ANGOLA - SOU FILHO DESTA PÁTRIA ?
Portugal até à data da independência de Angola, 1975, era um país europeu cujo desenvolvimento industrial não era grande e sua sobrevivência económica desde há algumas centenas de anos dependia muito da exploração dos recursos naturais de suas colónias, tais como o ouro, café, algodão, etc., pois sempre teve poucos recursos naturais além de ser pequeno geograficamente e socialmente atravessava muitas dificuldades e estrangulamentos e a Revolução dos Cravos foi o despoletar de uma granada social.
O Qatar, Dubai, Israel e tantos outros países, são pequenos em termos de recursos naturais e no tamanho geográfico.
O Qatar e Dubai e outros países, até à independência de Angola, eram nações economicamente menos sustentáveis e até menos desenvolvidas do que Angola apesar desta estar a ser governada à época por Portugal.
Este domínio colonial injusto de Portugal, obrigou o povo angolano a uma luta física, mental e espiritual pela sua independência.
Esta luta pela liberdade pressupunha que a nova nação angolana seria independente e trilharia o caminho do desenvolvimento sustentado, em todos os sentidos.
Hoje, 2019, fazendo uma retrospectiva profunda de todo um passado e presente, os filhos desta nação angolana, independente há quarenta e quatro anos, perguntam a seus avós e a seus pais vivos ou que já se foram, perguntam a seu país e aos seus líderes :
• Vocês, senhores e senhoras, vocês os mais velhos que já se foram ou estão vivos felizmente, cabia-vos a tarefa de lutarem por uma dignidade e por uma independência justa e nessa labuta difícil muitos morreram, outros ficarão órfãos ou feridos, tantas guerras, tantos sacríficios, tantas famílias destruídas, tantas vidas que se foram sem cumprirem ao que vinham e tinham tanto para dar….
• Após todos estes anos, dezenas de anos, na realidade quais os aspectos em que Angola se desenvolveu e se destacou realmente e de forma sustentada, ambiental, social, económica e espiritualmente ?
• Nestes tempos de independência, nem os cemitérios escaparam, lugares que deveriam ser sagrados e de veneração pois lá moram os entes queridos ou não e moram as mais velhas e os mais velhos que tanto lutaram por uma causa angolana e por uma independência verdadeiramente sustentável.
• Antes da independência, Angola era um dos territórios em processo de desenvolvimento acelerado.
• São angolanos os que sempre decidiram e decidem os rumos deste país.
• Porquê então esta confusão económica, social e ambiental que se vive neste final de 2019 ?
Em 2017, com a economia angolana a sofrer a pressão da ganância, corrupção e desgoverno após o advento da paz em 2002, com cem kwanzas compravam-se cerca de dez pães, porquê agora com o mesmo valor apenas se compra um pão ?
Atenção pois está-se a falar de uma Angola terra abençoada, está-se a falar de um território extremamente rico de natureza e extremamente rico de um povo pacífico na sua grande maioria e que apenas deseja seu próprio desenvolvimento sustentado e de seus filhos.
Não se fala de um país ou de um território que apenas tem petróleo, areia e sol e poucas mais riquezas naturais.
Se se falasse de um país pobre de natureza, até se poderia compreender as imensas dificuldades que Angola atravessa neste inicio do século XXI.
Porquê então Angola vive estas grandes dificuldades económicas, ambientais e sociais?
As actuais medidas económicas orientadas pelo FMI e com o aval do executivo angolano chefiado pelo ex-Ministro das Finanças sr. Archer Mangueira, são medidas com lógica sustentada mas a realidade angolana é outra, não é uma realidade nova-iorquina em cuja cidade o FMI tem sua sede, e deveria haver mais cuidado na implementação dessas medidas propostas para Angola, nação muito diferente da americana, nação africana com influências diversas planetárias.
Qual o sentido lógico de medidas económicas que estão a colocar muitos angolanos à fome, principalmente os mais desfavorecidos e eliminando-se cada vez mais a classe média económica que já não era muita e a sua classe intelectual que também não é muita e vive muito estrangulada financeiramente ?
Considerando uma lógica inteligente universal, uma lógica básica, no presente e num futuro imediato estas medidas económicas não estão certas pois há muita gente a morrer de fome, de sede e de saúde.
Se os angolanos forem cada vez menos, o que adiantam medidas económicas que só poderiam dar certo num futuro a médio ou longo prazo, por mais sábias que sejam?
Quem pode afirmar que estas medidas económicas são as mais correctas se muitos milhões de angolanos estão a definhar de fome e a encherem os cemitérios?
O que vai adiantar depois dizer que a economia está a melhorar? Os que definharam já cá não estarão e os filhos também não pois não têm ou não tiveram os pais para os sustentarem minimamente.
Qual a lógica destas medidas económicas, qual o seu fundamento real para implementação das mesmas se elas não têm uma sustentação na produção interna e na aquisição de divisas para dar lastro à moeda nacional ?
O Dubai e alguns outros povos árabes, quando decidiram reconstruir seus países de forma mais sustentada, deram os primeiros passos no sentido de constatar quais as suas riquezas naturais, promoverem a construção de uma economia fundamentada nessas riquezas e só depois disso avançaram para um outro desenvolvimento económico.
Por exemplo, se eles pretendiam reconstruir o país e tinham areia em abundância, imediatamente tomaram a decisão correcta de construir primeiro fabricas de vidro e de materiais de construção senão ficariam dependentes da importação especulativa. Este é apenas um dos exemplos.
É importante que o Governo angolano continue a governar mas com inteligência pois esse é o papel dos políticos e com o apoio dos empresários.
É preciso falar sim mas fazer mais agora, no presente, e não apenas num futuro que não existe.
Um dos responsáveis do executivo angolano que até há bem pouco tempo, finais de 2019, liderou as medidas económicas pensadas em New York e impostas pelo FMI, é hoje um homem de certa forma aposentado das decisões económicas mais importantes do país, hoje ele é governador de uma Provincia afastada do poder decisório.
Parece estranho que um responsável de tal dimensão e que foi o líder na implementação das medidas económicas que tanto afectaram e afectam Angola, hoje não acompanhe mais directamente o resultado dessas medidas.
Mesmo que ele fosse afastado de sua liderança, jamais poderia ser afastado de suas responsabilidades pois ele é um dos mentores dessas ideias e tem de assumi-las perante a nação, tem uma ligação umbilical com essas ideias e sua implementação.
Caso contrário pode-se dizer que esse responsável ou é um génio ou é o contrário.
Um professor ou cientista ou qualquer outro especialista em determinados conhecimentos, conhecedor de seu métier, nunca pode ser afastado de suas funções pois é um elemento fundamental na construção dessas mesmas ideias.
O sr. ex-primeiro ministro inglês Tony Blair, sem sequer conhecer Angola pois afirmou estar aqui pela primeira vez em 2019 e parece que também conhece mal África, basta lembrar sua decisão imprudente de invadir o Iraque fundamentando sua decisão em uma informação falsa, quando veio visitar o Presidente angolano João Lourenço, bateu palmas às medidas económicas recomendadas pelo FMI e adoptadas por Angola, afirmando que estas medidas eram as mais correctas e apropriadas para Angola.
Para poder falar dessa forma, o Sr. Blair deveria estar melhor informado pelos Órgãos de informação ingleses sobre a real e actual situação económica angolana.
O Sr. Blair sabe quantos angolanos morrem diariamente devido à fome e à falta de saúde? Tem essa estatística? Existe uma estatística nacional ou internacional de quantos angolanos estão a morrer diariamente nos cemitérios oficiais e não oficiais? Desde quando se fazem essas estatísticas e quem as faz?
Pelo que se sabe publicamente e através dos órgãos de informação públicos e privados, as únicas estatísticas não oficias mas reais sobre as mortes em Angola, são aquelas feitas por alguns funcionários bancários que se preocupam em controlar as contas de pessoas falecidas, seus familiares ou não, e para surpresa de muitos dos familiares desses falecidos quando, por direito, vão tomar posse destas mesmas contas, elas já foram amealhadas indevidamente.
O sr. Ministro Blair teve o cuidado de mandar verificar nos cemitérios angolanos, cemitérios oficiais e não oficiais, quantas pessoas são enterrados diariamente?
O que é melhor para eles, ingleses, pode não ser para os outros povos e assim tem sido desde há quinhentos anos e mais.
A economia implementada em África pelos europeus não foi a melhor economia com certeza pois trouxe muitos dissabores e desequilíbrios incluindo o ambiental que hoje em dia põe em causa a sobrevivência da espécie humana e outras.
Portanto, os povos ocidentais são os maiores responsáveis pelas incertezas económicas, ambientais e sociais que o planeta atravessa e diante disso qual deve ser a atitude mais prudente dos outros povos? Simplesmente aceitar como verdades aquilo que outros povos dizem mas não deu certo no planeta?
Podem os povos não ocidentais, tipo africanos, almejar e achar que podem construir um modo de vida semelhante àquele vivido pelos povos europeus e americano, modo de vida altamente consumista, sem limites, e ganancioso aonde os recursos da natureza são esgotados e pouco importando a qualidade de vida dos povos menos desenvolvidos?
O Sr. Blair, o sr. Boris Johnson, o Sr Trump, o Sr Puttin, o Sr. Presidente Chinês Xi Jinping e outros líderes, estão mesmo preocupados com os povos menos desenvolvidos? Ou olham apenas para seu umbigo? Estes líderes vão fazer sacrifícios e mudar suas personalidades para beneficiarem outros povos? Porquê então não o fazem? O que estão à espera? Ou estão contentes em seus cargos que os fazem de estatura elevada perante os seus ? Estão mesmo preocupados com o planeta ou estarão preocupados com o planeta deles exclusivamente ?
Os povos africanos devem copiar os modos de vida económicos ocidentais e outros modos de vida sem questionarem se esses modelos económicos são os mais correctos e equilibrados ?
Portanto, há que ter cuidado quando outros povos nos dizem o que é melhor para nós, tipo o pai que fuma cigarros ou toma drogas ou bebe e diz ao filho para não fumar ou beber.
Em conclusão, pode-se então questionar os pais da nação angolana, falecidos e ainda vivos, qual a herança real que deixaram e vão deixar para seus filhos.
Se essa questão não for devidamente respondida, há que ter humildade para reconhecer os erros, incapacidades, ganâncias e egoísmos e corrigir o que está errado urgentemente senão daqui a pouco, quando os actuais mais velhos se forem, os cemitérios continuarão a ser, como são desde a independência, lugares não sagrados e de faltas de respeito pelos falecidos que são nossos filhos, nossos familiares, nossos concidadãos e pelos nossos mais velhos pois faltou sabedoria na construção de uma nação angolana mais desenvolvida e sustentada.