VANTAGENS DE PAGAR ALUGUEL E PAGAR PRESTAÇÕES

Em geral, não gostamos de pagar aluguel, bem como nos enfadamos por causa das muitas prestações que pagamos mês a mês, nos queixando continuamente. Quanto ao aluguel, comumente dizemos que pagamos a prestação de uma casa que nunca será nossa. Quanto as prestações de bens de consumo, em regra justificamos a estafa e ausência nos eventos sociais queixando-nos que trabalhamos demais ou que não sobra dinheiro por causa das contas que pagamos, como se elas incidissem sobre nós contra nossa vontade e não nos produzissem benefício e satisfação, apenas privação e sofrimento.

Sejamos justos, porém, e, com certeza, seremos gratos e felizes em vez de queixosos. A maioria das vezes que deixamos de participar dos eventos sociais não é por que nossas dívidas nos escravizam, mas porque nossa vontade de desacomodar-nos é insuficiente. De mais a mais, se nos obrigamos a trabalhar demais para pagar nossas prestações, essa é uma escolha que fazemos cada vez que decidimos adquirir um bem de nossa necessidade ou desejo, um preço que conscientemente decidimos pagar para possuir bens de consumo ou nos sentirmos alguém, alimentando, no mais das vezes, nosso ego, nossa vaidade. Os bens que temos em casa, pelos quais pagamos prestações, são o benefício que temos pelas prestações que pagamos. Logo, se esses bens não estão produzindo satisfação e prazer, perdeu-se a razão de nos sacrificarmos por eles. Mas, por outro lado, se nos sentimos felizes ao desfrutar do carro novo, confortável, seguro e de tanque cheio, se nos deliciamos assistindo o aparelho de televisão mais delgado do momento e de tantas polegadas com som hi-fi, porque nos queixamos? Se o fazemos, nos queixamos de “barriga cheia”, por simples ingratidão, pois o preço que pagamos é nada mais do que a conseqüência do benefício que desfrutamos. Sendo assim, devemos decidir se queremos ser felizes ou se passaremos a vida nos escravizando por nossa vaidade e sendo ausentes e antipaticamente queixosos.

Quanto ao aluguel que pagamos, a casa que pagamos não será nossa no fim, mas enquanto pagamos, de fato temos uma casa e desfrutamos dela, podendo, inclusive, escolher onde morar e isso custando mensalmente menos do que pagar uma casa e ainda ter que gastar com deslocamentos e refeições fora, ou possuir uma casa distante e ter que gastar mais que um aluguel com essas coisas. Claro que ao final de trinta anos teremos pagado uma casa, mas não teremos uma propriedade da qual já não teremos de pagar prestações. Seremos ainda obrigados a seguir pagando aluguel, embora que, talvez, sem poder. Entretanto, muitas vezes, após trinta anos pagando prestações da casa a pessoa adoece e morre, não precisando mais de casa e não podendo usufruir do benefício de não mais ter que pagar prestações. Por outro lado, está se tornando comum os filhos interditarem os pais com mais de sessenta anos e tomarem posse de sua casa e bens, vendendo tudo para pagar um asilo e não ter que suportar e cuidar deles.

Diante de tudo isso, pensei porque motivo somos obrigados a adquirir uma casa. E me perguntei: Seria para deixar para o cônjuge, que breve também morrerá e não precisará de casa ou será também interditado e asilado pelos filhos? Ou seria para deixar herança para os filhos? Neste caso, somente se forem filhos necessitados. Entretanto, se damos estudos para eles já não precisamos deixar-lhes herança, pois deixamo-los com a “faca e o queijo nas mãos”, muitas vezes em melhores condições do que pais que não tiveram esse recurso.

No fim, concluí que é bom podermos adquirir uma casa e devemos nos esforçar para isso, pois é uma forma de termos tranqüilidade e podermos descansar quando tivermos mais idade. Jamais esquecendo, porém, que nossa confiança deve estar firmada no Senhor e não em bens e recursos humanos. Entretanto, se não conseguirmos (ou enquanto não conseguimos) adquirir nossa residência própria, devemos ser gratos e felizes com a casa alugada que temos, pois, afinal de contas, podermos pagar aluguel e temos de fato uma casa, mesmo que esse aluguel, as vezes, nos pareça caro, pois quanto mais pagarmos melhor e mais bem localizada será a casa em que moraremos e muitas pessoas, embora que consigam adquirir sua casa, não têm uma tão boa e tão bem localizada, caso em que o aluguel acaba por custar menos do que o custo de morar em uma propriedade afastada de tudo e de todos.

Em suma, o que pretendi transmitir com este texto é a convicção de que de tudo que pagamos devemos avaliar o custo e o benefício, que, em última análise, é o prazer e tranqüilidade decorrentes. E paz também produz prazer e felicidade. Se em nossa avaliação o que pagamos redunda em prazer, custo é justo e o podermos pagar deve ser uma satisfação e motivo de alegria e gratidão. Contudo, se não redunda em prazer (em benefício), devemos descobrir o que queremos e investir em alcançar esse modo de viver que nos trará felicidade, mas ainda assim devemos considerar que a situação atual é uma etapa do meio com e pelo qual estaremos construindo e chegaremos a essa condição ideal. Por isso, por essa condição atual devemos ser gratos, pois assim teremos satisfação e seremos felizes em todos os momentos da vida, dependendo nossa condição emocional apenas da nossa vontade.

Wilson do Amaral

Autor de Os Meninos da Guerra, 2003 e 2004, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, 2004.