A VIDA NOS SERINGAIS

Os seringueiros, morando em rústicas barracas em plena selva, a uma ou duas, três horas de viagem do vizinho mais próximo, consumiam as mais finas conservas que se fabricavam nos E.U.A e na Europa e mor- riam de beribéri, desvitaminados.

Atrás de cada barraca, que as onças visitavam na ausência do seu morador, havia um monte de latas vazias. Muitas vezes o seringueiro era solteiro. Vez por outra o seringalista, que fora ao Ceará, onde o chama-

vam paraoara, arrotar grandeza, visitar parentes, rever a terra, adquirir

mercadorias, chegava ao barracão com novos homens e algumas damas.

Estas provocavam agitação e até conflito armado. Recebiam mulher os

seringueiros mais trabalhadores, que mais borracha produziam, que da-

vam maiores lucros, portanto. Era um prêmio. Além do mais o seringuei-

ro tinha com quem conversar, pois tornara-se taciturno de tanta solidão.

Quase desaprendera a falar e como vivia sempre à sombra, como nunca

tomava sol, mesmo sadio era pálido.

Não raro, quando o comboio chegava, a barraca estava deserta. O se-

ringueiro adoecera e morrera sozinho. As vezes estava no fundo da bar-

raca o esqueleto do antigo morador. O seringalista. no barracão da mar-

gem do rio navegável, era um nababo primitivo. O do seringal Iracema,

no alto Acre, vestia "smoking" para jantar. Era um jantar aparatoso, ao

som da orquestra que contratara em Belém ou Manaus. Bebia-se cham-

panha como se fosse água. O preço não importava ( Enciclopédia Barsa,

volume 3).

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 25/08/20

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 25/08/2020
Reeditado em 26/08/2020
Código do texto: T7045852
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