Modelo Chinês de Administração
Quando os japoneses apresentaram ao mundo, um novo modelo de administração, mais eficaz e racional que o então modelo americano utilizado no mundo ocidental e até hoje ainda, por muitas empresas brasileira, houve primeiramente um grande descrédito, depois os comentários maldosos e a seguir, a aceitação inevitável provocada pelas resultados desse modelo. Hoje, guardadas as proporções, vivemos em relação ao modelo chinês, provavelmente a segunda dessas etapas, os comentários maldosos.
Praticamente todos indivíduos ou organizações que são atingidos pelos esforços chineses para conquistar o mundo comercial e promover seu próprio desenvolvimento econômico, os tacham de ditadura, escravagista, pouco confiáveis, desqualificados para a qualidade, etc. As vezes até com considerações pessoais e preconceituosas. Fato é que provavelmente, o que estamos presenciando é o surgimento do Modelo Chinês de Administração.
Esse modelo, ao que tudo indica, passa por uma racionalização muito maior que aquela introduzida pelos japoneses com a produção enxuta de Taiichi Ohno. Pois também considera a substituição de materiais e conceitos de durabilidade, adequando-os aos novos padrões mundiais, que estão se estabelecendo.
Os padrões a que me refiro, são aqueles relacionados a qualidade do produto (bem ou serviço) e satisfação das necessidades do cliente. Tais necessidades são efêmeras e tendem a alterar-se com uma velocidade incrivelmente maior do que aquela do período da primeira metade do século XX, quando o modelo americano se estabeleceu, e também muito maior do que aquela do período pós segunda guerra mundial, quando o modelo japonês desbancou o modelo anterior. Contudo, os conceitos de criação e satisfação de necessidades dos consumidores, ainda é mantido pelo marketing ocidental, nos mesmo padrões daquele período.
Imaginemos por exemplo, um produto originário de uma fabrica japonesa na década de 1950. Deveria ter a qualidade e durabilidade iguais ou melhores que aquelas construídas nas fábricas do ocidente, pois a cultura existente era a de que o produto deveria durar anos, ao mesmo tempo, apresentar preços competitivos para o mercado mundial. Para que esses critérios fossem atendidos, os japoneses tiveram que reduzir custos racionalizando onde os americanos ainda não haviam racionalizado. Contudo, mantendo as características exigíveis de qualidade para que as necessidades dos consumidores fossem atendidas.
Atualmente, os chineses também buscam o mercado internacional, através da satisfação das necessidades dos clientes. Essa condição não mudou e provavelmente não mudará. Contudo, como dissemos, essas necessidades dos clientes mudam com uma velocidade incrivelmente maior do que aquela do século XX. Basta ver, a quantidade de vezes que os jovens trocam aparelhos celulares e outros eletrônicos que nem conseguimos saber qual está em evidência no momento. Torna-se necessário uma grande velocidade de adequação por parte das empresas e maior racionalização de processos organizacionais, ainda para que se tenha custos baixos e alto valor agregado a cada item que se oferece.
Contudo, o marketing criador das necessidades ainda permanece o mesmo nas empresas ocidentais. Ainda se fala em qualidade que permita durabilidade de anos, para um aparelho que será descartado em dias. Usamos os mesmos materiais e componentes que usaríamos como se o produto tivesse que ser usado tal qual fora criado, nos próximos 10 anos.
O resultado disso é que nossas industrias geram muito material de descarte e sobras industriais que encarecem o custo, prejudicam o meio ambiente, e não agregam o valor efetivo que seja perceptível por parte do cliente.
Em gestão pela qualidade, aprendemos que tudo que não agrega valor, agrega custo. E aparentemente, é em cima desse conceito que trabalham os chineses. Substituindo materiais e componentes por outros de menor durabilidade, conseguem com que um produto chegue mesmo a durar três vezes mais que a necessidade de uso dos clientes ao qual se destinam, mesmo que sua vida útil seja três vezes inferior ao de seus concorrentes. Ou seja, inferior aos padrões ocidentais. Por exemplo: Um veículo chinês que custa muito barato em relação aos ocidentais e que se diz durar apenas 3 anos. A pegunta é: quem fica com um veículo por mais que três anos? Claro que certamente você conhece várias pessoas. Contudo, porque elas ficam com seus veículos? Porque o marketing diz que devem ficar se não têm posses para comprar um zero quilometro. E porque ficam? Porque ouvem essa mensagem há muito tempo. E se pudessem trocar, mesmo que em três anos o veículo fosse destinado para o desmanche e o consumidor saísse com um novinho pagando apenas o que ele realmente vale? Provavelmente trocaria.
Além do mais, mesmo com substituição de materiais na produção de bens, muitas vezes se atinge uma durabilidade inesperada. Essa semana, vi um comercial de uma empresa chinesa fabricante de veículos que oferece seis anos de garantia para seus automóveis. Quem oferece essa garantia no mercado ocidental?
Fato é que essa mudança no conceito de marketing, considerando-se a durabilidade do produto relativamente a vida útil, vai acontecer. Até porque tem o apelo da preservação do meio ambiente. Os chineses já perceberam e estão tornando seus produtos cada vez mais confiáveis e atrativos por todo o mundo. É um modelo de gestão “frugal”. Livre de gordurinhas indesejáveis e bem mais conforme o modo jovem de viver a vida. Fatalmente, esse modelo se expandirá pelo mundo, como o modelo Toyota se disseminou pelo Japão na década de 1950, propiciando o surgimento do Modelo japonês de gestão. Quando o ocidente perceber, já estaremos envolvidos por ele. Se é que já não estamos.