O LADO CRUEL DA ATUAL CRISE
Postei, em minha página no facebook, anteontem, um texto curto em que - por justificadas razões - eu classificava aquela 5a. feira como, se não a melhor, uma das melhores vivenciadas por mim.
Dentre esses motivos, um que deixaria, como efetivamente conseguiu deixar, qualquer sexagenário orgulhoso de si, ao conseguir, em meio a uma crise tão aguda, uma convocação para assu-
mir - fruto de concurso a que foi submetido há um tempo - um outro emprego público (já sou aposentado como professor da rede pública es-
tadual).
Para cumprir exigências do processo admissional,
fui, ontem, submeter-me ao exame clínico que deveria atestar minha
aptidão para a assunção do cargo.
E foi ali, na clínica especializada nesse tipo de exames, que me deparei com o lado cruel da referida crise :
Quando lá cheguei, lá encontrei em torno de 20 pessoas a serem atendidas. Cada uma que era convocada para adian-
tar à recepcionista os dados pessoais antes do exame clínico propria-
mente dito, era feita a pergunta-padrão :
- Exame amissional ou demissional ?
Todos, absolutamente todos, respondiam como
que de forma combinada :
- Demissional.
Cada resposta desse tipo - dita por pessoas de
faixa etária entre 22 a 50 anos (incluindo pais e mães de família) era
ouvida por mim como se uma punhalada estivesse sendo desferida dire-
tamente contra mim (eu procurava mentalmente me colocar na posição
de cada um daqueles cujo semblante era de tristeza e abatimento to-
tais).
Quando chegou a minha vez, tamanho era o meu constrangimento (afinal, pela lógica, em situações similares a essa, eu -
pela minha idade de 65 anos) é que deveria estar dando a tão triste resposta à recepcionista) que mal consegui balbuciar "admissional".
E, quando o fiz - mesmo falando o mais baixo
possível - a resposta foi ouvida com aquele ar de surpresa por cada
um dos que ali se encontravam . Eles se entreolhavam como que per-
guntando aquilo que seria o lógico : "logo ele?!".
Ao retornar para o meu assento, apesar de saber que fiz por merecer aquela minha condição de iminente "admissio-
nário", até que fui convocado a adentrar o consultório do médico que
procederia ao exame, não consegui erguer o rosto para fitar cada um
daqueles companheiros de luta.
Ao lado daquele momento de tristeza para mim,
uma descoberta me acorreu :
Ainda que muitos de nossos colegas professo-
res reclamem (em grande parte, com razão) da falta de reconhecimento à nossa tarefa laboral, aí se incluindo a remuneração não condizente, mas, em situações como a atual, SER PROFESSOR É UM DIFERENCIAL : talvez seja UMA DAS POUQUÍSSIMAS CARREIRAS em que se consegue uma vaga de trabalho.
Momento terrível para mim, ontem, creiam.