Bem Estar no Trabalho

O artigo cientifico é a análise conceitual que, às vezes, fere à realidade porque se atém, ou aos fatos de maneira exaustiva, ou é teórico que não serve para o cotidiano. Ou é cientifico demais, quando em geral são textos baseados no metro quadrado do positivismo. Ou são filosóficos que, alegram os sentidos, mas, no funcionamento real, morrem porque são anti-utilitários. Em geral, o segundo tipo é chato, porque é crítico. O primeiro é chato porque é preciso.

Esse texto que segue é chato porque não é chato. Não é texto para a cabeça, mas para o coração. Quem quiser ler, leia porque goste, não por obrigação. Se você desconfia que o autor não é bom, não leia. Se você acha que o autor não tem estudo, não leia. Se você não conhece o autor [aí, ninguém vai ler] escolha. Se você acha que o texto não é de revista científica, não leia. Se você acha que o autor não sabe escrever, não leia. Resumindo: leia porque, sem querer você encontrou esse texto. Se você o recebeu em e-mail, delete, não foi em quem o enviou. Se você achou no www.recantodasletras.com.br, aí, leia, porque eu postei aqui somente para um grupo de alunos acessar, que também nem tenho certeza que o farão, já que de obrigação vive mesmo somente quem quer. Eu, e meu texto, vivemos é de prazer. Último recado: se você terminar de ler, e quiser me mandar uma crítica, obrigado, não quero receber. Se for um recado amoroso, fique à vontade. Gosto de elogios. De críticas, gosto não! O chato não é só o texto, o autor também. Última observação: isso aqui não é um artigo científico, e sim uma crônica. Mudei o estilo, porque cansei da ciência. Não falei isso no início, por medo. Perdi o medo. Detesto a ciência!

Vamos para o assunto. O presente texto descreve o que é o bem estar no trabalho. Trata-se de um artigo baseado em experiências pessoais e referenciado pela teoria psicanalítica de Sigmund Freud.

O bem estar está associado diretamente à qualidade de vida. Estar bem tem como consequência desempenhar bem suas funções. É muito comum, nas análise de Qualidade de Vida no Trabalho, olharmos somente para o lado organizacional, isto é, verificar como as Empresas estimulam seus empregados a terem qualidade de vida. Evidentemente que esse lado, é importante na análise, mas, no nosso entender não é suficiente.

O motivo é que o empregado, estando bem ou não no emprego, não necessariamente estará bem consigo mesmo. O fato da análise ser direcionada para o lado social, isto é, pelo viés da Empresa, não é suficiente para explicar o porquê de mesmo assim, um bom funcionário, por exemplo, ficar de mal humor.

Em outras palavras: não é a realidade que determina a consciência, mas a consciência que determina a realidade. Isso significa que estamos concordando com Hegel, ao contrário do que formulara Marx.

Nesse sentido, as questões psicológicas – embora alguns dirão que este artigo faz um reducionismo – são determinantes na compreensão e análise do comportamento, seja dentro ou fora da empresa. É claro que os problemas de pressão, as metas a serem cumpridas, o chefe autoritário, o desrespeito de alguns clientes, enfim, uma série de outros problemas afetam o comportamento do empregado na empresa. Afetar não é o mesmo que determinar.

Segundo Max Weber existem três tipos de liderança: a legal, a tradicional e a carismática. Conforme Weber afirma, a liderança legal corresponde àquela em que as regras são determinantes no trabalho. Existe uma preocupação com a carreira e há uma exigência contínua no cumprimento de prazos. Trata-se de uma liderança baseada nas questões metódicas nas Empresas. A liderança Tradicional não é baseada em regras, mas sim na experiência e está ligada principalmente à herança. O empregado mais velho, pelo tempo de casa, muitas vezes merece liderar. Tendo ou não muito estudo, seu “lugar” na empresa é preservado. A liderança Carismática está ligada, não às regras, mas à pessoa. O carismático é o funcionário que todo mundo gosta. Se dá bem com todos e é valorizado muito mais pelo que faz, do que pelo que tem (títulos) como muito estudo, etc. Não é a qualificação, o nível de estudos que o fará ser bem aceito na empresa. Mas, sim sua forma de conversar com os colegas e de manter as relações sociais com os clientes.

Ampliando essa discussão para o campo da Qualidade de Vida no Trabalho, podemos dizer que o estilo de liderança, ou chefia, afeta diretamente o comportamento dos empregados na empresa. Se o gerente é autoritário, se se trata de uma pessoa egoísta e que quer se manter no cargo a qualquer custo, mesmo que para isso, imponha metas extremamente competitivas, então, quem sofrerá serão seus subordinados. Sua equipe ficará comprometida, no sentido, de aumentar o sofrimento no trabalho justamente porque o chefe é extremamente exigente. Isso afetará o relacionamento dos empregados, entre si, prejudicará o andamento e a produtividade na empresa, além de gerar um mal estar nos empregados.

Isso acontece em várias empresas no Brasil. As de Call Center são um exemplo disso. O excesso de regras no trato com os clientes (muita pompa e pouca eficiência) mostra que os empregados sofrem muita pressão. É um cumprimento exagerado de rituais no atendimento ao telefone, que transformam o essencial em secundário. Ao invés de irem direto ao ponto, na solução do problema proposto, há um excesso de cadastro, informes, verificações, e pouca resolutividade do problema. É muito exame e pouco resultado. É muita conversa, e pouca ação. É muita teoria e pouca prática.

Isso acontece porque no treinamento oferecido nessas empresas há muita regra e pouca compreensão. Há muita instrução e pouco raciocínio. Existe muita cópia e pouca autonomia. Na verdade, esses empregados, em geral, pouco sabem do que realmente estão fazendo. São empregados com pouca capacidade de elaboração naquilo que dizem e fazem, e isso acontece justamente porque a empresa incentiva muito o treinamento e pouco a experiência. Talvez por isso, grande parte sejam funcionários novos.

Quando estão trabalhando, por outro lado, há exigências demais e recompensas de menos. A empresa não reforça os funcionários a aprenderem a fazer aquilo que elas exigem. As empresas não exigem solução de problemas e sim atender o maior número de clientes. Priorizam a quantidade em detrimento à qualidade. Se preocupam tão somente com o número, o dado, a estatística e nada com a satisfação, o problema resolvido, o plano alterado, a conta encerrada, a taxa retirada da fatura, etc.

Satisfação nessas empresas significa o cliente ficar no plano, ou não ir pra concorrência. Muitas vezes, o cliente permanece na empresa não pela qualidade do serviço, mas pela pressão que o setor de retenção impôs ao cliente, através de uma política de satisfação do cliente, que resgata aquele cliente que encerrou a conta, porque foi mal atendido.

A empresa exerce sobre o cliente, o falso carisma, que corresponde à política de regras, imposta por setores de gerenciamento que exigem o cumprimento de metas. Em outras palavras, o humano novamente se torna número e dado. Mera estatística.

É como a notícia na capa do jornal: “morrem 15 nesse feriado”. Não se fala, mais quem, o quê ou quem está morrendo. Já está “subentendido” que são pessoas. O trato desumano, a chamada Racionalidade Instrumental de Adorno.

Em resumo, a questão é: a liderança baseada em regras é desumana e gera mal estar, pois impõe ao empregado uma preocupação excessiva com os números, e diminui a capacidade desses empregados de tratarem melhor seus clientes. Isso acontece na seleção, na demissão, na gestão de pessoas e no atendimento ao cliente. Em todas as fases e setores da empresa, há essa tendência moderna do excesso de cobranças e pouco reconhecimento dos funcionários.

Essa afirmação pode ser contrariada pelo fato de que vão se dizer que as empresas precisam competir. Que o ideal de uma indústria é a concorrência, que toda empresa ou organização precisa lucrar, etc. Ora, não estamos questionando o lucro das empresas, e menos ainda que ela deva aumentar o seu número de clientes. Ao contrário, concordamos inteiramente que as empresas precisam lucrar e “ganhar mais”, mas, é preciso ser dito que a Qualidade de Vida no Trabalho é um fator propulsor à lucratividade nas Organizações.

O lucro, feito de maneira imparcial, como ocorre hoje em algumas empresas serve muito mais para banalizar o tratamento aos cliente, do que para garantir credibilidade. Quem gosta de uma empresa gosta porque foi bem tratado e não porque recebeu um desconto para compensar uma desavença.

Essa, a moda dos danos morais. O funcionário foi mal atendido no setor de crediário da Empresa, entra na justiça, ganha a indenização e tá tudo resolvido. Não está resolvido! O problema persiste. Houve apenas um reparo, trocado por dinheiro, de um prejuízo que é na verdade ético. Não é o dinheiro que supre o conflito, é a intransigência ou o desrespeito que precisa ser corrigido. Troca-se novamente o Carisma, isto é, a afeição, pela regra.

Voltando: a qualidade de vida está ligada à forma como as empresas tratam seus funcionários e consequentemente seus clientes. O funcionário é mal tratado na empresa, isso afetará diretamente o consumidor. Se a chefia na empresa fosse carismática, o funcionário seria outro. Trataria bem o cliente, porque é bem tratado em seu local de trabalho.

E o que é tratar bem as pessoas? É trocar o número pelo nome. É transformar o imparcial em parcial, trocar a meta pela vontade. Parar com "exigências" e substituí-las pelo interesse. O funcionário não tem que trabalhar por obrigação. Ele tem que ir para empresa, pelo prazer. É o prazer de acordar, conversar com os colegas de trabalho, ganhar seu salário que o fazem gostar do emprego. Não é a obrigação. O autoritarismo é justamente exigir demais e oferecer de menos. E o que o funcionário quer receber, não é apenas bônus, ou comissão, o que se quer é ganhar respeito e respaldo.

Na liderança Carismática prevale o interesse e a vontade. Prevalece o desejo de crescer, o relacionamento amigável com os colegas, e não somente chegar no horário, fechar planilhas, atender 50 clientes, etc. Isso não quer dizer que o funcionário fará o trabalho de qualquer maneira; ao contrário, ele continuará cumprindo as normas, mas o fará sem pressão e imposição. A norma tem que ser um meio e não um fim. É um meio porque o mais importante é trabalhar e conquistar os clientes. O fim, obviamente é garantir o lucro e a meta. Mas, a meta, a comissão, não são o principal, são o secundário. É justamente por ser o secundário, que o cliente é conquistado, porque o vendedor não está interessado somente na venda, mas sim em chamar a Dona Maria pelo nome e lhe agradar com um bom atendimento. E é porque Dona Maria foi bem tratada, que Dona Maria será uma cliente fiel. A fidelidade é tratar bem as pessoas, e a recompensa é que Dona Maria garantirá o sustento da empresa.

A quantidade é sempre importante, mas, com certeza, a qualidade é melhor. Não é quantidade que determina a qualidade, é o contrário. Não é a meta que está acima do ser humano, é o ser humano que precisa ser melhor atendido do que a meta. Cumprir metas não é fechar balanço de quanto se conseguiu. É saber como se conseguiu. Não é quanto, mas o como, que é mais importante. O quanto, é resultado da pressão, o como, do prazer. No quanto, houve esforço, mas haverá estafa. No como, há esforço também, mas, é esforço de prazer. No quanto, há suor desperdiçado em falas exageradas. No como, há conquista. No quanto, há o “ficar”; no como, há o “amor”. No quanto, há falsidade; no como, se é verdadeiro. No quanto, se é político; no como, "artista"! O quanto, mente para ganhar. O como, conquita para crescer! No quanto, se fala muitos gramas; no como, se mede o que se diz. No quanto, se olha, mas não se vê; no como, se olha mas se ver. No quanto, se tagarela; no como, se fala. No quanto, se é gramática; no como, é poesia. No quanto, se casa; no como, se ama. No quanto, é o ter; no como, é o ser.

O bom não é ganhar na megasena, mas o mais proveitoso é saber que sendo assalariado você conseguiu crescer. Quem acredita em mágica, esquece da realidade, vive de sonhos e não pensa efetivamente no trabalho. Transforma o real em fictício, quer ser patrão a qualquer custo, mas não foi um bom empregado, porque sempre quis ser empregador. Quem quer estar por cima, sempre ficará por baixo. Vontade de crescer a qualquer custo, gera desobediência. Quem muito quer mandar, nunca obedece. Vive querendo passar por cima de tudo e de todos e perde a oportunidade de aprender com os mais velhos. Só se preocupa com a produtividade, mas esquece sua produção.

E a liderança Tradicional? É justamente o que acabamos de mencionar anteriormente. É quem está preocupado com o estável e não quer vive instavelmente. É quem devagar consegue as coisas e não vive compulsivamente o presente. É quem trata o Outro com respeito, e não fica interessado somente em metas. É quem não abre mão da experiência porque sabe que ela é importante no trabalho.

Os mais velhos, às vezes, são rechaçados nas empresas. São “improdutivos e devagar”, se dizem pelos cantos. “É panela velha que faz comida boa”, disse uma vez minha mãe. Nunca esqueci!. Sempre obedeci!. Tratar o novo como melhor, impondo a tecnologia, o e-mail, o veloz, o “on-line”, como se tudo fosse para ontem, só é importante para a estatística. A notícia dada rápida pelo jornalista só serve para cansar o ouvido e a garganta. Se não há prazer em noticiar, não deveria ser falada. O bom jornalista é o que fala pausadamente, é aquele que faz e escuta o que diz, e não somente vomita e prolifera dizeres rápidos e sem sentido.

Quem não sente o que fala, não deveria falar! A fala é graciosa e muito importante e merece ser bem tratada. É pela fala que se canta, e canta justamente porque encanta. Às vezes, é até mais importante que a escrita, e por isso, esse texto é escrito, porque está impresso, mas não é escrito por ser fantasioso. É fala impressa, o que é mais importante; é fala de quem fala, e não somente de quem explica. Quem tudo explica, nada vive. Vive de intelectualidade porque no dia a dia, não se contamina com os outros. Não aprende porque só sabe falar, e geralmente fala sozinho.

O garoto do Call Center que fala desmesuradamente palavras, como o exagero no trato, chamando até criança de “Senhor”, só demonstra que não gosta de conversar. Só demonstra que não tem prazer, e por isso, vomita palavras mortas, retiradas do seu verdadeiro sentido. Trata mal o cliente, porque se trata mal. Fala palavras quantificadas, porque não vive dos mistérios. Todo chato é sempre aquele que diz o óbvio, que repete achando que há novidade no que diz; copia como se fosse inovador. Mente para si, e para o outro. Transforma o galanteio, em chateação. Torna-se monótono, porque impõe, quer aparecer demais, e acaba sendo odiado.

A Qualidade de Vida no Trabalho está ligada ao amor. Gostar das pessoas, e do que se faz; ser retribuído por isso. É o passo a ser dado. É isso que tem que ser perseguido. É isso que tornam as pessoas amorosas, e é por meio disso, que as relações deixam de ser “complicadas”.