"Juro Por Deus Que Ele Morreu" =Cobrança bancária=
Acho que o único jeito de fazer o Banco Itaú acreditar que meu sogro morreu será ir ao cemitério, desenterrá-lo, e levar o que resta do corpo até a agência onde ele mantinha sua conta. Já mostrei atestado de óbito, já jurei que ele faleceu, levei testemunhas, contei à gerente sobre o velório, já informei por telefone de todas as maneiras possíveis e imagináveis e não adianta. O banco continua cobrando uma dívida que ele deixou. Dívida, aliás, contraída poucos dias antes de seu falecimento.
Quando do primeiro telefonema eu disse:
- Ele morreu.
No segundo:
- Faleceu.
No terceiro:
- Entrou em óbito.
No quarto:
- Partiu desta para a melhor.
No quinto:
- Obitou.
Do sexto em diante perdi a paciência e a mãe de quem telefonava foi ofendida.
Um dia, delicadamente, pediram-me o novo endereço dele e eu forneci:
- Anota aí: Cemitério da Areia Branca, quadra tal, lote tal, urna tal. Telefone não tem.
Toda semana chega uma correspondência do Itaú para meu saudoso sogro e amigo. Cada oferta para quitar a dívida que chega a me emocionar: até noventa por cento de desconto sobre o montante absurdo que o banco vai inventando à medida que o tempo passa. Estou esperando chegar a cem por cento de desconto para ir à agência e quitar o débito à vista. Cash.
Em minha primeira visita ao banco para comunicar o falecimento de seu saudoso cliente, a gerente, muito amável e simpática, comunicou-me, risonhamente, que se eu quitasse a dívida naquele momento ela poderia deixar tudo por apenas vinte e quatro parcelas de setecentos e tantos reais. Comovido com a generosidade, perguntei a ela se ela, em meu lugar, pagaria a dívida de um morto. Até hoje não sei por que ela mudou de assunto e não me respondeu.
Por falar nisso, está na hora de ir até a caixa de correspondência ver se chegou alguma carta para meu sogro. Do Itaú, é claro. Afinal é a única empresa que ainda se lembra dele, coitado.