Caminhos Errantes
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Lamento (I)
Aquelas águas não viviam contidas somente em poças pelas estradas, represas, nascentes, lagos… desciam encostas por fendas rochosas, em queda livre e barulho suave...
Cenário bonito de se ver, ouvir, apreciar; lembrava um véu de noiva estendido sobre a serra, moldurado por relva.
— Águas limpas da chapada, da cacimba, da bica, transparente como cristais, a escoar, a carrear do solo, minerais, nutrientes. À gerar e manter a vida na Terra, refrescar…
Lamento (II)
A Terra até parece cambalear como ébrio, pelos maus tratos que recebe…
Sem recargas suficientes, aquíferos subterrâneos, nascentes, rios, riachos estão a secar... matas, cerrados, biomas são exterminados (sem piedade).
— Por correntes de aço, entrelaçadas, conectadas à ganância, tombam árvores, bichos, homens...
Sem misericórdia suprimem, vendem, consomem, destroem… espaços de coberturas vegetais; microorganismos, fertilidade do solo.
Lamento (III)
Há poluição com abundância, em tudo que se vê… A vazar pelo ladrão. Contaminamos nossa água de cada dia pela irracionalidade. Onde brincávamos, a nadar, a pescar, a beber, há resíduos, dejetos a boiar.
Lamento (IV)
… O Criador ainda suporta tais insultos a Si, à Sua Criação, nem sei como.
Há muita insanidade da nossa parte na administração de nossos corpos hídricos, o tempo todo.
Recebemos de graça, água boa, solo fértil e em troca, o agredimos?
Fadigados, submergíamos nossos corpos, em límpidas águas, hoje nem os pés, arriscamos banhá-los.
Lamento (V)
De repente, vem à chuva envolta em vendavais tremendos! Edificações são invadidas, engolidas, demolidas pela fúria das enxurradas, dos ventos...
Cidades viram mares; pessoas em nados, barcos improvisados, salvam vidas e pertences, como podem… alguns, procuram lugares seguros, mas nem sempre conseguem. — Sucumbem-se.
A natureza revolta converte a alegria em pranto e deixa, aos sobreviventes, marcas profundas, tristeza, dor; desencanto e desencontros com a vida.
Lamento (VI)
Somos mortais sem juízo, no caminho errante que percorremos.
Quantos males já cometidos a nós mesmos e ao próximo, sem nos darmos conta das consequências vindouras.
No lugar do amor, alimentamos o ódio e a ganância…
Ignoramos a prática de uma relação harmoniosa e saudável com a natureza que Deus formou e nos deu para administrar.
Lamento (VII)
Desorientados, seguimos sem um norte ideal para as nossas vidas.
Com pouca lucidez ainda andamos de um lado a outro, nos nossos loucos desvarios; por caminhos errantes, sem horizonte definido.
Lamento (VIII)
Ainda há motivos para o otimismo; bem como antídotos a serem usados. — No sentido de minimizar o mal que causamos ao planeta.
Inverter o quadro desolador da degradação que provocamos, é a esperança que nos resta. Isso só será possível se assumirmos atitudes mitigadoras aos impactos das nossas irresponsabilidades.
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental e Acadêmico Literário