ARTIGO – Administração pública – 01.06.2018
Ao longo dos anos fui aprendendo que administrar seria assim como fazer as coisas através das pessoas. Da administração, como parece claro, deveria fazer parte as seguintes atividades: planejar, organizar, nomear, designar, dirigir e controlar, entre outras.
O tempo mudou, as condições, quase todas, são outras, de sorte que a computação se assenhoreou de tudo, tornando mais fácil ao administrador a condução dos negócios, de maneira que passou a dispor de meios mais rápidos e seguros de levar as empresas a situações mais agradáveis do que outrora, quando tudo era feito na base do lápis , papel na mão e uma máquina de datilografia; nem de telefone todos dispunham para exercer suas funções.
Ora, a arte de administrar é tarefa muito fácil, haja vista que até o chefe de família, mesmo sendo analfabeto, dirige a sua casa em vários momentos, inclusive aquele de saber se está caminhando para o prejuízo ou lucro. No caso de prejuízo, que é o mais normal, ele procura, de logo, reduzir despesas, gastar menos, etc.
Agora, ser presidente da PETROBRAS, empresa do governo, não deve ser diferente, salvo numa medida e extremamente contrária aos interesses da população brasileira, qual seja a faculdade de aumentar seus preços na medida em que o valor do dólar oscilar no mercado. A receita do sucesso está aí, sem dúvida. Qualquer pessoa poderia assumir o comando da petrolífera sem necessidade de ter tantos títulos de formatura aqui e no exterior, mormente os de mestrado, doutorado, etc.
Como se sabe, o valor do dólar é sempre superior ao nosso combalido real, varia de acordo com o mercado externo, mas ocorre que aqui quem comanda as desvalorizações de nossa moeda é justamente o Banco Central, que é um órgão do governo, a quem também compete cuidar da inflação e das reservas monetárias do país.
Essa movimentação de hoje, qual seja a troca do presidente da empresa, me fez lembrar um episódio que ocorreu há quarenta e sete anos, que vou procurar resumir, a fim de não cansar os meus leitores. Meu amigo Nobre era chefe da Carteira Agrícola do BB na cidade de Cuité, na Paraíba (cuja história é outra), quando a Direção Geral o consultou se toparia assumir a gerência da filial em Bacabal (MA). Desejando fazer carreira aceitou, de pronto, tal encargo, sem saber ao menos os motivos que levaram os administradores daquela agência a perder suas funções.
Reuniu sua família num alvoroço medonho, contratou o frete de um caminhão qualquer para levar os móveis à cidade em apreço, numa distância de mais de mil quilômetros, sendo quase a metade sem asfalto, de piçarra, nem precisando dizer do estado em que chegaram ao destino.
Vejam bem a situação que encontrou: a) – agência deficitária; b) – pouca captação de recursos; c) – cerca de 80% das operações em curso anormal, a maioria vencida; d) – expediente de nove às doze horas; e) – funcionários em demasia; f) – filas enormes. Nem quis falar no restante dos problemas, que é bobagem. Pensara consigo mesmo: “O banco botou pra me lascar ou me promover com essa nomeação”!
Assumiu em março de 1971. Já em junho do mesmo ano a sucursal apresentara lucro, pequeno, mas era o recomeço duma nova fase. Daí em diante – e Deus é testemunha disso – nunca mais deu prejuízo, havendo casos de ter dado lucro até maior do que algumas capitais menores do país. Não se trata de milagre, mas trabalho de qualidade: Campanha rigorosa de recebimento de empréstimos vencidos e de captação de depósitos do público; o expediente passou a ser de nove às quinze horas para o publico, e de oito às dezesseis horas internamente, acabando-se com as filas. Os juros aplicados eram baixos e subsidiados na maioria dos casos. Evidente que lhe perguntaram quem foi que o ensinou tudo isso (?) e a resposta foi simplesmente: Ninguém, somente bom senso.
Sobre a saída do Doutor Pedro Parente da Presidência da PETROBRAS, que tem a ver com a política de preços por ele encetada na empresa, considero mais do que justa, porquanto não é uma casa de câmbio, mas uma atividade altamente rentável, que não deveria punir os mais pobres como vinha fazendo. Como pode a gasolina do Paraguai, que é importada daqui, ser mais barata do que a nossa?! Admitir que o presidente duma estatal pudesse ter mais poderes do que o da República é conversa pra boi dormir. A meu pensar, os que são favoráveis a sua permanência devem ser grandes acionistas, eis que os lucros excessivos estavam amplamente garantidos.
O que ocorre, na verdade, é que somos autossuficientes na produção de petróleo bruto, de boa qualidade, que até o exportamos para países diversos, gerando bilhões de dólares. Todavia, à falta de refinarias e/ou operando as existentes em níveis abaixo de sua capacidade, como a daqui de Pernambuco, por exemplo, obriga a que passemos a comprar a gasolina e outros derivados a preços de mercado mundial. Qual a culpa que nos cabe nessa política nefasta dos governos?!
O produto causador da greve dos caminhoneiros foi o diesel, que é de demanda inelástica, isto é a procura é praticamente automática em face da necessidade de consumo dos pertinentes veículos, porquanto independe da vontade e não pode ser substituído por produtos similares. O governo teve de ceder em R$ 0,46 por litro do combustível, todavia terá de diminuir urgentemente os preços da gasolina e do gás liquefeito, eis que essenciais à vida no momento atual. O gás, por exemplo, chegou a ser vendido a R$ 100,00, mais de 10% do salário mínimo.
Depois dessa façanha o Banco se aproveitou dele, o Nobre, e o mandou tirar outras filiais do buraco. E ele o fez com muita dignidade, progredindo na carreira.
Ansilgus
Fonte: Pen-drive do ansilgus
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