Obsolescência das Profissões no Brasil
Em 50 anos, as mesmas ferramentas que hoje vivem fora do nosso corpo, estarão incorporadas ao nosso organismo e então nos perguntaremos se podemos mesmo continuar sendo chamados de homo sapiens, pois novas tecnologias como a cibernética, a inteligência sintética, a criogenia, a engenharia molecular e a realidade virtual, mudarão para sempre o que significa ser humano.
À medida que os dias se passam, temos a ligeira impressão de que o mundo gira cada vez mais rápido, e com ele, as transformações ocorridas nas nossas vidas. É nítida a percepção das novas profissões que surgem com o avanço tecnológico, e consequentemente o decesso de várias outras. Há, contudo, uma desvantagem nessa relação profissões novas x profissões extintas: as novas estão ligadas às carreiras que lidam diretamente com tecnologia de ponta, e é comum percebermos que as pessoas que perderam suas profissões não estejam preparadas para lidar com a inovação. Especialização e atualização dos profissionais são fundamentais para que as novas e promissoras profissões sejam bem executadas.
Todos os funcionários aquinhoam de uma pretensão para com a organização e possuem uma noção clara do patrimônio que estão manipulando? Há parcela significativa de capacidade de expansão nesse interesse, ou seja, a pretensão excede de maneira imponente os haveres atuais?
Não seria a hora de os órgãos governamentais atentar-se para essa fragilidade no processo de geração de empregos, promovendo ou implementando práticas que levem as pessoas a atualizarem-se constantemente em suas atividades? Práticas que visem, não apenas às novas gerações, mas, e sobretudo, às gerações que durante 30 ou 40 anos, aplicaram suas mãos-de-obra nas relações de trabalho enfocando a especialização da profissão sem levar em conta o avanço da tecnologia.
Aos poucos podemos perceber que à medida que o tempo passa e a modernidade se aproxima, muitas coisas se tornam fora de uso. É plenamente entendível que criança nascida a partir de 2000 achará inusitado se receber de presente um disquete de 5,¼ ou um rádio comunicador – pager ou beep, por exemplo. Mimeógrafo, nem pensar... E o que dizer do monóculo?
Infelizmente a obsolescência não se restringe aos objetos, mas algumas práticas, hábitos, convenções, tradições e até mesmo profissões também. É bem verdade que hoje temos a figura dos chamados “youtubers” e muita gente já se sentiu induzido pelos “digital influencers”, contudo, no passado, muitos de nós já precisaram da confluência da antiga moça do 102 para fazer um telefonema simples.
Mudanças cada vez mais drásticas e transformadoras ao longo dos anos são o resultado das inovações tecnológicas, as quais agem de forma significativamente no mercado de trabalho.
Profissões operacionais, gradualmente vão cedendo lugar às carreiras que lidam diretamente com tecnologia de ponta. Diversas profissões foram obliteradas, devido à substituição de trabalhadores por máquinas e, hoje, apenas fazem parte do passado.
Ocupações como datilógrafo, chapeleiro, telegrafista, alfaiate, arquivista, engraxate, entre outros, são desconhecidas para muitos das gerações Y e Z. A primeira, também chamada geração do milênio ou geração da internet, conceito emprestado da Sociologia que se refere, segundo alguns autores, como Don Tapscott (A Hora da Geração Digital – 2010), à corte dos nascidos após 1980 e, segundo outros, de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, sendo sucedida pela segunda, geração Z, comumente abreviada para Gen Z, também conhecida como iGeneration, Plurais, Centennials ou Post-Millennials, definição sociológica para declinar a geração de pessoas nascidas de 1988 até o ano de 2010, enquanto outras passaram por grandes modificações (LIMA, B. Entendendo As Gerações Veteranos, Boomers, X e Y, setembro de 2015).
Com o passar do tempo, a propensão é que mais ofícios sejam extintos, devido ao surgimento de novas ocupações ligadas à área tecnológica, e com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo e técnico-científico, tende a exigir trabalhadores mais qualificados e preparados. As inovadoras e auspiciosas tarefas têm necessidade de aperfeiçoamento, expertise e reciclagem constante dos profissionais para que sejam bem executadas.
O mundo do emprego é muito dinâmico, voraz e seletivo. Há alguns anos as pessoas poderiam ganhar dinheiro investindo em uma lan house. Anos depois poderiam trabalhar com vídeo-locadoras ou lojas de revelação de fotos, ou ainda como cobradores de ônibus. Hoje em dia esses empregos são raros e tudo por conta da própria dinâmica do mercado e necessidade de aumento de lucro.
As chamadas “lan houses”, por exemplo, foram perdendo espaço com a introdução dos smartphones e acesso wi-fi; já as vídeo-locadoras foram substituídas gradativamente pelos “downloads” e serviços de streaming; já as lojas de revelação de fotos, deram lugar às badaladas “selfies” e hoje é possível fazer álbum inteiro pela internet, enviando as fotos digitais para lojas especializadas, através da internet, e receber seu álbum com toda a comodidade em casa, pelos correios, ou outro serviço similar, com fotos, não reveladas, mas impressas.
Foi muito comum vermos, durante muito tempo e sobretudo em minha infância e adolescência, a presença do fotógrafo "lambe-lambe", que tirava nossas fotos instantâneas a partir de uma câmera formada por uma caixa com lente objetiva apoiada em um tripé, onde as fotografias eram reveladas na hora, ou fotos fornecidas nos monóculos: pequenos dispositivos fabricados em poliestireno injetado - um tipo de plástico - com o formato cônico, onde uma extremidade continha uma imagem (foto) e a outra extremidade uma lente de aumento para visualização, mas isso, como podemos ver, é coisa do passado.
A reinvenção é mais abrangente que a inovação, pois inclui a conversão a uma filosofia de checagem e avaliação contínua de métodos, processos e até mesmo de objetivos. A inovação pode servir para garantir a dianteira na luta concorrencial. A reinvenção pode servir para recriar todo um setor de atuação e até mesmo para revolucionar um mercado. (Reinventando Você – Carlos Alberto Júlio, 2011).
Ainda segundo Carlos Alberto Júlio, à medida que a inovação se liga à metodologias e coisas, a reinvenção liga-se diretamente ao pensamento, a mola propulsora de todas as grandes transformações na história da raça humana. Para que uma empresa se reinvente, ou seja, para que ela seja moderna e com alta aptidão a se reformular, mediante as transformações e exigências do mercado, seus gestores necessitam ter a humildade e a disposição de também se reinventarem.
Prever a extinção de um determinado ofício, no entretanto, não deve ser necessariamente algo enigmático. Essa capacidade de observar as tendências e antecipar-se às mudanças, cabem exclusivamente ao profissional, e para isso às vezes precisamos nos adiantar em dez ou doze anos. Precisamos estar sempre nos reciclando, abertos ao aprendizado de novas tecnologias e examinando as alternativas possíveis para aquela área de atuação. Para tal, é necessário que se “quebre” paradigmas e exercite a resiliência. Profissão como carteiro, por exemplo, possivelmente está ameaçada pela queda no volume de correspondências e consequente aumento nas trocas de e-mails, ou motoristas profissionais, ameaçados pelos carros autônomos. Todavia, uma empresa de logística oferecerá diversas possibilidades de trabalho, já que a entrega de compras feitas pela internet só aumenta, e trabalhos autônomos como Uber, Cabfy e outros, possibilitam o desenvolvimento de profissões mesmo com carros autônomos. Sem especialização o profissional certamente encontrará enormes dificuldades para se manter e sobreviver.
Diante de tudo isso, como nos preparar para mantermo-nos empregados? Como identificar a necessidade de mudar de profissão, antes que ela morra? Como identificar, entre tantas, a corrente profissional que nos dará maior sobrevida? Onde encontrar os gurus que nos indicarão o caminho, já que os que nos trouxeram até aqui se encontram tão perdidos quanto nós? Como ficam os “cabelos grisalhos”, tendo em vista a dificuldade do processo e os valores dos benefícios previdenciários? E o que devemos fazer para preparar as próximas gerações para inclusão no mercado de trabalho?
Pode parecer muito estranho e ao mesmo tempo soar como profético, mas é provável que não só as nossas profissões não estejam mais aqui, mas a própria espécie humana, como a conhecemos hoje, estará à beira da extinção num prazo de 50 anos. Não que a raça humana deva desaparecer, mas estão sendo criados “híbridos”, e cada vez aumenta a quantidade de tecnologia nesses chamados híbridos, numa espécie de endossimbiose forçada. Tanto assim que cientistas já falam em um sétimo reino, denominado Technium, o mais novo reino do planeta.
Novas espécies de tecnologia nascem diariamente, evoluindo numa velocidade espantosa. Muito fácil de ser observada nas imagens de pessoas segurando smartphones, usando óculos de realidade virtual, ajustando dispositivos de bluetooth nos ouvidos, correndo com tocadores de MP3 presos aos braços, crianças num berço brincando com tablete.
E isso é só o início, pois já há práticas de introdução de chips de computador no cérebro, introdução de nanorrobôs no sangue, para “comerem” colesterol ruim ou células adiposas, controle de membros sintéticos pela mente, uso de ferramentas genéticas como o sistema CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Inter espaçadas, consiste em pequenas porções do DNA bacteriano compostas por repetições de nucleotídeos para modificar nosso genoma e, literalmente engenhar uma versão melhorada de nós mesmos.
É uma nova ferramenta de edição de genoma que pode transformar esse campo da biologia e permite que cientistas modifiquem genomas com uma precisão nunca antes atingida, além de eficiência e flexibilidade.
Em 50 anos, as mesmas ferramentas que hoje vivem fora do nosso corpo, estarão incorporadas ao nosso organismo e então nos perguntaremos se podemos mesmo continuar sendo chamados de homo sapiens, pois novas tecnologias como a cibernética, a inteligência sintética, a criogenia, a engenharia molecular e a realidade virtual, mudarão para sempre o que significa ser humano.
Reconhecer o que é a transformação social, que desperta sentimentos inimagináveis, é uma tarefa muito difícil por que se trata de reconhecer inovações, da luta que o novo trava para se instituir. E para isso se faz necessário certos cuidados: não se enganar com as aparências do que vem acontecendo na atualidade. O desemprego é sinal de revolução?
É provável que nos acusem de mania de revolução, de ver fantasmas onde reina a tranquilidade. Ao caracterizar os personagens sociais em tempos de transformações, insiste-se naquilo que parece imóvel, mas cujas transformações são inegáveis. Desta maneira, o nosso ponto de partida (o pressuposto) da análise das profissões não é outro senão o movimento da sociedade e que também é o ponto de chegada: a sociedade em movimento.
Nela se engendram condições para que personagens sociais como por exemplo, o acendedor de lampiões produza sua existência acendendo lampiões. Dela também se desenvolvem os elementos de sua superação. Mas tanto quanto um trabalhador, homem ou mulher, tem filhos, amigos, pertence a uma época social. Seu pai era acendedor de lampiões, assim como seu avô e seu bisavô, mas ele não consegue mais sobreviver desta forma. Ele não acende mais lampiões. Por mais breve que seja a tempestade que ele viva, decorrente desta transição em querer ser e não conseguir mais ser, uma dolorosa transição se instaura. Não há dificuldade maior de análise do que uma realidade indefinida, de fisionomias indecisas. Nela, nem tudo é negatividade. Os clássicos são clássicos apenas porque têm a capacidade de refletir sobre a atualidade, ainda que estejam distantes do tempo e das tempestades que vivemos. As potencialidades são contraditórias.
Mais importante do que nos preocuparmos com as profissões se se extinguiram, é nos preparar para as gerações vindouras. Sabemos que o processo de Recrutamento e Seleção utilizado no Brasil ainda é muito arcaico, não sofreu mudanças significativas. Em contrapartida a todo momento chegam ao mercado recém-formados da geração Z, também conhecida como iGeneration, com novas ideias, novas necessidades. Tanto assim que empresas como a Heineken, WibiData, Microsoft, Cyrela, Jonhson & Johnson e tantas outras, estão inovando em seus processos seletivos: jogos eletrônicos que demandam raciocínio lógico, criados especialmente para o processo seletivo; reality show; jogo virtual inspirado no The Sims...
Essas são algumas das técnicas inovadoras implantadas por empresas de ponta para selecionar novos trainees ou estagiários, todavia, nenhuma dessas empresas são brasileiras, pois continuamos com as velhas técnicas de processos seletivos arraigadas a anos, com seus testes psicológicos e ferramentas de mensuração dos resultados obtidos.
Precisamos mesmo é de um trabalho conjunto: investimento do governo em áreas de ponta, sobretudo de tecnologia, promovendo ou implementando práticas que levem as pessoas a atualizarem-se constantemente; adequação à essas tecnologias, das pessoas que entram no mercado de trabalho, e mais do que isso, dos profissionais que se especializaram em operações manuais; inovação nos processos de R&S e T&D, para direcionarem de forma eficaz essas novas forças de trabalho.