Isolamento social

ISOLAMENTO SOCIAL

Miguel Carqueija

 

(texto escrito no início da pandemia mas que permaneceu inédito)

 

“Um homem se humilha se castram seu sonho; / seu sonho é sua vida e a vida é seu trabalho; / e sem o seu trabalho um homem não tem honra, / e sem a sua honra se morre, se mata.”

(Gonzaguinha, “Um homem também chora”)

 

Talvez ninguém, praticamente, seja contra o isolamento social no caso de uma pandemia como essa que estamos enfrentando. É razoável que se tomem todas as medidas de precaução: máscaras, higienização das mãos e das superfícies, troca de calçados ao entrar ou sair de casa, evitar aglomerações, manter distanciamento etc. Entretanto nada justifica impedir as pessoas de trabalhar.

A paralisação de inúmeras atividades consideradas “não essenciais” atingindo pessoas com carteira assinada, profissionais autônomos e trabalhadores informais, leva a consequências extremamente desastrosas que já podem ser claramente observadas, estão aí, a olhos vistos: centenas de milhares de empresas fechando as portas; desemprego em massa; fome e desespero.

O Presidente Jair Bolsonaro está enfrentando a estupidez de políticos demagogos que chegam a argumentar ser a vida mais importante que a economia e que esta poderá ser tratada mais tarde. Ora, isso parece muito bonito de dizer. É claro que a vida em si é mais importante que a economia. O problema é que sem economia não há vida.

Sem trabalho não há emprego; sem emprego não há dinheiro; sem dinheiro não há comida; sem comida morre-se de fome; e nem é necessário muito tempo para que uma pessoa morra de fome: especialmente crianças, idosos e doentes. Isto deveria ser evidente, o próprio “óbvio ululante” do Nelson Rodrigues. Mas a esquerda brasileira, essa mesma esquerda que desgovernou, roubou e arruinou o país e esmagou o povo ao longo de 24 anos seguidos, essa esquerda é insensível, impiedosa; ela não está interessada no bem da população, mas em derrubar Bolsonaro e recuperar o poder de maneira desonesta.

Realmente, quais são as principais forças contra Bolsonaro, cujo “crime” parece ser simplesmente o de defender o direito ao trabalho? A Rede Globo — a Globolixo, que em plena pandemia continua exibindo seu nojento BBB — que moral tem para atacar o Presidente da República? Que moral têm o PT de Lula e o PSDB de FHC? Depois de todo o mal que nos fizeram? Que moral têm governadores arrogantes e prepotentes como os do Rio e São Paulo?

Honestamente, quem não consegue enxergar que a paralisação do trabalho está arruinando as nações? Sem querer ser uma cassandra enxergo que, daqui para a frente, morrerão seres humanos aos milhões pelo mundo, não do coronavírus mas de fome mesmo, e de outras causas como toda a violência que virá e as doenças que caíram em segundo ou terceiro plano mas que inclusive são mais mortíferas, como as patologias cardiovasculares e o câncer. Só que agora já é difícil conseguir atendimento que não seja para o coronavírus.

Parece o País das Maravilhas de Alice: a instituição do absurdo.

As profissões funcionam como uma fileira de dominós: uma peça pode derrubar todas as outras. Não existem profissões essenciais: todas elas são. Vejam esse absurdo: os caminhoneiros foram considerados serviço essencial mas os restaurantes de beira de estrada, não. Resultado: os caminhoneiros foram condenados a trabalhar horas e mais horas em jejum e ficaram dependendo das obras de caridade.

É muita crueldade condenar o povo a morrer de fome. E quando passar a pandemia os empregos não voltarão num passe de mágica. Com certeza que não. A fome será universal. A própria agricultura já está seriamente prejudicada.

“E vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. E ouvi o primeiro dos quatro Viventes dizendo, como se fosse estrondo de trovão: “Venha!” E eu vi aparecer um cavalo branco. Quem estava montado nele tinha um arco e recebeu uma coroa. Saiu vencendo, e para vencer ainda mais. Quando o Cordeiro abriu o segundo selo, ouvi o segundo Vivente que dizia: “Venha!” E saiu outro cavalo, este de cor vermelha. Quem estava montado nele recebeu o poder de tirar a paz da Terra, para que as pessoas se matassem umas às outras. E lhe deram uma grande espada. Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro Vivente que dizia: “Venha!” E eu vi aparecer um cavalo negro. Quem estava montado nele tinha uma balança na mão. Ouvi então algo que parecia uma voz vinda do meio dos quatro Viventes, dizendo: “Um quilo de trigo por um dia de trabalho! Três quilos de cevada por um dia de trabalho! Não danifiquem o óleo e o vinho.” E quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi o quarto Vivente dizer: “Venha!” E eu vi aparecer um cavalo esverdeado. Quem estava montado nele tinha o nome de Morte, e a Morada dos Mortos o acompanhava. Eles receberam autoridade sobre a quarta parte da Terra, para poderem matar pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras da Terra.”

(Apocalipse 6, 1-8)

 

Rio de Janeiro, 8 e 9 de maio de 2020.