Conferência Municipal do Meio Ambiente em Ponta Grossa - PR

Ponta Grossa realiza, nos dias 21 e 22 deste mês, a 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente, nas dependências da UTFPR-PG. Tendo sido professor de Meio Ambiente e Sustentabilidade na UEPG por 15 anos, venho antecipar alguns temas que creio essenciais e que devem ser tratados no evento. São temas com relevância local, mas que estão estreitamente relacionados com os temas globais conectados com a emergência climática e suas consequências.

O primeiro tema é a questão dos recursos hídricos. Os mananciais superficiais dependem das chuvas, estas cada vez mais imprevisíveis. A água é mundialmente considerada o “ouro azul” do século XXI, crises hídricas serão inevitáveis. É necessário que o município gestione com firmeza a proteção de mananciais, tanto as bacias hidrográficas – os mananciais superficiais – quanto as áreas de recarga do Aquífero Furnas – os mananciais subterrâneos –. As áreas de recarga do aquífero são as áreas de afloramento do Arenito Furnas, na parte leste do município. No caso, o que define a extensão da área a ser protegida é a área de ocorrência da unidade geológica, que é diferente do limite da bacia hidrográfica.

O segundo tema, é a proteção e efetiva implantação das unidades de conservação dentro do município. Destacam-se o Parque Nacional dos Campos Gerais, a APA – Área de Proteção Ambiental – da Escarpa Devoniana e o Parque Estadual de Vila Velha. Só não defende as UC’s quem é movido pelo lucro rápido e pela desfaçatez ambiental. É a ignorância de ainda não ter compreendido os vitais serviços ambientais realizados pelas UC’s: equilíbrio da biodiversidade e controle de pragas e polinizadores; regularização do ciclo hidrológico e preservação dos mananciais hídricos; consequente preservação da qualidade e produtividade dos solos; retenção do carbono do solo e da biomassa, redução das emissões de gases estufa e equilíbrio do clima; proteção de patrimônio natural singular para pesquisas científicas, educação e lazer junto à natureza. No caso de Ponta Grossa, a proteção das UC’s tem estreita relação com a proteção dos mananciais hídricos, tanto os superficiais quanto os subterrâneos. Um cuidado capital é que não se confundam unidades de conservação com destinos turísticos desregrados. A função ambiental, científica e educacional deve ser sempre prioritária em relação à função turismo e lazer.

O terceiro tema tem a ver com os arroios urbanos. Urge saneá-los. Ponta Grossa tem um sítio urbano peculiar: o centro e os principais eixos radiais da cidade situam-se em áreas elevadas. Deles diverge uma rede hidrográfica com vários arroios: Grande, Pilão de Pedra, Cará-Cará, Olarias, Ronda, Gertrudes – afluentes dos rios Verde, Pitangui e Tibagi. Esta particularidade coloca várias questões: altos bem urbanizados distando poucas dezenas de metros de encostas e fundos de vale caóticos; várias estações de tratamento de esgotos, uma para cada arroio. Ademais, a cidade é antiga: a captação de esgotos amiúde é feita indevidamente na rede pluvial, que os despeja diretamente na rede de drenagem. Por esse motivo os arroios da cidade ainda são poluídos, embora se alegue que ela seja uma das mais bem saneadas do país. É necessário um minucioso trabalho de verificação da destinação correta dos esgotos.

Que a 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente logre lançar as sementes de um futuro ambiental sadio para a cidade.