Filosofia ikigai – Okinawa - alimentação e biodiversidade
TRECHO DO MEU LIVRO "VEGETARIANISMO - UMA MODA OU UMA EMERGÊNCIA? (TÍTULO PROVISÓRIO)
Ikigai é uma filosofia de vida. Baseia-se em viver sob a égide de um propósito. Este é o conceito de um povo que preza o poder do aqui e agora, vive sem sociedade e sabe o que é felicidade, pois a vive integralmente. Esses orientais têm a maior taxa de longevidade do mundo. Alcançam mais de100 anos de idade, completamente ativos e produtivos.
Para se viver de fato uma vida que valha a pena em todo o sentido é preciso, à exclusão de tudo o mais, um firme propósito. Carreados por esse lema virão os outros motivos da existência. Os okinawenses conhecem e vivem esse princípio. Na base de sua filosofia está o amor ao próximo, o ikigai primordial. Segundo esse conceito, todos nós temos um ikigai; só precisamos dar-lhe vida e direção. Isso é possível através de uma profunda busca de si mesmo.
O autoconhecimento é a chave para a vida plena. Nossa cultura ocidental é voltada para o racional ao passo que a oriental preza a percepção e a intuição. O senso de comunidade é bem presente no povo de Okinawa. O trabalho em equipe, a ajuda mútua permeia todas as ações, já que são produtivos e a produtividade visa mais o outro do que nós mesmos. O foco é não viver sob estresse, por isso, focando no outro, nas suas necessidades, quebramos as chances de conflitos, pois eles invariavelmente nascem do egoísmo de querer olhar sempre o nosso lado. Eliminando essa forma de conflito se ganha autoconfiança, o estresse se anula e com isso o tempo de vida tende a aumentar em função de uma melhor saúde proporcionada pelo aumento da felicidade.
O propósito é conseguir viver, não sem o estresse que, como já dissemos é necessário, mas administrando-o de forma inteligente. Conseguir fazer do trabalho um passatempo é uma forma inteligente de canalizar o estresse. As boas relações fazem parte da vida do povo de Okinawa, mas não estão ligadas unicamente ao âmbito pessoal na sociedade; elas existem em áreas rotineiras como no ato de se alimentar. A filosofia nesse sentido é: não coma mais do que 80% da sua fome. Também no descanso e no exercício regular ela está presente. Tudo que beneficia uma vida feliz e saudável e leva a acrescentar vida aos anos, tornando-os longos e prazerosos faz parte do status quo deste povo especial.
A prefeitura de Okinawa está no extremo sul do Japão. É composta de 169 ilhas que Compõem o arquipélago de Ryukyu. Acredita-se que essa população tenha ali chegado vinda pelo sudeste asiático. Os okinawenses possuem uma expressão local que é: ichariba chode, e quer dizer: “trate todos como se fossem seus irmãos mesmo que estejam se conhecendo pela primeira vez”. O conceito de “ação natural” ensina que existe sempre um caminho mais fácil para aquilo que desejamos na medida em que nossos sentimentos estejam em harmonia entre o que desejamos o que sentimos e como agimos. Então, fica evidente que a vida de quem tem na alimentação uma ação natural que respeita a terra, os animais e todos os outros seres é uma vida feliz e harmoniosa.
Quando precisamos exterminar a vida de outro ser para mantermos a nossa isto é uma ação antinatural. Todos os animais possuem níveis de consciência. No entanto, não podemos comparar o nível de consciência de uma sardinha ou de um peixe pequeno com o de um boi, um búfalo ou um javali. Ao comermos sardinhas, camarões, ostras e outros peixes minúsculos, estamos ingerindo boas doses de proteína, ômega 3 e aquelas pessoas que não querem tomar suplementos de vitamina b12 se beneficiam destas espécies animais. Contanto que não se interfira na fase de reprodução desses seres, não vejo problema em utilizá-los como alimento. Tirando os veganos que não comem nem usam nada de origem animal, os vegetarianos que não conseguem se manter apenas com vegetais e outros produtos da terra como grãos e hortaliças podem proceder assim.
A base da alimentação do povo de Okinawa é o peixe. Então, acreditamos que desse alimento muito pode ser obtido para a saúde e longevidade. Não podemos ser hipócritas e admitir que a missão de alguns seres é servir de alimento para que a vida do outro seja mantida. Para mim isto não faz sentido, não passa de uma prova da incapacidade de abandonar a ingestão de carne. Um animal não precisa morrer pelo outro. Não estamos falando de um leão na selva que esgana sua presa e a faz de alimento. Não podemos comparar um ato irracional, engendrado pela própria natureza com a matança consciente acumulada com a destruição ecossistêmica, que é o que acontece com a humanidade. Os mares representam 78% da superfície terrestre. Baleias, tubarões e peixes grandes também se alimentam de peixes menores em concordância com a lei de cadeia alimentar e nunca ouvimos falar em depredação como resultado deste fenômeno. Sendo assim se faz necessário que analisemos profundamente cada situação antes de emitirmos opiniões animosas.
O ser humano foi criado por Deus e recebeu, como legado um reino maravilhoso de beleza sublime, de ordem e de harmonia. Nossa condição de soberano sobre todas as criaturas não nos dá o direito de assassiná-las, mas respeitar e contribuir com a missão de cada uma delas. Os oceanos estão sendo invadidos por possantes transatlânticos carregados de armas destruidoras de baleias, tubarões e outras espécies importantes para a biodiversidade marítima. Quando o cidadão de Okinawa come um peixe ou uma sardinha não creio que esteja compactuando com essa matança desordenada de espécimes quase em extinção. Ele pode muito bem ir até um mercadinho próximo de onde mora e comprar alguns camarões para compor o seu regime saudável e descartar completamente a idéia de levar para casa um óleo de tubarão ou o toucinho e as barbatanas de uma baleia. Se agir assim está em completa harmonia com a natureza.