Crise da Petrobrás e também uma Crise Mundial de Petróleo
É fato: Existe uma "crise" na economia mundial: a dramática queda do preço do barril de petróleo. Desde junho de 2014, quando atingiu o pico de 115 dólares o barril, o preço do petróleo caiu pela metade. Porém, nesta última semana de 2014, o barril está sendo vendido por cerca de 60 dólares.
Vários fatores se somaram para que isso acontecesse, mas você pode resumir a explicação na tradicional lei da demanda e da oferta.
A produção de petróleo, hoje, supera amplamente o consumo.
Isso está ligado à crise econômica mundial. A China, por exemplo, está com a sua economia se desacelerando, logo, está consumindo muito menos petróleo do que em anos anteriores. O mesmo ocorre com outra potência, a Alemanha.
Os Estados Unidos, tradicionalmente os maiores importadores, está quase auto-suficiente, graças ao shale oil — saudado como uma revolução no campo energético. O shale oil vem da extração de gás e petróleo do xisto, um tipo de rocha.
Reduzida a demanda de petróleo no mundo, era esperado que a OPEP, a organização que congrega os países que mais exportam petróleo no mundo, baixasse sua produção, para sustentar o preço alto.
Mas não fizeram isso.
Para surpresa de economistas do mundo todo, a OPEP, numa reunião em novembro de 2014, decidiu manter a produção nos mesmos níveis.
Foi quando o universo do petróleo entrou em convulsão, e os preços começaram a baixar assustadoramente.
Mas por que os produtores tomaram essa decisão?
Especialistas acham que o objetivo maior é matar o “shale oil” americano. A extração dele é muito mais cara. Caso o barril fique barato, a indústria do “shale oil” tende a se inviabilizar, e esta seria uma excelente notícia para os países da OPEP.
Mas efeitos muito mais imediatos da baixa da cotação estão já sendo sentidos em países como a Rússia, o Irã e a Venezuela. Todos eles dependem MUITO das exportações de petróleo para pagar suas contas.
Para o orçamento russo se manter equilibrado, o barril deve estar na faixa dos 100 dólares.
Economistas já preveem uma queda de 5% do PIB russo em 2015. O sofrimento russo deu margem a que fosse ventilada a teoria de que por trás de tudo estariam os Estados Unidos, empenhados em criar problemas para o presidente russo Vladimir Putin.
Faz sentido? Faz. Ou pode fazer. Mas o custo, para os americanos, é elevado. Sua florescente indústria de “shale oil” pode simplesmente se desintegrar.
E o Brasil, no meio disso tudo?
É fato que a queda no preço do barril de petróleo está causando impactos brutos na economia do mundo globalizado, mas no Brasil, praticamente só se fala na crise da Petrobras.
Até porque, no Brasil, os efeitos da crise no preço do barril de petróleo mundial ainda não é totalmente claro. Felizmente para nós brasileiros, há alguns benefícios: apesar de produzirmos petróleo como nunca, o Brasil também é um grande consumidor de petróleo.
Isso significa que as despesas da importação de petróleo se reduzirão substancialmente. É, também, um alívio financeiro para a Petrobras, que subsidia os consumidores brasileiros.
A Petrobras vende a gasolina no Brasil por um preço inferior àquele pelo qual ela compra. O subsídio se destina, primeiro e acima de tudo, a controlar a inflação do país.
Porém, a ameaça mais séria, para o Brasil, vem do pré-sal. Pois como o “shale oil” americano, a extração do pré-sal é mais cara que a convencional.
Alguns estudos sugerem que se o preço do barril chegar a 40 dólares, o pré-sal se inviabilizaria. Mas antes de nós, a primeira vítima seria a indústria americana de óleo alternativo.
Porém, é razoável supor que o barril não descerá muito além dos 60 dólares.
A OPEP disse que vai esperar alguns meses para ver o que vai acontecer. Pois um preço muito baixo do barril, por um tempo longo, poderia ser fatal para a OPEP.
Assim, é presumível que, em algum momento nos primeiros meses de 2015, a produção seja reduzida para que o preço se recomponha.
Enquanto isso, as companhias petrolíferas são ferozmente castigadas. Nos últimos seis meses, as ações da Goodrich Petroleum caíram 86%. As da Oasis Petroleum, 75%.
A desvalorização das ações da Petrobras é um caso entre muitos, e não é só causado pelas denuncias de corrupção, ao contrário do que a maior parte da imprensa brasileira noticia.