Os bancos estão soltos – Blog de 03.05.2010

 

            Apesar dessa leitura não atrair bem o sofrido povo brasileiro, ao blogueiro é lícito tentar mostrar certos fatos que ocorrem na condução da política economico-financeira do governo central, porquanto isso nada mais é do que exercitar a cidadania. Quem sabe daqui não poderá sair uma luz para resolver problemas sérios que nos afligem!

Este nosso Estado brasileiro é mesmo o grande Éden das instituições financeiras. Enquanto há países em que bancos são o paraíso dos ricaços, pois manter conta no exterior é uma forma de dar prejuízo aos cofres públicos, como por exemplo, fugir do pagamento de tributos, ludibriar o imposto de renda, fato natural desde a época dos descobrimentos, e aqui no Brasil houve tempo em que muitas facilidades foram criadas para esses desvios de comportamento.

Os lucros exorbitantes estão aí pra todo mundo ver. São números astronômicos. Há bancos que chegam a obter superátiv de mais de três bilhões de reais em um único semestre (os balanços deles são semestrais), a fim de o governo arrecadar mais o imposto do leão. Até mesmo o social Banco do Brasil de antes entrou nessa estrada da lucratividade máxima, desviando-se daquelas funções para que fora criado.

Imaginem os leitores que quando o BB tinha como preceitos e finalidades básicas desenvolver as diversas regiões do país, corrigindo-lhes as diferenças intra e extrarregionais de renda, aplicava fortemente nas atividades geradoras de riquezas, a juros remuneratórios altamente suportáveis pelos segmentos da economia primária, secundária e até mesmo pelo da prestação de serviços.

Pessoas físicas, por seu turno, pagavam mais caro, todavia não nesse nível de hoje em dia, quando no cheque especial, exemplificando, as taxas são da ordem de 50% ao ano. Por outro lado, uma aplicação na poupança não rende nem 8% (sem IR) e em fundos de investimentos vão apenas a pouco mais de 9%, e quando se desconta o imposto de renda aí é que a vaca vai pro brejo.

Olha gente, na época em que o BB fazia às vezes de Banco Central, como Caixa do Tesouro Nacional, responsável pelo meio circulante, comércio externo, fiscalização bancária e outros serviços próprios de BACEN, inclusive era avalista do governo no exterior, havia operações de empréstimos na base de 4% ao ano, onde o tomador pagava até mesmo sem sentir, sua vida era facilitada e suas atividades também.

Cumpre notar que nessa fase a inflação brasileira não chegava nem a 6% ao ano. Depois da introdução do Banco Central, com uma estrutura caríssima, inclusive funcional, a partir de 1964, criado que fora pelo governo revolucionário, a espiral inflacionária começou a se elevar, notadamente e em especial depois que o doutor Maílson da Nóbrega e o Presidente José Sarney retiraram todas as facilidades da quase bicentenária instituição de crédito oficial.

Quase que o BB, desprevenido, teve sua estrutura quebrada mais uma vez. Socorros urgentes foram providenciados para que essa desgraça não se repetisse na história tão linda que fizera ao longo de sua existência. O banco, para que todos saibam, acompanhou nossos soldados na segunda guerra mundial, levando aos acampamentos bélicos a presença dos bancários, o soldo dos nossos valorosos militares e assim, juntos, conseguiram grande vitória.

Então o banco teve de competir de igual para igual com verdadeiras feras no setor bancário, como o Bradesco, Itaú, Nacional, etc., tentando captar no mercado dinheiro a custos altos para emprestar com um “spread” (*) que não dava para suportar os gastos fixos e de giro da empresa. Além do mais, o funcionalismo não poderia disputar com esses gigantes bancos, pois não tinha a prática bancária da captação, mas tão-somente a arte de emprestar.

 Os bancos particulares eram os donos da situação. Até o Bradesco tentou tomar o serviço de compensação de cheques e outros papéis, e aí não haveria como o BB se soerguer, pois esse serviço era talvez o mais importante que se presta ao governo federal.

O de que muitas vezes não entendo é a solidariedade que esses funcionários prestavam aos bancários da rede privada, quando das greves por melhores salários. Enquanto fechavam as agências do BB (conheço uma que abria de qualquer maneira), os gerentes desses bancos operavam com meia porta, como se fora um movimento normal, atendendo a clientes, notadamente os de grande porte.

Depois, quando se deram conta da besteira que faziam, tomaram outra atitude, e a formação de cada um e de todos os bancários do BB, cuja admissão era precedida de testes mais rigorosos do que certos vestibulares de nossas faculdades, e daí a Casa começou a se realevantar, isso ainda na gestão do excepcional doutor Camilo Calazans de Magalhães, quando fora seu presidente. Mas enquanto o BB cresce, os salários de seus funcionários ficam defasados, há filas enormes para os clientes enfrentar, e aí a qualidade dos serviços fica precária.

O interessante é que ele não rezava na mesma cartilha do Ministro da Fazenda, doutor Maílson, que fora seu secretário quando ainda era Diretor de Crédito do BB para a Região Nordeste (DINOR), e aquele havia ido para Brasília convidado que fora a deixar a chefia de serviço da agência de Patos ou Cajazeiras, na Paraíba (não me recordo exatamente qual delas). Justamente esse seu colega de banco fora o responsável pela sua queda da presidência da mais antiga instituição creditícia do país.

Mas o blogueiro já escreveu tanto e nem chegou mesmo ao assunto que queria desenvolver. Faço-o agora. A propaganda desse crédito consignado está de certa forma tão agressiva, que até se está faltando com o respeito ao cidadão brasileiro, encalacrado que se acha com tanto débito e com o pagamento de muitos juros. Nenhum idoso pode passar junto de uma dessas casas de empréstimos que é logo constrangido por moças e senhoras, insistentemente, treinadas para fazê-lo se tornar devedor desse dinheiro que na realidade já é seu.

O endividamento dos pobres aposentados e pensionistas, e até da classe média tomou rumos imprevisíveis. Imaginem que bancos que operam créditos consignados estão chamando no rádio, na televisão, nos jornais e em toda a mídia os clientes que já estão devendo essas operações, que aos poucos vão se tornando uma bola de neve que não haverá jeito a não ser perdoar as dívidas (embora esse termo perdoar tenha saído do Padre Nosso).

Um exemplo de propaganda: Você que está sem poder pagar seus compromissos com cheque especial, empréstimos, dívidas de qualquer sorte, e que também já esteja sem margem para novos empréstimos venha ao nosso banco que lhe faremos um novo negócio e assim liquida todos os débitos, ficando em dia com seus compromissos e centraliza suas operações conosco. Não importa que tenha nome no SPC, etc. (Isso é uma vergonha!).

Aí o pobre coitado entra nesse sistema e nunca mais sairá. É isso que os do governo chamam de democratização de créditos, “bancarização” do povo nacional (nunca tinha visto o uso desse termo). Depois, é claro, o número de agentes financeiros desse empréstimos consignados aumenta de uma forma que em qualquer esquina tem uma bodega dessa a ganhar dinheiro tão fácil. Até acho que deveria haver uma incursão das autoridades pra avaliar o desempenho desses tamboretes. Mas os bancos grandes também operarm no particular.

Perdoem-me os leitores, não haveria papel suficiente para tratar do assunto, mas também seria exaustivo demais querer que alguém possa ler essas besteiras.

(*) - Diferença entre a taxa de captação e a de empréstimos.

Em revisão.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 04/05/2010
Reeditado em 04/05/2010
Código do texto: T2236172
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