As portas do inferno
Conforme assegurou o secretário-geral das Nações Unidas Antônio Guterres, “a crise climática provocada por atividade humana abriu as portas do inferno” e ainda “a ação pelo clima se vê ofuscada pela magnitude do desafio, motivo pelo qual, se não houver mudanças, o planeta se dirige para um mundo perigoso e instável, com um aumento da temperatura de 2,8 graus centígrados”. A assertiva foi empregada para definir os eventos climáticos extremos no globo terrestre, notadamente pela ocorrência anômala de temperaturas escaldantes. No pacote de ocorrências climáticas que ceifaram vidas e deixaram prejuízos bilionários estão incluídas secas prolongadas, inundações catastróficas e incêndios incontroláveis.
O ser humano passou a comprometer a qualidade de vida do planeta com mais intensidade a partir de 1870, com o advento da Revolução Industrial. Foram desenvolvidos os motores a combustão interna, sistema que utiliza a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia. Ocorre que o resultado final é a poluição do ar atmosférico através dos gases expelidos, notadamente o monóxido de carbono. As indústrias têm sua parcela de responsabilidade, uma vez que emitem uma diversidade de partículas em suspensão como dióxido de carbono, metano e ácido nitroso, entre outros.
Antigamente, os pioneiros desbravadores com seus machados afiados deixaram seu legado de contribuição para a situação atual. No ano de 2022 as eficientes motosserras foram responsáveis por um aumento de 22% na área desmatada no País, o que corresponde a 2,05 milhões de hectares. A abertura de novas fronteiras agrícolas colocam em risco os diferentes biomas e as justificativas são sempre as mesmas: o mundo precisa de alimentos. Obviamente não se pode legitimar um erro com outro, uma vez que práticas altamente danosas são estimuladas durante o processo, como as queimadas. Estudos apontam que o Brasil possui cerca de 140 milhões de hectares em área degradada. São terras que sofreram danos ambientais e por isso perderam a capacidade em produzir e de contribuir para o equilíbrio do ecossistema em que estão localizados, mas que com a utilização de técnicas adequadas, poderiam ser plenamente recuperadas para a produção agrícola.
Em meio à corrida desenfreada em direção ao crescimento e à modernidade, o ser humano ignorou todas as regras básicas de preservação ambiental. Mostrou seu grau de insensatez nos mais longínquos e inóspitos ambientes. E para provar o quão perversa é sua índole, contaminou suas águas com diferentes polímeros de uso industrial. Os rios e os oceanos foram transformados em depósitos de lixo plástico de toda espécie, que se deterioram com o tempo e se transformam em microplásticos, colocando em risco a sobrevivência da fauna aquática. Até no espaço sideral o ente autodenominado inteligente deixou suas lembranças. Uma infinidade de equipamentos orbita continuamente o globo terrestre, a imensa maioria composta por lixo espacial, uma mostra de que não existem limites físicos para a imbecilidade humana.
Pesquisadores acenam para a possibilidade de que o planeta esteja muito próximo de atingir a situação de irreversibilidade climática. Os eventos climáticos, cada vez mais violentos e danosos tendem a se intensificar, caso nenhuma ação política efetiva seja colocada em prática de imediato. A recomposição das florestas, a redução na emissão de gases do efeito estufa e o engajamento da sociedade na causa ambiental já seria um bom começo. Infelizmente, não existe consenso entre os mandatários mundiais, que preferem produzir mísseis balísticos e ogivas nucleares a plantar árvores. A conta da irresponsabilidade finalmente chegou e simplesmente não existe plano B. Abriram-se as portas do inferno. E agora, José?