TOMA QUE O FILHO É TEU!

Nestes dias recentes, o Brasil, tão vasto e diverso, viu-se envolto por um manto indesejável, um véu de fuligem que cobriu o país de norte a sul. A fuligem, vinda das queimadas que devastam nossas florestas, misturou-se à poluição urbana, transformando o ar que respiramos em um coquetel perigoso. A qualidade do ar, que já deixava a desejar em muitas regiões, deteriorou-se ainda mais. A umidade relativa do ar (URA) despencou para alarmantes 10%, um nível de secura que nos força a usar umidificadores constantemente, como se tentássemos, em vão, recriar a umidade que a natureza já não nos oferece.

Essa degradação me faz pensar na necessidade de um neologismo que expresse a gravidade do que estamos vivendo. As palavras “panpoluição” e “pancontaminação” surgem na mente como termos que poderiam capturar a extensão desse desastre. A "panpoluição" atmosférica, uma poluição que atinge não apenas uma região, mas se espalha por todo o território nacional, sufocando nossas cidades e campos, envenenando o ar que todos, sem exceção, precisamos para viver. Já a "pancontaminação" refere-se à deterioração generalizada de nossa fonte vital de oxigênio, uma contaminação que não poupa ninguém, seja nas metrópoles ou nas zonas rurais.

O impacto dessa poluição é sentido de várias formas. Respirar tornou-se um ato de coragem, cada suspiro é um lembrete de que o ar puro está se tornando um luxo inacessível. As crianças, os idosos e os doentes são os mais vulneráveis, mas ninguém está completamente imune. A tosse seca, os olhos irritados, a sensação constante de cansaço — tudo isso são sinais de que nosso ambiente, nossa casa comum, está doente.

Até o sol, que sempre foi símbolo de vida e energia, parece envergonhado diante de tanto descaso. Em vez de brilhar com sua usual intensidade, limitou-se a aparecer como uma tímida mancha marrom-avermelhada no céu, sem força, sem brilho, como se dissesse: "A culpa não é minha. Toma que o filho é teu." Essa imagem do sol ofuscado, quase invisível, reflete a gravidade do momento que vivemos. É como se a própria natureza estivesse tentando nos alertar, nos chamar à responsabilidade.

E o que fazemos diante desse cenário? Seguimos nossas rotinas, muitas vezes ignorando os sinais de alerta que estão por toda parte. O tráfego intenso nas grandes cidades continua despejando toneladas de poluentes no ar. As queimadas, alimentadas pelo desmatamento desenfreado, persistem, devastando o que resta de nossas florestas. E assim, pouco a pouco, vamos contribuindo para o agravamento dessa “panpoluição” que nos cerca.

É fácil jogar a culpa somente nas autoridades, nos empresários, no vizinho que queima lixo no quintal. Mas a verdade é que todos temos uma parcela de responsabilidade. Cada decisão que tomamos, por menor que seja, contribui para o estado em que nos encontramos. Podemos escolher usar o carro ou optar pelo transporte público, reciclar ou descartar resíduos de qualquer forma, apoiar políticas ambientais ou fechar os olhos para o que está acontecendo.

Mas, se continuarmos nesse caminho, o que restará para as futuras gerações? Que herança deixaremos para nossos filhos e netos? Um mundo onde respirar será um ato arriscado, onde a natureza, antes exuberante, se tornará apenas uma lembrança distante? Ou será que ainda temos tempo para reverter esse quadro, para tomar as rédeas de nosso destino e cuidar do ambiente que nos sustenta?

A reflexão se impõe. É preciso coragem, determinação e um senso de responsabilidade coletiva para enfrentar o desafio. O futuro ainda não está escrito, e cabe a nós decidir que história queremos contar. O sol, envergonhado, nos lembra diariamente que o tempo para agir está se esgotando. A escolha é nossa. Toma que o filho é teu!

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 28/08/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8138905
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