General Motors : Adeus meu Chevrolet?
Em 16 de setembro 2008 o hiperconglomerado econômico General Motors comemorou 100 anos de fundação. Tendo por paternidade William Durant, acabou consolidada por Alfred Sloan Jr, que em 1923 assumiu a presidência e sob o seu comando, que se deu até 1956, transformou a GM na maior montadora de automóveis do mundo. Proprietária de marcas tradicionais na indústria automobilística, tais como: Buick, Cadillac, Chevrolet, Oldsmobile e Pontiac, além da GMC destinada a produzir exclusivamente caminhões, peruas de grande porte e camionetes, também possui outras cujo sucesso é mais recente, neste caso: a Daewoo, Holden, Hummer, Opel, Saturn, Saab e Vauxhall. A gigante norte-americana é assim composta por doze marcas, sendo que o caráter cosmopolita da megamultinacional torna-se evidente ao se constatar que se encontra espalhada por 33 países, onde emprega uma multidão de 280 mil empregados, segundo levantamento de 2006. O centenário é sem dúvida um momento especial. Entretanto, o que deveria ser uma constatação de longevidade acabou por acusar sinais que antes caracterizam os distúrbios da senilidade, onde o fato emblemático e com maior exposição na mídia é ter, justamente neste ano, perdido a sua histórica liderança mundial no segmento de montadora de veículos para a nipônica Toyota Motors, o que por seu lado refletiu num biênio com os dois maiores prejuízos da história marca, o maior de todos em 2007: de US$ 38,70 bilhões de dólares e empurrado por uma queda geral nas vendas em 2008. De 10,8% vendeu 8,35 milhões de unidades, contra 9,37 milhões em 2007 e acabou por acusar o segundo maior prejuízo de sua história: US$ 30,9 bilhões. Somente no último trimestre de 2008 as perdas foram de US$ 9,6 bilhões. O que se poderia alegar é que existe uma crise geral, o que de fato há, entretanto, num comparativo a queda de vendas da Toyota Motors, nova líder de mercado, foi da ordem de 4% (vendas de 8,97 milhões de unidades em 2008). Mas uma questão adicional associada ao perfil dos principais produtos oferecidos pela GM atua como complicador; tratam-se veículos grandes, tais como picapes e utilitários esportivos que oferecem conforto, mas que apresentam um consumo elevado quando relativizados com o alto preço do petróleo. Tal situação já se reflete nos papeis em Bolsa de Valores; assim, em 06/03/2009 no pregão de Nova York suas ações atingiram patamar de US$ 1,27 (como posterior recuperação para US$ 1,43, resultando numa queda de 23,12%) , seu menor valor em 75 anos, dado ter valido tão pouco anteriormente no longínquo 4 de maio de 1933. No mais, a grandeza da GM e sua vascularização pela economia carregam consigo as suas fornecedoras, tais como American Axle & Manufacturing Holdings e a Lear Corp, que emplacaram respectivas quedas de 32,14% e 21,03% neste funesto dia.
Infelizmente não se trata de um aspecto pontual, antes parece consolidar uma tendência, dado que considerados os últimos 12 meses o valor de suas ações chegaram à incrível perda de 94%, o que se associa a outra informação de alto teor deletério como a de que a empresa, se tomarmos por base o ano de 2005, de lá para cá já perdeu mais de US$ 70 bilhões. Por conta deste conjunto de aspectos negativos a mega-empresa se viu obrigada a buscar socorro nos recursos públicos, junto a governo norte-americano, algo em torno de polpudos US$ 13,4 bilhões, que para desgosto geral acabaram por se mostrarem insuficientes. Outra tentativa de socorro foi tentada junto ao governo alemão, país atendido pela Opel, mas este não se mostra disposto a conceder créditos, senão condicionando a intervenção estatal a certeza de obter maiores benefícios do que danos. Seja como for, este adicional de complicação apenas contribui para piorar o que estava ruim, e abriu espaço para uma série de informações desencontradas que anunciavam a falência da centenária empresa.
Neste caso, é bom que fique claro ter havido um desencontro na análise das informações quando a General Motors recorreu à legislação americana que regulamenta falências e concordatas, que difere da brasileira. Assim, o que ocorreu foi que a citada recorreu ao Capítulo 11 que prevê a concessão de prazo que pode ser de 60 dias, além de também prever exceção para casos que considerar especiais, para poder reorganizar as contas, o que em muito difere do Capítulo 7 que se refere à liquidação judicial, e assim a falência propriamente dita. Reafirma-se: a estratégia da GM se baseia no Capítulo 11. Os auditores que analisam a possibilidade levantam “dúvidas substanciais” a respeito do atual potencial da megamontadora em se recuperar.
A própria concordata da GM implicaria efeitos deletérios pela capilaridade do setor automotivo. No que tange a sua ação de recuperação, o conglomerado industrial pretende reduzir, a partir de corte de vagas, um total de 47 mil no seu quadro geral de funcionários, dos quais 26 mil serão em instalações fora do EUA. Pretende mais, fechar pelo menos cinco fábricas no EUA, assim como três unidades na Europa; neste último caso, o objetivo é a economia de US$ 1,2 bilhão em gasto como pessoal, o que em termos percentuais corresponde a 20% do quadro na região.
Dentro deste quadro desalentador, a boa notícia é que ao fazer uma análise segmentada da supercorporação em contraposição à sua situação crítica nos países desenvolvidos, ela apresenta uma situação diferenciada entre os países emergentes onde registrou evolução positiva na América Latina, África e Oriente Médio em 2008, o que confirma a tendência de uma crescente dependência das vendas externas em relação às internas no EUA. Em 2007 as primeiras representavam 59% do total, e evoluíram para 64% no ano seguinte. Sendo que ao contrário do prejuízo, se considerado o grupo como um todo, nas citadas regiões em 2007 e 2008 houve lucro de US$ 1,3 bilhão (antes dos impostos) em cada um dos anos. Ou seja, US$ 2,6 bilhões, insuficientes para reverter os quase US$ 70 bilhões de perdas no grupo como um todo, aliás pouco mais 3,5%, mas enfim, esta parece ser o pequeno lume em meio à noite sem estrelas que invadiu os anos de glórias da General Motors, um gigante atordoado, cujo tombo pode criar um considerável terremoto nos segmentos político-econômicos.
Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.
Em 16 de setembro 2008 o hiperconglomerado econômico General Motors comemorou 100 anos de fundação. Tendo por paternidade William Durant, acabou consolidada por Alfred Sloan Jr, que em 1923 assumiu a presidência e sob o seu comando, que se deu até 1956, transformou a GM na maior montadora de automóveis do mundo. Proprietária de marcas tradicionais na indústria automobilística, tais como: Buick, Cadillac, Chevrolet, Oldsmobile e Pontiac, além da GMC destinada a produzir exclusivamente caminhões, peruas de grande porte e camionetes, também possui outras cujo sucesso é mais recente, neste caso: a Daewoo, Holden, Hummer, Opel, Saturn, Saab e Vauxhall. A gigante norte-americana é assim composta por doze marcas, sendo que o caráter cosmopolita da megamultinacional torna-se evidente ao se constatar que se encontra espalhada por 33 países, onde emprega uma multidão de 280 mil empregados, segundo levantamento de 2006. O centenário é sem dúvida um momento especial. Entretanto, o que deveria ser uma constatação de longevidade acabou por acusar sinais que antes caracterizam os distúrbios da senilidade, onde o fato emblemático e com maior exposição na mídia é ter, justamente neste ano, perdido a sua histórica liderança mundial no segmento de montadora de veículos para a nipônica Toyota Motors, o que por seu lado refletiu num biênio com os dois maiores prejuízos da história marca, o maior de todos em 2007: de US$ 38,70 bilhões de dólares e empurrado por uma queda geral nas vendas em 2008. De 10,8% vendeu 8,35 milhões de unidades, contra 9,37 milhões em 2007 e acabou por acusar o segundo maior prejuízo de sua história: US$ 30,9 bilhões. Somente no último trimestre de 2008 as perdas foram de US$ 9,6 bilhões. O que se poderia alegar é que existe uma crise geral, o que de fato há, entretanto, num comparativo a queda de vendas da Toyota Motors, nova líder de mercado, foi da ordem de 4% (vendas de 8,97 milhões de unidades em 2008). Mas uma questão adicional associada ao perfil dos principais produtos oferecidos pela GM atua como complicador; tratam-se veículos grandes, tais como picapes e utilitários esportivos que oferecem conforto, mas que apresentam um consumo elevado quando relativizados com o alto preço do petróleo. Tal situação já se reflete nos papeis em Bolsa de Valores; assim, em 06/03/2009 no pregão de Nova York suas ações atingiram patamar de US$ 1,27 (como posterior recuperação para US$ 1,43, resultando numa queda de 23,12%) , seu menor valor em 75 anos, dado ter valido tão pouco anteriormente no longínquo 4 de maio de 1933. No mais, a grandeza da GM e sua vascularização pela economia carregam consigo as suas fornecedoras, tais como American Axle & Manufacturing Holdings e a Lear Corp, que emplacaram respectivas quedas de 32,14% e 21,03% neste funesto dia.
Infelizmente não se trata de um aspecto pontual, antes parece consolidar uma tendência, dado que considerados os últimos 12 meses o valor de suas ações chegaram à incrível perda de 94%, o que se associa a outra informação de alto teor deletério como a de que a empresa, se tomarmos por base o ano de 2005, de lá para cá já perdeu mais de US$ 70 bilhões. Por conta deste conjunto de aspectos negativos a mega-empresa se viu obrigada a buscar socorro nos recursos públicos, junto a governo norte-americano, algo em torno de polpudos US$ 13,4 bilhões, que para desgosto geral acabaram por se mostrarem insuficientes. Outra tentativa de socorro foi tentada junto ao governo alemão, país atendido pela Opel, mas este não se mostra disposto a conceder créditos, senão condicionando a intervenção estatal a certeza de obter maiores benefícios do que danos. Seja como for, este adicional de complicação apenas contribui para piorar o que estava ruim, e abriu espaço para uma série de informações desencontradas que anunciavam a falência da centenária empresa.
Neste caso, é bom que fique claro ter havido um desencontro na análise das informações quando a General Motors recorreu à legislação americana que regulamenta falências e concordatas, que difere da brasileira. Assim, o que ocorreu foi que a citada recorreu ao Capítulo 11 que prevê a concessão de prazo que pode ser de 60 dias, além de também prever exceção para casos que considerar especiais, para poder reorganizar as contas, o que em muito difere do Capítulo 7 que se refere à liquidação judicial, e assim a falência propriamente dita. Reafirma-se: a estratégia da GM se baseia no Capítulo 11. Os auditores que analisam a possibilidade levantam “dúvidas substanciais” a respeito do atual potencial da megamontadora em se recuperar.
A própria concordata da GM implicaria efeitos deletérios pela capilaridade do setor automotivo. No que tange a sua ação de recuperação, o conglomerado industrial pretende reduzir, a partir de corte de vagas, um total de 47 mil no seu quadro geral de funcionários, dos quais 26 mil serão em instalações fora do EUA. Pretende mais, fechar pelo menos cinco fábricas no EUA, assim como três unidades na Europa; neste último caso, o objetivo é a economia de US$ 1,2 bilhão em gasto como pessoal, o que em termos percentuais corresponde a 20% do quadro na região.
Dentro deste quadro desalentador, a boa notícia é que ao fazer uma análise segmentada da supercorporação em contraposição à sua situação crítica nos países desenvolvidos, ela apresenta uma situação diferenciada entre os países emergentes onde registrou evolução positiva na América Latina, África e Oriente Médio em 2008, o que confirma a tendência de uma crescente dependência das vendas externas em relação às internas no EUA. Em 2007 as primeiras representavam 59% do total, e evoluíram para 64% no ano seguinte. Sendo que ao contrário do prejuízo, se considerado o grupo como um todo, nas citadas regiões em 2007 e 2008 houve lucro de US$ 1,3 bilhão (antes dos impostos) em cada um dos anos. Ou seja, US$ 2,6 bilhões, insuficientes para reverter os quase US$ 70 bilhões de perdas no grupo como um todo, aliás pouco mais 3,5%, mas enfim, esta parece ser o pequeno lume em meio à noite sem estrelas que invadiu os anos de glórias da General Motors, um gigante atordoado, cujo tombo pode criar um considerável terremoto nos segmentos político-econômicos.
Gilberto Brandão Marcon, Professor da UNIFAE, Presidente do IPEFAE, Economista, pós-graduado em Economia de Empresas, com Mestrado Interdisciplinar em Educação, Administração e Comunicação.