ANGOLA - UMA ECONOMIA INVERTIDA

Após mais de um ano de um novo governo em Angola, estamos em inicio de 2019, após tanta esperança numa politica mais inteligente, competente, responsável, organizada, após um tempo de espera pragmática, há hoje uma frustração na expectativa de muitos cidadãos e das empresas mais responsáveis.

Não são muitas as empresas em Angola que trabalham ou têm interesse em trabalhar fundamentadas nos três pilares básicos da nova economia global, os pilares económicos, sociais e ambientais.

São estes pilares que permitem uma economia moderna sustentada neste século XXI e um PIB que representa o desenvolvimento holístico e real dos países e seus povos.

Há menos de um ano atrás, cem kwanzas compravam dez pães e hoje este mesmo valor compra cerca de três pães.

A grande maioria dos cidadãos vivem de salários e não têm possibilidades de obterem outros recursos financeiros.

Mas diante dos resultados diários e reais da politica económica atual, há desalento por parte das empresas mais organizadas e responsáveis pois o esforço de sobrevivência é grande e muitas vezes as empresas parecem andar para trás como caranguejos aos sabor das ondas e com perspectivas de um futuro incerto e até tenebroso.

Mesmo que uma empresa se esforce e consiga vender mais, o que ela depois vai fazer com os kwanzas das receitas? As empresas não podem ficar apenas a comprar e investir em matérias-primas.

Os juros bancários das aplicações a prazo estão abaixo da inflação e não compensam a desvalorização do kwanza.

Investir em divisas é difícil pois estão pouco disponíveis no mercado formal e até informal e o câmbio é desmotivador diante dos preços da economia real.

Qual a motivação que as melhores empresas angolanas e outras empresas menos boas, principalmente as empresas industriais e agro-industriais, têm na ampliação e na diversificação desta economia angolana se a burocracia estatal desnecessária continua, se as dificuldades Institucionais governamentais continuam impedindo um salutar desenvolvimento económico, se os decisores públicos pouco parecem entender de economia de mercado livre competitivo e de qualidade e se a moeda nacional perdeu seu poder de compra de uma maneira muito abrupta?

Ninguém de bom senso, empresário nacional ou estrangeiro, está interessado em aumentar sua carga de trabalho e seus compromissos económicos/financeiros e investir numa economia com juros de crédito bancário na ordem de trinta por cento e um retorno do investimento muito baixo pois a população e as empresas perderam seu poder de compra.

Exceptuam-se os casos de negócios de compadrio ou de privilégios institucionais ou acordos entre governos.

A politica económica angolana, neste novo governo, deveria primeiro ter começado a organizar-se internamente através da diminuição de suas despesas publicas, aumentar suas receitas, pôr em ordem a economia interna, diminuir a corrupção e má gestão das empresas públicas, diminuir a burocracia, acabar com as dificuldades Institucionais impeditivas de uma economia equilibrada, organizar o mercado informal, eliminar o mercado informal desonesto, etc..

Só após se verificarem melhorias na economia interna de Angola, pode-se permitir a oscilação cambial do Kwanza em busca de um valor mais real e equilibrado comparativamente à moeda externa.

O efeito da desvalorização cambial abrupta e descontrolada, teve um efeito perverso na já de si frágil economia angolana e, como resultado disso, as empresas e os cidadãos perderam muito de seu poder de compra e ficaram desmotivados e com perspetivas de vida económica futura muito preocupantes.

Para que Angola reverta esta crise económica, principalmente a cambial, é necessário voltar a valorizar (apreciar) o kwanza em relação às outras moedas e para isso Angola necessita de recorrer a empréstimos externos pois as divisas obtidas com as receitas do petróleo e outras não são suficientes para equilibrar a economia e dar lastro e pujança ao kwanza.

Angola, como ´nação potencialmente muito rica, desde que seja competente, responsável, realista e pragmática e assessorada com rigor e experiência, tem cacifo para negociar empréstimos externos mais favoráveis com países ricos e disponíveis, negociar empréstimos financeiros suficientes para investir corretamente numa economia estratégica, sem deixar que sua moeda seja tão desbaratada e depreciada.

Angola pode dar como garantia suas riquezas inexploradas que poucos países no mundo têm desde que seus líderes sejam totalmente conscientes de suas responsabilidades e que país pretendem construir.

Por outro lado, neste inicio de 2019, o Governo permitiu que as empresas devedoras ao Estado e que tenham de pagar multas e juros sobre essas dividas, estão isentas desses pagamentos.

É claro que estas empresas ficaram motivadas.

Mas qual a motivação que o Governo dá às empresas que durante estes anos conseguiram cumprir com suas obrigações perante o Estado e nada devem a este e continuam a esforçar-se por cumprir com suas responsabilidades mesmo diante de uma economia de caranguejo?

Será que estas empresas cumpridoras e de qualidade em Angola são tão poucas e por causa disso não são visíveis ao olhar do Executivo?

Cumprir com as obrigações e responsabilidades económicas e fiscais, é um dever de cada um ou de cada empresa.

Mas o Governo deveria dar mais atenção às empresas cumpridoras, incentivando-as de alguma forma, e caso isso não seja feito está-se perante uma economia desmotivadora ou seja, promove-se uma economia não cumpridora e uma competitividade empresarial desonesta.

É necessário reverter rapidamente esta critica situação económica desmotivadora senão Angola terá muitas dificuldades na construção de uma economia diversificada, com mais qualidade e mais competitiva.

O Governo, a nível nacional e provincial, deve prestar mais atenção a cada uma das suas melhores empresas privadas angolanas, torná-las modelos, escutar o que cada uma, individualmente, tem a dizer sobre as medidas económicas actuais e motivar estas empresas com potencial a investiram mais pois quem sobreviveu até hoje, de modo próprio, já demonstrou capacidade, competência e responsabilidade e são estas empresas o garante da diversificação e de uma economia nacional mais forte.