Marketing e falsa liberdade: a colonização da mente pós-moderna
Os defensores do pensamento liberal afirmam que a liberdade de escolha dos indivíduos é sagrada. Assim sendo, são contra a intervenção de qualquer tipo de ente na atividade econômica, principalmente o Estado (o preferido de Paulo Guedes).
Essa afirmativa é apenas retórica, pois os teóricos marginalistas que lhe dão suporte fizeram vista grossa quando as técnicas de marketing começaram a surgir, transformando sua majestade o consumidor em “bobo da corte”. Nessa linha, o economista George Akerlof publicou o livro “Pescando Tolos: a economia da manipulação e fraude.”
A assimetria de forças é enorme; os departamentos de marketing e publicidade das empresas estão cada vez mais sofisticados. Amparados pela psicologia e pela neurociência, as corporações especializam-se em um novo mundo já em avançado processo de conquista: a mente humana.
Nesse cenário, as grandes corporações navegam nas redes e demais mídias com símbolos e mensagens subliminares, aproveitando-se das nossas fragilidades e interpretando nossas emoções com a ajuda de robôs e algoritmos.
Dessa forma, recrutam nossos sentidos contra nós mesmos (neurônios capitães do mato?). Destarte, se deixarmos essa relação entregue às suas leis de movimento- como querem os liberais fundamentalistas-,teremos sociedades inteiras escravizadas. E pior, achando que são livres.
Todos os dias, até mesmo consumidores com alto grau de instrução sucumbem a quinquilharias com verniz de utilidade. Tudo isso graças ao arsenal de técnicas de propaganda e marketing. Nessa linha, o neuromarketing tornou-se a grande arma de dominação, inclusive, descobriram que o marketing olfativo desperta um poderoso sentido emocional, pois o olfato trabalha junto com o sistema límbico, área do cérebro responsável pelas emoções.
Para termos uma ideia, um estudo da universidade de Washington concluiu que a essência de laranja utilizada em um shopping gerou um aumento de 20% nos gastos dos consumidores. E não para por aí, hotéis em Las Vegas utilizam perfumes florais que se mostraram eficientes e aumentam em 50% o tempo dos hóspedes em frente aos caça-níqueis. Pense nisso se você pretende ir a Vegas.
Direito de escolha? Essa palavra tão sagrada para os liberais não vale para quem consome. A nossa escolha só deve iraté onde a vontade das empresas permitirem.
Luiz Felipe Pondé, em seu artigo na folha de São Paulo, escreveu:“Faz tempo que a análise de tendências de comportamento se transformou em marketing de comportamento. Em vez de olhar a maneira como as pessoas se comportam, vendemos como elas deveriam se comportar para serem vistas como alguém bacana”.O articulista destaca que o século 21 será o século da mentira; e opapel da filosofia será destruir o marketing.
Além da filosofia, a psicologia econômica pode ser uma grande aliada, pois tem como objeto de estudo os nossos vieses cognitivos (atalhos mentais) e nos auxilia a pensar sobre eles. O que você precisa fazer, leitor, é pensar o pensamento; prestar atenção às motivações. Dessa forma você diminuirá a possibilidade de agir como autômato.
Terminando, segundo estudiosos da psicologia econômica, como Vera Rita de M. Ferreira e Dan Ariely, devemos também buscar compreender como funcionam as técnicas persuasivas utilizadas pelas empresas. Somente dessa maneira, nesse novo mundo, teremos alguma chance de vencermos a batalha, contra armas, germes e Silício.