Onipotência na gestão – O dilema de João
Little Big João trabalhou muitos anos administrando empresas de terceiros. Tem perfil arrojado, não ouve muito as pessoas, trabalhou duro, chegou à gerência e acredita na sua capacidade empresarial.
Juntou algum dinheiro, montou uma empresa em sociedade com amigos, mas pela contundência de suas colocações acabou os afastando. Depois com um pouco de esforço comprou suas cotas. Agora é o comandante do navio.
Nosso pequeno grande homem, agora, tem uma empresa só sua e determinou que as coisas serão feitas à sua maneira, sem intromissões, palpites ou interferências.
Os projetos e desenvolvimentos de produtos deverão estar prontos em 48 horas. O ciclo de produção que era de 70 dias agora será de 45 dias. Nenhum pedido será recusado por causa de preço e prazo de entrega. Chegou a hora de mostrar aos concorrentes o poder de João.
Uma ação forte em vendas e rapidamente a carteira está explodindo com pedidos a entregar. O lema é : Tragam os pedidos e nós os atenderemos.
O volume de trabalho é tanto que a equipe de engenharia e desenvolvimento criou algumas categorias para os projetos, mas já não sabe o que classificar como prioritário, urgente e urgentíssimo. Não importa quantas horas tenham que trabalhar, para João tudo é possível !
Os fornecedores, sob o mesmo incentivo, aceitaram os pedidos de matérias-primas com prazos mais apertados, mas como não conseguem atender as datas de entrega vivem em reuniões com a equipe de produção e compras de João.
As equipes da fábrica, sob constante pressão, mudam os programas de fabricação a cada telefonema e abordagem dos clientes ameaçando cancelar os pedidos.
Os vendedores já não visitam mais os clientes, evitando cobranças dos pedidos não atendidos, e dedicam o tempo a reclamar e cobrar os gerentes de produção.
João tenta se multiplicar analisando o mau resultado da carteira dos próximos meses, cobrando a equipe de vendas, questionando seus gerentes, ligando para os fornecedores cobrando entrega de materiais, avaliando os custos que considera altos e precisa ser reduzido, preferencialmente com corte de pessoal, liberando horas extras para atender pedidos atrasados, correndo na fábrica para evitar perda de outros, assumindo responsabilidades por eventuais problemas com clientes e aprovando novos empréstimos para equacionar o caixa.
As reuniões, quando possíveis, para avaliação dos pedidos e encaminhamento de problemas, começam com discussões e terminam em lamentações e recordações dos bons tempos em que cada um dos presentes podia trabalhar com racionalidade.
Reduzir o volume de pedidos é proposta inaceitável, não se deve perder espaço para os concorrentes. Aumentar o prazo de entrega está fora de cogitação, não importa quantos argumentos sejam apresentados. João tem convicção que o prazo de 45 dias é suficiente.
Vender mais, atendendo as necessidades dos próximos meses, é factível na visão de João. Até lá, a maioria dos pedidos atrasados estarão nas mãos dos clientes, acredita nosso gestor.
Os bancos? Ah, sim os bancos! Eles continuarão a conceder crédito, afinal estão tendo lucro!
João tem uma equipe dedicada, com quem às vezes almoça, lamenta-se, conta suas histórias de sucesso, critica as opiniões, irrita-se, mas não a ouve, afinal nenhum dos integrantes tem sua visão e determinação, pensa ele.
Empresas como a de João aparecem e desaparecem todos os dias, algumas ainda resistem algum tempo.
João, quer sua empresa sobreviva ou não, continuará acreditando na sua enorme capacidade administrativa, não dividindo a gestão com ninguém.
Um dia, quem sabe, num segmento de negócios sem muita concorrência, sua onipotência até poderá dar certo.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial
(11) 4526 1197 / (11) 9645 4652
ivan@postigoconsultoria.com.br
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Twitter: @ivanpostigo
Um país se desenvolve com educação para gestão.
Educação gera competência;
Competência conduz à excelência administrativa;
Excelência administrativa à um futuro melhor.