamente não eram elaboradas, e nesta época não havia marmitex, portanto, todo pobre ERA UM BOIA FRIA, que levava para o serviço um pequeno caldeirão de alimento, normalmente feijão, arroz, farinha e alguma verdura catada na vizinhança, ou um ovo.
Café também não se comprava por pacote, ou por kilo, normalmente era comprada despolpado, ou não, assim a maioria tinha um pilão para descascar o arroz, o café, e a própria pessoa encarregada da família, despolpava o café, torrava o mesmo, moía para poder fazer o seu café no dia a dia, muitos que não podia comprar o açúcar, adoçava com cana-de-açúcar.
Portanto a vida era muito simples, pois quase nada existia, tirando alguns mais abastados ou rico que tinha acesso a alguma coisa que existia na época, a maioria pobre vivia de sobrevivência e de ensinamento aprendido na família, para nunca gastar o que não tinha no bolso e, portanto, era tudo muito simples, enquanto tinha no bolso, podia planejar o gasto, acabou, acabou, não se teria mais atividade financeira.
Nesta época e em região de periferia vivia um analfabeto, que trabalhava de serviço braçal ganhando um salário-mínimo, morava em casa própria, em rua não asfaltada, em casa sem laje com cobertura direta no telhado com DISCIPLINA FINANCEIRA AO EXTREMO.
Sempre pagava os tributos do imóvel a vista no lançamento do carne, e para tanto durante doze meses economizava mensalmente uma quantia que era depositado em uma caixa de sapato que denominava recurso para os tributos, isto mesmo, tributos já era uma coisa que existia e se tinha que pagar IPTU anualmente, a vista ou em parcelas e ele que pagava a vista tinha que separar mensalmente na caixa de sapato reservado para o IPTU, uma quantia mensal, para quando chegasse o carne de IPTU, pudesse quitar o tributo, tal verba era SAGRADA, e sempre tirado do bolso para guardar antes de qualquer coisa, portanto não se questionava outras necessidades, em primeiro lugar o tributo. Importante frisar que em épocas um pouco anterior não pagar tributos era considerado crime que levava a prisão, e, portanto, fazia parte do aprendizado sempre não questionar outras necessidades, tinha que haver recurso para o pagamento dos tributos.
Esse senhor com uma família estruturada, casa própria, três filhos ainda pequenos, que comprava banha de porco, ou criava um porco em algum lugar para ter gordura, pois óleo também era algo que não existia, e banha de porco era a gordura (manteiga) que se usava para cozinhar, e no triangulo mineiro era com o sal, que gerou a palavra salário, onde as pessoas ganhavam por dia de trabalho um quilo de sal, no triangulo mineiro em qualquer comunidade retirada da serra da canastro todos sabem que o salário de um dia do trabalhador braçal para a lavoura ou pastagem é um litro de manteiga(banha de porco) e logicamente que assim também era pago em banha de porco, pois estes empregadores das regiões retiradas também não tinham dinheiro e quando contratavam alguém o pagamento era feito em produto (banha de porco) um litro para o dia de trabalho.
Estávamos falando de nosso personagem que era conhecido como Sr. Dito, pobre que tinha uma casa de pobre na periferia, sem asfalto, que trabalhava em serviço braçal que era o que podia ser proporcionado, que guardava na caixa de sapato, que foi catado no lixo, ou ganhada por também não tinha sapato e aos pobres não era normal se ter sapatos, todos tinha a sola do pé grosso e andavam descalços.
O Sr. Dito ainda tinha mais uma DISCIPLINA FINANCEIRA que chamava a atenção, TINHA UMA CAIXA DE SAPATO extra, que era o dinheiro que guardava para fazer a PINTURA da casa em que vivia a cada três anos, isto mesmo, ele além de ser uma pessoa organizada ainda era uma pessoa vaidosa que gostava de fazer uma pintura na casa de cada três anos e para tanto tinha UMA CAIXA DE SAPATO PARA A PINTURA, que mensalmente depositava uma quantia que seria necessário a cada três anos, para poder executar a pintura da sua casa na periferia em rua de terra, sem energia elétrica, sem asfalto onde vivia estruturalmente com sua família
Mesmo que a pintura naquela época também não fosse elaborada como hoje, pois para pintar uma casa não se ia em uma loja de tinta que também não havia, a pintura era feita com CAL VIRGEM, que se comprava a granel, e depois de depositar em uma vasilha não furada, normalmente de latão, acrescia agua, que reagia com a cal virgem e se formava um a tinha branca, que com mais agua formava um tinta para poder pintar a casa, se quisesse dar uma cor, havia no mercado BISNAGA colorida para acrescer a cal virgem para dar a cor que se queria e em seguida com uma BROCHA feita de crina de cavalo se passava para a parede, que havia sido construído de tijolos maciços e queimados, ou ainda algumas casas mais antigas de TAIPA, estes tijolos eram assentado com barro, pois o cimento ainda não chegava aos pobres, não precisava de areia pois o barro era suficiente como argamassa, e o REBOQUE das paredes também eram de barro, isto mesmo não se fazia reboque com cal e cimento, era somente barro que após feita a liga com agua rebocava a parede de tijolos de barro queimado, assentado com barro e coberta com uma camada de reboque de barro e sobre esta camada de reboque de barro então era aplicada a pintura de cal virgem queimada com reação na agua e colorida com bisnaga de cor a gosto.
Em muitos lugares a esta época era comum, como não havia gás de cozinha, nem fogão a gás ou elétrico se queimara lenha de madeira de mato ou mesmo de eucalipto para cozinhar em fogão de lenha e como a fumaça além de entupir os chaminés que levava a fumaça para fora da casa, ainda era normal a cozinha da casa quando cozinhado dentro, empretecer, escurecer com as fumaças do fogão de lenha, então neste cômodo normalmente uma vez por semana, ou uma vez por mês era normal e a cargo normalmente das mulheres que eram encarregadas dos serviços de casa, além de ter que trabalhar como homem nas lavoura como diarista, era a esta encarregada de fazer a pintura da cozinha semanalmente ou mensalmente, para não viver em cômodo escuro, preto, esta pintura era feito com uma terra de barranco, mais clara, quase branco, ou mais amarela, denominada de SAIBO, que adicionada a agua, era usada para a pintura da cozinha periodicamente.
A combustão para o cozimento dos alimentos, para quem morava na cidade, ou na periferia, fora pouco de madeira catada no dia a dia pelos filhos, esposa e pelo próprio marido, era comprada de vendedores que passavam com carro de boi ou carroça de cavalos que vendia um pouco de lenha para os fogões de mesmo nome para o cozimento dos alimentos no dia a dia.
A vida era mais dura, era mais simples, poucas coisas existiam, o salário era muito pouco, mas também muito pouca coisa existia para comprar, em matéria de roupa o pobre normalmente se vestia de roupas caseiras costuradas de sacos de algodão que eram rejeitos após o uso dos trigos e que normalmente eram vendido como descarte, quem tinha condição financeira, não fosse tão pobre podia ir a um casa de ferramentas, e lá em um setor chamados de fazendas, adquirir um tecido que era denominado de fazenda, para confeccionar roupas, dificilmente se achava roupa pronta para se comprar. O pobre normalmente usava roupa de algodão de saco reciclado que podiam serem coloridos com bisnagas que se comprava, ou com casca de arvora que se coletava e que com fervura conseguia fazer um tingimento dos sacos de algodão.
Uma pessoa com setenta ano ou mais, que viveu na roça, ou na periferia de uma pequena cidade saber destas coisas e da transição que houve nos últimos setenta anos ou mais, quando pouco coisa existia para o comercio, e quando pouco dinheiro existia e quando UM POBRE COM DICIPLINA FINANCEIRA, guardava por três anos dinheiro em uma caixa de sapato para poder fazer uma pintura em sua casa própria, que na verdade era um pouco de cal virgem que após reagido com agua se tornava um caldo branco que podia ser aplicada as paredes tingindo as mesma de branco, ou ainda com uso de bisnagas coloridas dando a cor que se desejava.
Para o mundo atual onde existe dinheiro, e existe comercio e coisas para se comprar, onde até o pobre tem acesso ao mercado das coisas e onde a sua renda pode ser complementada com aposentadoria, ou com verbas emergencial para tira-los da linha abaixo da pobreza e torna-lo um consumidor, ele com certeza a esta época atual, não sabe mais o que é pintar uma casa com cal virgem, naquela época além do barroteamento com saibro das cozinhas, algumas pessoas com um pouco mais de posse fabricavam com a cal virgem tinta a óleo, para usar nas cozinhas e torna-las laváveis, não precisando semanalmente barrotear com a pintura de saibro.
Mas o objetivo do presente artigo além de contar os meios de vida existente a pouco tempo atrás, quando quase nada do que tem hoje existia, era demonstrar que DISCIPLINA FINANCEIRA e um pobre analfabeto que tinha uma caixa de sapato que guardava rigorosamente todo mês uma parte do seu salário para PINTAR A CASA A CADA Três anos.
Para muitos a presente história será grotesca, pois não imaginam o mundo sem energia elétrica, ruas sem asfalto, sem TV, rádio, celular, telefone fixo que está se extinguindo, não imagina o mundo com analfabetos, que não possuía o dom da leitura e da escrita, e que mesmo assim podiam ser pessoas com DISCIPLINA FINANCEIRA AO EXTREMO, até mesmo para guardar dinheiro em um buraco na parede ou em uma caixa de sapato, que nunca comprou, uma vez que não usava sapato, mas era um cofre para guardar alguma coisa, no caso dinheiro para a pintura da casa a cada três anos. 25/10/2022.