UM ESTRANHO NO NINHO?

Levy não está desgastado dentro do governo. Ele participou conosco de todas as etapas da construção desse Orçamento e tem o respeito de todos nós", disse Dilma.

A Temer o ministro disse estar preocupado com a situação econômica do país e reclamou da falta de respaldo da presidente. Segundo assessores do vice, Levy só não deixou o cargo porque "tem senso de responsabilidade".

Levy não falou em pedir demissão, mas deixou claro que está perdendo as batalhas internas – uma após a outra.

Levy foi derrotado em diversos embates na condução da política econômica do governo. Ele defendia cortes de gastos maiores, mas o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, preferia o Orçamento com deficit. Dilma ficou com a posição de Barbosa.

Os quatro trechos acima foram retirados, hoje, 03/09/2015, de matéria da Folha de S. Paulo.

Dilma parece viver um dilema a la Stevenson e seu Dr. Jakyll. Quando formou o ministério para iniciar o segundo mandato surpreendeu a quem nela votou (ao menos a mim foi assim), indicando Levy, funcionário do Bradesco e um economista de convicções liberais, como ministro da Fazenda. Para contrabalançar, nomeou para o Planejamento Nelson Barbosa, menos ortodoxo.

Desde então a presidenta parece navegar, na área econômica, num caudaloso dilema: apoiar os cortes do Mãos de Tesoura Levy ou acomodar posições intermediárias, ao que parece, capitaneadas por Barbosa/Mercadante. Mesmo bombardeada por todos os lados e tendo que negociar com um congresso hostil e mais conservador que a média dos últimos anos, Dilma parece não ter sucumbido inteiramente ao “canto da sereia” Levyano; embora tenha apoiado o ajuste fiscal proposto, centrado em cortes de benefícios dos trabalhadores, vira e mexe acaba desautorizando, ainda que de forma velada, seu ministro.

A sucessão de derrotas parece advir do fato de ambos terem uma convivência forçada e de não comungarem da mesma cartilha. Levy, até por convicção ideológica, é partidário de um ajuste à moda tradicional com cortes de direitos sociais, despesas públicas e um aprofundamento da recessão até o ponto em que, na sua visão, os empresários retomem a “confiança” e voltem a investir para uma retomada “virtuosa”. Dilma, mesmo que eivada de contradições e péssima no trato político, parece querer construir uma saída que em parte recupere a linha do seu primeiro mandato, preservando dos cortes levyanos programas sociais (como, p. ex., o Bolsa Família) e mantendo algum investimento público para que os efeitos recessivos não se aprofundem mais.

Se ela foi pusilânime aceitando a indicação dele, fica claro agora que o acerto não está ok; se ele achava que receberia “carta branca” para por em prática um ajuste recessivo, não a obteve. Querer agora equilibrar-se entre Dilma e Temer? Será que dá?

Apoio o envio da proposta orçamentária com deficit primário de 30 bilhões, afinal orçamento não é camisa de força. É mais uma peça de ficção que outra coisa!

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 03/09/2015
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