PASSO 1 – DEFINIR O OBJETIVO DO SEU SAF

Seja você produtor familiar ou empresário rural este passo é imprescindível. É aqui que você define se o objetivo é comercial, é para segurança alimentar ou para serviços ambientais.

Comerciais - produção de carne, farinha de mandioca, fibras, forragem, frutos, grãos, lenha, madeira serrada, entre outros;

Segurança alimentar - plantar alimentos para consumo da própria família, como mandioca, milho, feijão, arroz, entre outros; e

Serviços ambientais - possibilitar sombra, adubação verde, controle de erosão, restauração de áreas degradadas, fixação de carbono, entre outros.

 

PASSO 2 - CONHECER O AMBIENTE INTERNO E EXTERNO

 

Ambiente interno: solo ao longo da pedosequência (quando for o caso), a forma de uso da terra, a disponibilidade de água e outros recursos naturais, a oferta de mão de obra na propriedade, as benfeitorias, as máquinas disponíveis, a quantidade de recurso financeiro, entre outros.

Ambiente externo: espaços de comercialização dos produtos na região, o mercado de insumos, armazéns, estradas para escoamento da produção, assistência técnica, entre outros

 

PASSO 3 – DEFINIR O LOCAL DA IMPLANTAÇÃO

Importante considerar o Cadastro Ambiental Rural – CAR ou o PRA:

- Áreas de reserva legal (dependendo do tipo de sistema a ser implantado, segundo resolução CONAMA No 369);

- Áreas de capoeiras, principalmente as mais jovens

- Áreas com baixa produtividade de cultivos anuais ou de pastagens

 

PASSO 4 – DEFINIR O MODELO DE SISTEMA

Com as informações precedentes você já pode definir se o seu sistema será silviagrícola, silvipastoril ou agrossilvipastoril.

 

PASSO 5 - DEFINIÇÃO DA ESPÉCIE CHAVE DO SISTEMA

  • Sub-passo 1 - Organizar os dados de clima e solo da região e elencar as espécies de ciclo longo com valor econômico que sejam adequada às condições locais;
  • Sub-passo 2 - De posse das potenciais espécies chave avaliar quais as que têm manejo dominado no local, na região ou no país e que se adequam ao sistema que você definiu;
  • Sub-passo 3 - Definidas as espécies com manejo conhecido e adequadas ao sistema avaliar o mercado para cada uma delas.
  • Sub-passo 4 - Definida a ou as espécies chave levantar o maior número possível de informações sobre família, gênero, altura, copa (tamanho e permeabilidade), ciclo de exploração, tempo de produção de sementes, espaçamentos, sistema de desbaste,  desrama, sistema radicular, queda de folhas, PRAGAS E DOENÇAS

PASSO 6 - DEFINIÇÃO DAS ESPÉCIES OU ANIMAIS COMPANHEIRAS (OS) NO SISTEMA

 

No caso de sistema silviagricola

  • Para definir o número de espécies companheiras, seja para produção ou para serviço, você terá que ter uma ideia sobre a diversidade que você quer para o sistema que você definiu lá atrás.
  • Para definir as espécies companheiras é importante compor uma lista com aquelas que tenham mercado local e/ou regional com as seguintes informações:
    • família e gênero a que pertencem;
    • comportamento a sombra
    • sistema radicular
    • altura das plantas
    • principais pragas e doenças
    • ciclo produtivo
    • época de frutificação na região
    • Espaçamento de plantio

No caso de Sistema silvipastoril ou agrossilvipastoril

  • No caso de silvipastoril definir as espécies forrageiras tolerantes a sombra e adequadas para o tipo de animal no sistema
  • No caso de agrossilvipastoril você irá buscar as culturas agrícolas adequadas para a primeira fase do sistema que é agrícola e definir para a segunda fase as espécies forrageiras tolerantes a sombra e adequadas para o tipo de animal no sistema

OBSERVAÇÃO. Além de tudo isto eu também considero na escolha das espécies agrícolas os seguintes levantamentos municipal, regional, estadual com base no IBGE. Uso normalmente três quadros:

Quadro 1 - Principais lavouras temporárias localizada na região e/ou estado por ordem de valor da produção

Quadro 2 - Principais lavouras permanentes na região e/ou estado por ordem de valor da produção

Quadro 3 - Principais produtos extrativistas na região e/ou estado por ordem de valor da produção

Quadro 4 - Características das principais espécies utilizadas para compor sistemas agroflorestais. Neste quadro deveremos ter para cada espécie pelo menos as seguintes informações: Nome comum, nome científico, família, grupo, extrato que pode ocupar no sistema (baixo, médio, médio/alto e alto; ciclo aproximado e uso.

Caso você trabalhe com uma perspectiva de longo prazo aconselho dar uma olhada nos livros sobre espécies para futuro e ver se vale a pena ir se preparando para investir em alguma que possa ser implantada ao longo do processo.

 

PASSO 7 -  DEFINA AS COMBINAÇÕES E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO SISTEMA

 

Agora que você já definiu a área de instalação dos SAFs, o tipo de sistema, a espécie principal, as espécies companheiras é necessário realizar o planejamento para a formação de combinações temporais (distribuição a partir do tempo) e espaciais (distribuição em estratos)

1. O êxito do modelo dos SAFs escolhidos depende da correta combinação de seus componentes, com base nas condições edafoclimáticas (relação solo, planta e clima) e nas oportunidades de mercado.

2. A definição dos SAFs deve prever a distribuição dos seus componentes, em distância e densidade adequadas, respeitando a tolerância à sombra das culturas escolhidas, o que é fundamental para as intervenções de manejo, como capina, poda e outros.

3 - Espaçamento das culturas (usar dentro do possível o mesmo indicado para elas em cultivos convencionais);

 

QUESTÃO  3 – O QUE VOCE TEM A DIZER SOBRE RENTABILIDADE DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS.

Primeiramente quero dizer que é imprescindível considerar a rentabilidade dos sistemas inclusive antes do sistema – ANÁLISE EX ANTE e isto pode ser feito com uso de planilhas de custo de produção que estão disponíveis de forma gratuita.

Assim que definimos o modelo e seus objetivos precisamos estimar os custos e os benefícios esperados, através de uma análise ex-ante, mesmo que essa análise possa ser de difícil mensuração.

São vários os indicadores utilizados para auxiliar o produtor na tomada de decisão sobre um empreendimento florestal que esteja pretendendo fazer. Os mais comuns são:

  • Valor liquido presente (VLP), também denominado de Valor Presente Liquido (VPL)
  • Taxa Interna de Retorno (TIR)
  • Valor Esperado da Terra (VET)
  • Valor Equivalente Anual (VEA)
  • Relação Benefício Custo (VBC)

SISTEMAS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA DISPONÍVEIS NA EMBRAPA FLORESTAS

AnaliSAFs

É um sistema que realiza análises socioambientais e financeiras de Sistemas Agroflorestais, com o objetivo de auxiliar produtores rurais, técnicos extensionistas, pesquisadores e manejadores de SAFs em geral, a aprimorar suas técnicas e melhorar os resultados produtivos, sociais e ambientais de seus plantios. No AnaliSAFs o usuário pode subir informações através do aplicativo Android ou via plataforma online.

O AnaliSAFs e os tipos de uso:

  • Diagnóstico da propriedade rural (Módulo de análise socioambiental), inclusive em modo offline pelo aplicativo;
  • Coleta de dados financeiros do sistema agroflorestal de todo horizonte de tempo para o qual o projeto é desenhado, de forma offline pelo aplicativo com visualização dos resultados simplificados no aplicativo após sincronização online, com resultados completos podendo ser visualizados via plataforma online;
  • Coleta de dados financeiros da produção agroflorestal a partir do acompanhamento in loco e em tempo real. As informações subidas são agregadas na plataforma online, e pôr fim a análise financeira é realizada quando as informações do projeto estiverem completas

AmazonSaf[1]

- Planilha eletrônica de análise financeira e socioambiental de SAFs

FAMILIA SIS – software para análise de SAFs quando associados ao PLANIN que gera parâmetros para análise econômica da produção florestal

  • SisILPF (Benthamii)
  • SisILPF (Dunnii)
  • SisILPF (Eucalipto)
  • SisILPF (Elliottii)
  • SisILPF (Taeda)
  • SisILPF (Cedro)
  • SisILPF (Mogno)

ALERTAS SOBRE PROBLEMAS QUE PODEM CAUSAR RESULTADOS NEGATIVOS NOS SAFs

 

Assim como outros investimentos florestais, os SAFs, por apresentarem um ciclo de produção longo, o processo de tomada de decisão se torna complexo. Todo esse processo considera, além de aspectos econômico-financeiros, as restrições dos fatores de produção e os riscos envolvidos no processo de produção.

Além disso, investimentos no setor florestal demandam um montante significativo de capital, que será imobilizado por um longo período.

E estas são as duas variáveis que mais influenciam a tomada de decisão em um empreendimento florestal.

O risco possui uma grande importância para o entendimento da produção e o desenvolvimento dos SAFs, podendo ser influenciado por fenômenos meteorológicos, fenômenos biológicos e pela situação mercadológica.

No processo produtivo, principalmente de pequenas propriedades agrícolas, as principais fontes de incerteza são: quantidade e frequência de chuvas, custos de produção, preço de venda dos produtos e taxas de juros.

PRINCIPAIS CAUSAS DE FRACASSO

Quanto a parte agrícola do sistema

  • Não selecionar espécies compatíveis

Compatíveis quanto a sistema radicular, tolerância a sombra, troca de folhas, doenças e pragas

  • Usar densidade de plantas muito alta

Você pode escolher espécies compatíveis, mas errar na densidade das plantas.

Se for um sistema pioneiro tem que levar em conta espaçamento convencional das culturas e ir ajustando com o tempo.

Se for um sistema comum adaptar as densidades em uso, para suas condições.

  • Uso de materiais genéticos de baixa qualidade

Não comprar mudas ou sementes pensando em diminuir o custo pois, nesse caso, costuma o barato ficar caro.

  • Desconsiderar particularidades de pedossequências

Há casos em que a área é era uma pendente onde o terço inferior do sistema encontrava-se em Gleisssolo, enquanto o restante da área era um Cambissolo, no entanto as mesmas culturas foram implantadas nas duas áreas e o manejo dado foi igual para toda área.

 

Quanto a parte econômica do sistema

  • Desconsiderar o mercado regional dos componentes

Não verificar o mercado e definir espécies que não têm demanda que comporte o projeto ou mesmo definir a espécie correta do ponto de vista edadoclimático e mesmo de mercado, mas errar no produto a ser explorado daquela espécie.

  • Desconsiderar o mercado de insumos

É importante pois a depender dos componentes isto pode ser fatal quanto ao aumento do custo de produção.

  • Desconsiderar a análise das estruturas de comercialização, mesmo que primárias:
  • Desconsiderar o preço histórico dos produtos nas análises financeira

vi trabalhos em que foram utilizadas 10000 interações entre os possíveis preços dos produtos do sistema agroflorestal (oriundos da série histórica dos preços de cada produto), a fim de montar uma distribuição de probabilidade. Enquanto já vi outros em que se utilizou o preço do ano em que por conta de problemas climáticos estava supradimensionado.

 

Onde encontrar preços históricos?

https://www.agrolink.com.br/cotacoes/busca/

https://www.conab.gov.br/info-agro/precoshttp:

//www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/Bancodedados.php (para quem está em São Paulo)

https://www.indexmundi.com/pt/pre%C3%A7os-de-mercado/

 

Quem quiser fazer pelo menos uma avaliação ex-ante com preços atuais saiba que é frágil, mas melhor que nenhuma análise, dá para usar os preços das CEASAS nos diferentes estados http://www.ceasa.gov.br/precos.php

  • Desconsiderar análise de sensibilidade na avaliação ex-ante

Análise de sensibilidade mostrou ser boa ferramenta para verificar risco do sistema agroflorestal analisado.

  • Desconsiderar o fluxo de caixa

Há casos em que o conjunto de espécies está correto do ponto de vista da compatibilidade no sistema, mas não permite uma entrada de recursos que possa garantir a manutenção do sistema.

Lembrar que mesmo que você tenha entradas a partir de financiamentos, por vezes isto não é suficiente para cobrir os custos

  • Erro no planejamento das transições de fases

É conveniente lembrar que em sistemas bem manejados desde a implantação, as frutíferas perenes já deverão estar produzindo quando os cultivos de ciclo curto da primeira fase estiverem zerando.

  • Negligenciar a necessidade de mão-de-obra

Por vezes se imagina que pode dar conta com a mão-de-obra fixa na propriedade (familiar ou contratada) e no final a necessidade é muito maior e na região é escassa

 

Outras informações sobre custo de produção

https://www.cnabrasil.org.br/sevicos/custos-producao

 

ALERTA FINAL

 

Muitas vezes os SAFs apresentam indicadores financeiros positivos em uma análise ex ante, mas o simples fato de se ter feito uma péssima organização temporal das produções na prática o cidadão quebra

 


[1] SisEucalipto (Eucalyptus grandis, E.urograndis e E.dunnii); SisPinus (Pinus caribaea, P.elliottii e P.taeda); SisTeca (Tectona grandis); SisAcacia (Acacia mearnsii); SisAraucaria (Araucaria angustifolia); SisBracatinga (Mimosa scabrella), SisCedro (Toona cilliatta - Cedro-australiano) e  SisMogno (Khaya ivorensis).