INFLAÇÃO EM ALTA

Define-se inflação como aumento generalizado e persistente de preços. Nesse sentido, descartamos como inflacionário um grande aumento de um só item, como o tomate numa entressafra, por exemplo.

A divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) – o índice oficial de inflação medido pelo IBGE e que abrange famílias com renda entre um e quarenta salários mínimos – de novembro, 1,01%, mostra a persistência da alta de preços ao longo do ano, mesmo com o Banco Central (BC), responsável pela política monetária, elevando constantemente a taxa de juros (estamos com uma Selic de 14,25%).

Elevar a taxa de juros é o instrumento mais básico na luta contra a alta de preços, pois, com base na lei da oferta e da procura, teríamos as pessoas tendendo a gastar menos; e preços em queda, como consequência. Isto parece não estar ocorrendo.

A que devemos então essa persistência no aumento? Há alguns fatores.

Primeiro a desvalorização do real. O aumento da taxa de câmbio (isto é, dólar mais caro frente ao real) encarece as importações e estimula os exportadores. O câmbio pressiona insumos, via custos, e o repasse de cotações em dólares.

Segundo, tarifaço. Os preços administrados pelo governo são os principais responsáveis pela escalada inflacionária dos últimos doze meses. O governo mantinha-os sob controle, represando reajustes para conter a inflação. Após a eleição do ano passado, passou a reajustá-los até por conta do ajuste fiscal na economia. Energia elétrica com 51,27%, gasolina com 19,33% e gás de cozinha com 23% são exemplos. Se pensarmos que energia elétrica é um insumo básico em qualquer planilha de custos, sua alta cria uma espiral de transmissão inflacionária.

Terceiro, alimentos. Afetados por um regime de chuvas desfavorável, os alimentos acabaram sendo vilões, contribuindo para a “engorda” do índice de novembro. Vale lembrar que o grupo “Alimentos” possui um forte peso no cálculo do IPCA ( mais de 20%).

Mesmo com a forte queda da atividade econômica, o BC encontra dificuldade em sua atuação ante essa recomposição dos preços administrados e da pressão de custos via elevação da taxa de câmbio. Talvez a equipe econômica esteja raciocinado no sentido de fazer essa recomposição pesada de uma vez para que em 2016 haja uma acomodação dos preços.

De todo modo, ainda persistem nuvens escuras no horizonte econômico. Os reservatórios das usinas hidroelétricas estão operando abaixo de suas capacidades, o que pode indicar a necessidade de mais aumentos no ano que vem; e a Petrobras, envolta nessa crise, pressiona por mais recomposição tarifária de seus produtos. Mesmo sob um cenário recessivo, parece que o dragão continua fogoso em direção a 2016. Veremos!

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 09/12/2015
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