A VIDA NOS SERINGAIS
Os seringueiros, morando em rústicas barracas em plena selva, a uma ou duas, três horas de viagem do vizinho mais próximo, consumiam as mais finas conservas que se fabricavam nos E.U.A e na Europa e mor- riam de beribéri, desvitaminados.
Atrás de cada barraca, que as onças visitavam na ausência do seu morador, havia um monte de latas vazias. Muitas vezes o seringueiro era solteiro. Vez por outra o seringalista, que fora ao Ceará, onde o chama-
vam paraoara, arrotar grandeza, visitar parentes, rever a terra, adquirir
mercadorias, chegava ao barracão com novos homens e algumas damas.
Estas provocavam agitação e até conflito armado. Recebiam mulher os
seringueiros mais trabalhadores, que mais borracha produziam, que da-
vam maiores lucros, portanto. Era um prêmio. Além do mais o seringuei-
ro tinha com quem conversar, pois tornara-se taciturno de tanta solidão.
Quase desaprendera a falar e como vivia sempre à sombra, como nunca
tomava sol, mesmo sadio era pálido.
Não raro, quando o comboio chegava, a barraca estava deserta. O se-
ringueiro adoecera e morrera sozinho. As vezes estava no fundo da bar-
raca o esqueleto do antigo morador. O seringalista. no barracão da mar-
gem do rio navegável, era um nababo primitivo. O do seringal Iracema,
no alto Acre, vestia "smoking" para jantar. Era um jantar aparatoso, ao
som da orquestra que contratara em Belém ou Manaus. Bebia-se cham-
panha como se fosse água. O preço não importava ( Enciclopédia Barsa,
volume 3).
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B.Hte., 25/08/20