IMITANDO O NORDESTE, A AMAZÔNIA SE DESERTIFICA
(Texto atualizado; publicado em julho-2021/22)
A distância rodoviária entre Jardim do Seridó (CE) e Cabrobó (PE), passando por Patos (PB), é de 461 km.
Durante o percurso é visível a tendência de desertificação de toda a região, provocada principalmente pelo desmatamento irracional ocorrido em meados da século passado. A lenha era o combustível da época, cortada e deslocada quase que essencialmente para o abastecimento de locomotivas a vapor, padarias, produção de carvão para uso doméstico e similares. As áreas descobertas foram sendo ocupadas com a criação de gado bovino ou plantação de agave e algodão. Continuaram descobertas. Com as chuvas, hoje escassas, essas terras foram sendo degradadas pela erosão.
De Patos (PB) a Gilbués (PI), distância de aproximadamente 1.200 km, a tendência é também de desertificação.
Conta-se que Gilbués teve um passado de enorme variedade de plantações enquanto habitada e cuidada por uma tribo indígena de mesmo nome, expulsa (pra não dizer "dizimada") pelos colonizadores. Desde então, pouco a pouco, a floresta foi sendo destruída - até mesmo para a prospecção de diamante - e as terras de maior utilidade ocupadas por atividades agropecuárias. Grande volume de terra nua foi sendo arrastado pelas erosões. A olho nu, veem-se lá, hoje, sulcos com até vinte metros de profundidade. Perda incalculável de nutrientes. Impossibilidade de reflorestamento. Nova e permitida garimpagem de diamantes... De resto, a inevitável desertificação.
A degradação das terras nordestinas, por essas e outras razões, apesar dos cuidados dos seus habitantes, tem tido relativa e inevitável continuidade, haja vista grandes áreas serem ocupadas com o plantio de cana de açúcar. Terras que logo se tornam improdutivas. Sua desertificação não será improvável.
Isto posto, veja-se no Nordeste um retrato em preto e branco do que vem acontecendo, agora, na Região Amazônica brasileira: desmatamentos, queimadas, garimpagens, expulsão de tribos indígenas de suas aldeias seculares, completo desrespeito às normas ambientais, relaxamento dos órgãos fiscalizadores, apoio moral e sub-reptício aos predadores (principalmente por parte de governantes comprometidos com mudanças devastadoras e irresponsáveis)... O resultado, com o maquinário disponível de hoje, será uma desertificação inúmeras vezes mais veloz do que a que, de há muito, vem ocorrendo no Nordeste. Por quê?...
Veja-se que, estrategicamente, um primeiro passo dos predadores da Amazônia é a expulsão e/ou dizimação das tribos indígenas cuidadoras das terras a serem perfuradas e das florestas a serem devastadas.
Pra finalizar essa denúncia, lembro de um trecho pertinente, extraído do livro "Mundo sem Sol", de Jacques Cousteau:
"Durante a maior parte da história, o homem teve que lutar contra a natureza para sobreviver.
Neste século (sec.XX), ele está começando a perceber que, para sobreviver, deve protegê-la".
Estamos no século XXI. Não somos trogloditas.