Karl Marx em seu clássico livro: "O 18 brumário de Luis Bonaparte" no primeiro capítulo diz uma frase que virou emblemática para muitos setores da esquerda: “Primeiro a História se repete como tragédia e depois como farsa”. Sendo adeptos ou não da linha marxista quem possui um mínimo de percepção social sabe que esse axioma representa de maneira profunda a atual conjuntura brasileira.
O fenômeno dessa economia dos eleitores bolsonaristas irá repetir o velho engodo das eleições de 1989. Sabemos o que o Collor verde amarelo fez com a economia: criou um choque técnico no mercado, confiscou o dinheiro de todos, quebrou diversas empresas e deixou uma hiperinflação de 2700% na mão no seu sucessor Itamar Franco. Collor trouxe a tragédia.
Quase 30 anos após o caçador dos marajás, surge uma nova desventura. A economia ultraliberal da escola de Chicago, seguida por Paulo Guedes, prevê uma privatização total dos ativos do país. O que segundo o mesmo: “irá gerar uma receita de 700 bilhões para sanar os problemas da dívida pública e os seus juros contraídos desde a ditadura militar”.
Ademais, Paulo Guedes entende que o processo de liberação da economia irá criar maiores ofertas de emprego já que o empresariado poderia investir no mercado interno. O posto Ipiranga entende de números, todavia, possui um lapso histórico. Deixe-me explicar...
Antes da Revolução de 1930 o Brasil era um país irrisório do ponto de vista monetário. Getúlio Vargas herdara a velha economia latifundiária do café e os proventos da nossa riqueza eram basicamente vindos de exportações espúrias no mercado externo. A produção nacional era, outrossim, pífia. Com a intervenção do Estado e uma política nacional
desenvolvimentista criou-se a indústria, implementou-se diversos empregos na área de engenharia, investimos e criamos universidades públicas, alavancamos grandes obras de infraestrutura como a ponte Rio Niterói, a usina de Itaipu e, com a redemocratização, foi implantado o Sistema Único de Saúde (SUS). Em outras palavras, temos uma historicidade onde o Estado construiu o país e não o mercado.
Não será possível uma equação de Estado mínimo no Brasil por uma simples razão: quando se abrir a economia de maneira total o empresário não irá investir no mercado interno, gerando empregos para os brasileiros, expandido o crédito e ampliando o consumo das famílias como se pensa.
O grande baronato irá colocar seu dinheiro na especulação financeira e no rentismo, isso sim. A cultura do empresariado brasileiro não é mesma dos americanos. Paulo Guedes quer transformar a economia dos trópicos em Miami com um desenho que não respeita a idiossincrasia econômica tupiniquim.
Ora, é até perceptível esse seu raciocínio já ele que fora educado pela cartilha do seu guru Milton Friedman aos longos de vários anos. Outro adendo histórico: o economista bolsonarista nos anos 70 deu seus pitacos econômicos na ditadura de Pinochet. Deu no que deu, quebrou o país. O Brasil precisa fazer a reforma da previdência, precisa ajustar as suas contas públicas, precisa manter o seu tripé macroeconômico - mas não através dessa sandice proposta como pseudociência de teoria neoliberal.
Do outro lado, o PT não mostra um projeto crível economicamente ao longo prazo. Acha que poderá continuar a governar sem equilibrar as contas públicas, gastando mais do que arrecada e a partir daí gerar superávit econômicos, tirar o país do desemprego, resolver contradições sociais de miserabilidade como em um passe de mágica. Isso é pura falácia.
O Brasil, nessas eleições, está entre a cruz e a espada. Quem sofrerá não serão os escroques políticos de sempre - mas sim, o povo trabalhador pobre e assalariado que troca o seu tempo por um óbolo indigno e aviltante para com a dignidade da pessoa humana. A farsa chegará, como diria o velho Marx.