Seu cartão de crédito é seu?

É impossível hoje viajar sem ele; a maioria das pessoas que vivem em locais civilizados, praticamente três em cada dez possui algum tipo; já possuem formatos e composições tão diferenciados que confunde quem os porta e quem os recebe; por fim, já podemos pagar todo tipo de conta, comprar coisas e até sacar dinheiro como num toque de mágica; estou falando do moderno, útil, prático, elegante e perigoso cartão de crédito.

Inicialmente foram as operadoras de crédito quem comercializavam os plásticos apáticos e vulneráveis que davam crédito imediato; depois os bancos entraram nesta jogada milionária; depois dos bancos vieram os supermercados, drogarias, agremiações, clubes fechados e quem mais possa pagar pelo prestígio de emitir cartões de crédito no Brasil e no mundo. Tem cartão para todo gosto, em todas as cores, com várias bandeiras, formatos, limites e materiais, mas a predominação primária sempre foi e continua sendo o plástico, muito embora já exista o virtual.

O primeiro cartão de crédito surgiu por volta dos anos 20 do Século passado nos Estados Unidos da América; inicialmente eles serviam apenas para clientes fieis de algumas revolucionárias lojas em que seus donos acreditavam piamente que aqueles posseiros iam honrar suas dívidas em dia, mas por volta dos anos 50, um executivo em Nova Iorque, quando estava num restaurante com amigos, lembrou que não estava de posse de sua carteira com dinheiro e cheques; este executivo era Frank MacNamara o criador do Diners Club, o primeiro cartão de crédito oficial a ser aceito em rede (somente 27 restaurantes nova-iorquinos e por apenas 200 seletos clientes).

Dois anos depois, através do próprio MacNamara, era lançado oficialmente o primeiro cartão de crédito internacional. Até esta data os cartões eram confeccionados em papel grosso e em 1955 já estavam sendo testados os primeiros modelos em plástico.

Em 1958 a American Express cria o seu cartão e em 1966, com a entrada do Bank American Corporation no negócio de vanguarda, os plásticos já estavam sendo aceitos em mais de 12 milhões de estabelecimentos comerciais em todo o mundo. Pouco tempo depois era a vez da Visa, outra empresa criativa e rica entrar no negócio e em 1975 a Master Charge criava outra modalidade de crédito em plástico, esta última foi a precursora dos atuais Master Card.

A história dos cartões de crédito neste lado das Américas não tardou muito a chegar; em 1954 já havia indícios desta modalidade de compra por aqui no Brasil, mas foi somente em 1956 que tudo começaria a engrenar, da mesma forma que foi nos Estados Unidos. O Diners aportou em “terras brasilis” em 1956; a Credicard desembarcou dois anos depois; os cartões internacionais custaram a chegar aqui e isso somente ocorreu em 1984.

Vinte anos utilizando os cartões que eram iguais a dinheiro o Brasil não dava ares de bom aceitador da novidade, isso porque, quem os possuía precisavam provar muito prestígio perante as severas instituições financeiras e a grande massa queria mesmo era ter um, mas o calote era tão crescente que os negócios permaneciam tímidos. O risco de perder dinheiro por parte dos banqueiros era tão grande que eles impunham condições absurdas, como por exemplo, exigir fiador de alta renda.

O crescimento econômico brasileiro começou a mostrar ares de graça por volta de 1994 com a criação do plano Real e foi somente depois desta época que o “dinheiro de plástico” começou a ser emitido em larga escala. Mesmo com juros altos para quem não pagasse em dia seus compromissos o brasileiro começou a descobrir que era muito mais prático portar um cartão do que um talão de cheques.

A operação de cartão de crédito envolve diretamente cinco etapas fundamentais para que tudo ocorra corretamente no ato da utilização; tudo começa com o PORTADOR, que é aquele sujeito que se interessa a adquirir bens e serviços sem ter dinheiro físico no ato do pacto; depois vem o ESTABELECIMENTO, que é a pessoa física ou jurídica que aceita receber os plásticos por pagamento. Numa outra ponta, meramente desconhecida pela maioria, estão os ADQUIRENTES, que são as empresas capacitadas em cruzar dados entre o portador, estabelecimento e o EMISSOR.

Os emissores são também chamados de administradoras; estes emissores são os donos do dinheiro ou aqueles que garantem ao estabelecimento que eles receberão pontualmente no dia acordado, decrescido é claro, das taxas fixadas em contrato. Neste tórrido relacionamento estão as BANDEIRAS, que no Brasil são apenas a Visa, Mastercard, American Express Card, Hiper Card, Diners Club e Aura; todas elas, exceto Aura e Hiper Card, estão ligadas a grandes conglomerados bancários.

No Brasil um banco ousou-se mais do que os demais; o Bradesco em 1968 lançou seu próprio cartão de crédito que estava fora do circuito das tradicionais bandeiras; o cartão brasileiro chamava-se Elo, que mais tarde foi absorvido pela American Express, que por sua vez, teve as operações no Brasil compradas completamente pelo próprio Bradesco.

Hoje a potência deste mega negócio envolve uma fortuna inexistente na forma física; para se ter uma idéia do que é o mercado de cartões de crédito, no ano passado a Visa movimentou algo em torno de 10 trilhões de Reais através de 2 bilhões de cartões emitidos e válidos; a Mastercard, segunda no ranking, movimentou cerca de R$ 5 trilhões através de 1 bilhão de cartões válidos; a American Express, que é seleta e conservadora, movimentou cerca de 500 bilhões de Reais através de seus 60 milhões de associados. As outras bandeiras menores, inclusive a Diners Club, que pertence ao Citi Bank, JCB (Japanese Credit Bureau) e Discover, raramente são aceitas fora de seus redutos financeiros e neste caso, não possuem dados comparativos de grande expressão.

A grande ameaça que todas estas bandeiras enfrentam todos os dias é o risco de fraude; milhões e milhões de dólares são gastos todos os anos na busca pela transação perfeita, onde o portador é de fato aquele que está transacionando com o estabelecimento, salvo contrário, o emissor acaba pagando a conta da operação criminosa.

Chips de última geração, tarjas magnéticas modernas, leitores monitorado e pessoal treinado para desconfiar das transações fraudulentas são lançados no mercado todos os dias, mas a ação de quem vive do furto e do crime acaba sendo maior e os prejuízos são inevitáveis. Num primeiro momento, quem sempre paga a conta, até mesmo pela dor de cabeça, é o portador; cabe a ele detectar, informar e se municiar de provas para que não amargue uma salgada conta pela utilização de um ou de outro cartão plástico.

Os cartões de crédito modernos deixaram a há anos de serem meros provocadores de credibilidade; seguros de todos os tipos são vendidos junto com as anuidades, promoções que envolvem sorteios de toda natureza, facilidades, descontos, recompensas e até a devolução do dinheiro gasto são apenas algumas das vantagens que os emissores oferecem para quem gaste muito ou quem compre seus pacotes de serviços; o mais comum é a tradicional milhagem; quando você gasta e paga seus compromissos, parte de seus gastos são transformados em pontos que servem para serem trocados por passagens aéreas, eletrodomésticos, roupas e até chope no barzinho da esquina. Ainda poucos, mas já existem os que devolvem até 2% de tudo que for gasto em dinheiro, sem burocracia; esta é a maior prova de quem o negócio de cartão de crédito é um dos mais promissores do planeta!

Partindo para o lado pessoal, meu primeiro cartão de crédito somente chegou ao final da década de 80, era um Credicard nacional; depois eu me tornei associado da American Express Card e passei a utilizar as bandeiras Visa e Master Card. Hoje os meus cartões se concentram na emissão do Bradesco e um único que possuo emitido pelo Santander Brasil. Os dinheiros de plástico que carrego em minha carteira chegam a me oferecer até 4 pontos por dólar gasto, que eu troco por passagens internacionais e o do Santander, este eu recebo 2% em dinheiro de tudo que gasto.

Utilizar os plásticos de crédito, para mim que não pago o mínimo, muito menos deixo atrasar, é vantajoso; tudo que compro, desde o pão, gasolina até contas ordinárias, são debitadas pelos cartões; todos eles são pagos rigorosamente em dia e ao final eu resgato pontos que pagam minhas passagens pelo mundo. Geralmente eu resgato entre 3 e 5 passagens por ano e o que eu não utilizo, geralmente cedo para meus parentes. Desta forma acaba sendo mais do que vantajoso, principalmente porque eu costumo negociar a taxa de anuidade e geralmente elas saem de graça para mim!

Na hora de escolher o seu cartão de crédito, vale a pena algumas dicas importantes; jamais se deixe levar pela propaganda e nunca feche com um emissor sem antes conhecer, principalmente o seu atendimento. Os bancos menores ou as administradoras de pequeno porte, raramente possuem pessoas e sistemas capazes de satisfazê-lo no ato de dúvida, consultas ou reclamações. Aura, Hiper Card e Diners Club são as piores do gênero no quesito “atendimento”; se por ventura você conseguir um atendimento rápido, fatalmente este será suprimido pela qualidade de pessoas. Eu cito isso, não por tese, mas por experiência própria!

Existem também os cartões que enganam e que a justiça ainda não tomou uma providência para fechá-los em definitivo; a operadora de telefonia Telemar, ou Oi, como se chama hoje, lançou o cartão de crédito Oi Paggo. O Oi Paggo nada mais é que um instrumento farsante para cobrar juros de quem tem serviços telefônicos da mesma operadora; foi criado sob o disfarce de ser um cartão virtual, mas além de não ter emplacado já é campeão de queixas crime em todo Brasil!

Não é incomum também vermos nas ruas de grandes cidades moças e rapazes muito jovens e pouco cultos oferecendo cartões ligados a grandes magazines como a C & A, Grupo Silvio Santos, supermercados e outros; estas pessoas colhem seus dados num pedaço de papel e por cada ficha que eles levam ao escritório recebem um valor de comissão. Ninguém imagina o perigo que significa fazer estes cartões da maneira que eles são oferecidos. Já há casos de vários registros policiais onde pessoas tiveram seus documentos copiados e malfeitores utilizaram de tais documentos para emitirem cartões que eram entregues em outros endereços.

Erradicar a fraude é praticamente impossível, mas tentar evitá-la com prevenções simples pode lhe ajudar numa hora maldita; se conselho fosse bom eu os venderia, mas seguem alguns:

- Sempre faça seus cartões através de bancos onde já há relacionamento.

- Se o fizer pela internet, certifique-se de que conhece o sistema e o emissor.

- Jamais grave senha no corpo do próprio cartão.

- Faça questão de oferecer sua carteira de identidade e se possível grave no canhoto um número desta na hora da compra.

- Tente não pagar anuidade.

- Jamais pague o valor mínimo.

- Jamais retire dinheiro pela função crédito.

- Jamais parcele suas compras pela função “parcelado pelo cliente”.

- Teste exaustivamente o serviço de atendimento de seu cartão.

- Reclame tudo que for pertinente e jamais se esqueça de anotar o número do registro, com data, horário e nome do atendente.

- Ao primeiro sinal de distúrbio, cancele imediatamente o cartão e exija que outro lhe seja enviado.

Lembrem-se que há cartões com anuidades grátis pelo resto da vida, mas observe o que eles exigem para que você tenha tal benefício; cartões que cobram menos pela anuidade de utilização partem de 3 parcelas de R$ 9,00 (American Express Card Blue) para quem tem renda de R$ 1.000,00 comprovada; os que cobram mais podem lhe assustar na hora da cobrança; a anuidade mais cara é a do American Express Card Platinum, que pertence a um clube fechado de convidados pelo próprio emissor; este ano eles me cobraram R$ 960,00 em três parcelas e após uma negociação, recebi desconto de 75% por ser associado há mais de 10 anos.

Uma dica importante é que os cartões que cobram pouco ou nada pela anuidade, geralmente não oferece benefícios como acúmulo de milhas; já os que cobram muito caro, oferecem seguros polpudos, ingresso em salas Vips e meu Amex oferece até mais um ano de garantia para qualquer aparelho que eu comprar com ele. Verifique qual cartão mais lhe serve e qual anuidade é melhor para seu bolso e negocie!

Enquanto eu escrevia este texto, liguei pelo menos 15 vezes para o atendimento da Credicard, que pertence ao Citi Bank e não consegui atendimento nem pelo número fixo, muito menos pelo 0800; para o atendimento Bradesco Platinum, raramente a ligação chega ao terceiro “toque” de chamada. A maioria dos atendimentos é eletrônica, enquanto alguns poucos, como o Bradesco, já se conectam automaticamente a atendentes físicos com bom grau de discernimento; portanto, muito cuidado com este fator!

Jamais confunda limite de crédito com renda pessoal; algumas pessoas que ganham 5 ou 10 mil por mês possuem cartões cujo limite chegam facilmente a R$ 100 mil; gastar até chegar no limite pode ser um suicídio para muitas pessoas!

Os mitos que envolvem os cartões também são muito comuns; um deles é quem tem limite de R$ 1.000,00 e faz uma compra parcelada de 5 X R$ 200,00; quem procede numa operação desta somente voltará a ter limite quando pagar a primeira parcela. Outro mito pertence aos cartões Amex; há um slogam que diz “sem limite pré-aprovado”; há quem pense que pelo cartão não informar um limite cerimonial, que se pode comprar um avião com ele ou um carro de luxo 0 km; ledo engano! Os cartões Amex possuem em sistema o limite de cada cliente e caso ele queira comprar algo inusitado, a proposta será analisada e dependendo de seu histórico de cliente, poderá ou não ser negada!

No Brasil os tipos de cartões de crédito e débito são: empresariais, jovens, pessoa física, universitário e aposentado, nenhum destes são 100% inofensivos para seus usuários; as pessoas precisam saber que esta modalidade de adiantamento de dinheiro custa caro e é uma das mais vulneráveis a fraude. Se os usuários não souberem 100% do que possuem nas mãos; se não conhecerem razoavelmente quem os emite e como proceder em caso de irregularidade, com certeza terão problema mais dia, menos dia!

Desconfie de tudo e de todos se não pretender balançar uma baita dor de cabeça; ao sinal do menor distúrbio, ligue para operadora e comunique; obrigue-os a gravar o diálogo e como já dito antes, ao menor sinal de suspeita, cancele o cartão!

Por último, devo informar que qualquer empresa séria, para receber cartões de crédito, não guarda informações de seus clientes; os dados da transação são submetidos a um ambiente seguro da operadora e estes ficam criptografados e em tese inacessíveis aos bisbilhoteiros, mas há um monte de empresas que não conseguem credenciamento junto a operadoras e bancos e utilizam sistemas de outras empresas; cuidado redobrado; é um péssimo sinal! Há inúmeras destas empresas que não assumem pelos problemas e pode ser você quem pagará pelo pato, ganso e quem sabe, até um avestruz...!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Meu site: www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 11/04/2010
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