AJUSTE FISCAL E SUPERÁVIT PRIMÁRIO

Cuspindo nas promessas de campanha (não mexeria em direitos nem se a vaca tossisse) a presidenta Dilma, após a vitória no segundo turno da eleição de 2014, nomeou Joaquim Levy, até então funcionário do Bradesco, ministro da Fazenda. A vaca veio logo com coqueluche, pois o ajuste anunciado não só mexia com direitos trabalhistas, como também, via Banco Central, prometia uma política monetária contracionista, centrada em aumentos da famigerada SELIC. Tudo para produzir uma economia do setor público em torno de 70 bilhões de reais, o chamado superávit primário (receitas menos despesas do setor público – governo federal, estados e municípios – exceto juros e correção monetária).

Quando se faz um ajuste haverá perdedores, pois não se trata de um jogo de soma zero. No ajuste dilmesco, fica claro que o principal beneficiado é o capital financeiro, via aumento da SELIC e queda da atividade econômica. E os principais perdedores somos nós, trabalhadores e os setores médios da economia. Como alertou André Singer, parece que Dilma apostou numa queda de braço com o ramo financeiro e perdeu a briga (Dilma 1 foi centrado numa flexibilização do tripé câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário dos governos Lula): houve queda da taxa de juros, algum controle na entrada de capitais – forte valorização do real frente ao dólar – e redução da meta de superávit primário.

Levy assumiu para exatamente enquadrar Dilma 2 no velho modelo e deixando à presidente, notoriamente ruim de comunicação, uma sinuca de bico: ter que nos “convencer” (a nós que nela votamos) de que ninguém vai sair “perdendo”. Rir para não chorar! Há quem aposte que não haverá recessão e logo voltaremos aos trilhos. Estou entre os que não apostam nessa trilha. Acho que teremos retração maior do que a queda que já vinha ocorrendo na economia e veremos pela frente, no mínimo, uns dois a três anos de baixa atividade. Quem estará certo?

Os reflexos já estão aí: demissões, aumento da taxa de desemprego, esfriamento do mercado imobiliário, desconfiança geral, atrasos de repasses e freio em obras que já eram tocadas, pois, como a intenção é poupar mais dinheiro para ser visto como um país “bom pagador de dívidas”, o Governo acaba guardando o dinheiro que poderia ser utilizado para obras e melhorias na economia (todos os gastos do Governo são considerados “despesas”, mesmo os investimentos!).

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 20/05/2015
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