REFLEXÕES SOBRE O VIRUS

Os fenômenos de qualquer natureza, sejam biológicos, meteorológicos, são amálgamas, fusões ambíguas de vários elementos que deveriam estar ordenados, mas que não estão e que permeiam a existência da vida na terra e seus elementos.

Assim é um erro acreditar, por exemplo que o vírus atual que nos agride é um vírus chinês, porque os vírus não têm pátria, nem obedecem a fronteiras. Podem vir de qualquer lugar. Sua fronteira é o globo. Eles são entes naturais, estão no planeta e fazem parte deste. Cumprem funções como tudo na natureza. São parte do elenco de seres naturais a nos mostrar, de repente, que não estamos sozinhos, nem que a terra nos pertence, por sermos raça dominante, que somos meios e não fins. Recuso-me a acreditar que a humanidade possa tê-lo criado em um laboratório visando uma guerra biológica suicida. Acho que nosso grau de barbarismo ainda não permite isso. Vivo com essa esperança!

Os vírus existem e vivem na natureza, presos a cadeias geológicas no fundo do mar, nas geleiras pré-históricas, nos vales esquecidos ou ainda nas profundezas da terra ou simplesmente habitam outros organismos vivos no complexo habitat que nos cerca ou ainda em todos estes lugares. As cidades superlotadas e a intensa interação humana do mundo moderno, oferecem-lhes o combustível necessário para sua explosão.

Eles se manifestarão, quando for a hora e o farão por força dos desequilíbrios que provocamos. Desequilíbrios que nos cobram um preço, pois tudo obedece a uma lei de causa e efeitos. Há um poder sobre nós, que não controlamos, que está em uma outra dimensão que não vemos, mas que nos observa e nos cobra no tempo devido. Chame isso de Deus ou de natureza, não importa. Há uma lei natural e ela é simples. Tudo está em paz se tudo estiver em equilíbrio. A terra respira, é um ente vivo, com sua motricidade, temperaturas, velocidades e pressões, parte de um cosmo também balanceado e equilibrado. Contudo é um equilíbrio de forças. Tudo está subjugado a este equilíbrio forçoso. Não saímos todos voando no espaço, porque nos prende a força gravitacional da terra. A terra cumpre uma órbita e não se perde no cosmo, porque está presa à órbita gravitacional do sol. Aqui na superfície da terra, a coisa não é diferente. A vida pulsa, porque a terra pulsa, desde o calor incomensurável do seu magma interior às forças externas que a subjugam. Assim ela vibra e suas vibrações atingem e influenciam a todos. Assim tudo pede equilíbrio. O planeta não reage às agressões, apenas distribui os desequilíbrios.

O único animal, que desrespeita a estabilização natural é o homem mas a conta sempre vem. Mudanças climáticas alteram o habitat humano trazendo mortes e calamidades, mas o homem finge que não é com ele. Queima e avança sobre as florestas, polui o globo com suas fábricas e carros, constrói áreas de risco, sobre várzeas, desenvolve cidades enterrando rios e nascentes. Suas cidades são verdadeiros tumores arquitetônicos com seus edifícios sufocando a paisagem, aumentando a densidade populacional com todas as consequências negativas. Suas periferias crescem em total descontrole, tornando-se guetos próprios para ratos e não para humanos. Planejamento urbano? Coisa para outros séculos, creio, outros tempos, outro tipo de civilização.

O homem de hoje, mais do que nunca é um obcecado, absorvido pela busca desenfreada da acumulação de riquezas e de se entregar exatamente o oposto em relação a seu semelhante, ou seja, ser diferente, ser melhor, mais poderoso quando deveria buscar exatamente o contrário, a harmonia entre as pessoas e o bem estar comum.

Um egoísta convicto e irrefreável, isolado dentro dos seus carrões, aviões, suas mansões, seu círculo social fechado e suas grades de proteção contra a quem possa ameaçá-lo. Assim somos todos quando atingimos alguma posição social. O negócio são os números, a eficiência, a maximização de resultados e a descoberta de novas formas de ganhar mais dinheiro. Não há lugar para sentimentos, humanidades nesse mundo, muito menos para qualquer sinal de espiritualidade...Como poderia haver? Os vetores da sociedade atual são o prazer do consumo e o consumo do prazer. Criamos um mundo tão errado e agora como consertá-lo?

Os criadores do progresso, ignoram tudo e pensam que sempre haverá alguém cuidando dos outros, por isso pagam seus impostos e acham que isso é suficiente, ignorando que sua classe dominante dita as regras do país, através de políticos corruptos que compram como se compram prostitutas ou melão na feira e assim regem a distorção social que os livra de mais impostos que poderiam minorar a má sorte dos desvalidos e criar um país mais justo.

As tecnologias, que pensávamos que seria uma ferramenta de integração social, descobrimos que são voltadas na verdade, para o domínio e controle das pessoas por parte daqueles que detém o poder e os recursos e é apenas mais uma ferramenta poderosa para permitir mais acúmulos e entreter as mentes para que não pensem, consumam e se distraiam. O que poderia parar essa cadeia de insensatos, senão o medo? Eles só entendem essa linguagem advinda das reações aos desequilíbrios que esta famigerada corrida contra o tempo e a vida, provoca.

Exatamente aí entram as catástrofes, como esse vírus que aí está. Se surpreendem quando, de repente, toda a máquina infernal que move os interesses do mundo se vê, canhestramente, obrigada a paralisar suas atividades, suspender as viagens, fechar o comércio e o movimento de pessoas para qualquer parte. Assim se deprimem no claustro obrigatório que se impõe, mas podem vir a descobrir algo positivo no caos. Podem vir a perceber com o transcorrer do tempo em quarentena, que eles têm uma vida, que há pessoas em seu entorno, que sentem, que precisam mais atenção que dinheiro. Que foi interessante redescobrir os valores das amenidades e afetividades familiares e do convívio. Todos falam das consequências nefastas da paralização, mas não citam a despoluição das cidades, sendo reduzidas a índices nunca vistos. Os maus sentimentos refreados. Não citam que pode haver mais reflexões que pode ser o embrião de uma nova consciência por nascer.

O homem terá que considerar um dia, que ao morrer tudo ficará na terra. Sua preocupação com a segurança alimentar, que se estende às futuras gerações, não considera que os que virão, precisarão batalhar para conseguir seus próprios êxitos que será a razão do seu crescimento pessoal, missão de todos. Senão criaremos gerações ainda mais arrogantes e mais desumanizadas a piorar ainda mais a vida na terra.

Estamos assim, todos muito assustados com o trem do progresso de freio puxado e sua máquina silenciada em seus ruídos assustadores. Mas agora é a hora e a vez da calma. Agora, que os carros deixam as ruas e os pássaros passam a ocupá-las e podem ser observados pelos homens nas grandes cidades é hora de refletir sobre o que cada um tem feito pelo mundo. O que eu tenho feito pelo futuro da humanidade. Eu parei de usar sacos plásticos no supermercado? A luta do homem para salvar o planeta passa pela luta contra o mundo de plástico. O que você já fez pelo futuro das crianças que ainda nascerão? Sim eu tenho responsabilidade nisso! Todos temos!

O somatório de todas as ações individuais, o obedecer às leis de preservação dos biomas naturais, farão o mundo mais habitável. O resto é cascata! A especulação, o capital precisam ter controle e freios, por isso precisamos de governantes com visão de futuro, com compromissos com o mundo, com o progresso ordenado e que tenha a honestidade como seu princípio basilar para não deixar descarrilar o trem de suas responsabilidades.

Um destes seres urbanos atuais me disse, pela mídia social, outro dia, ao filmar um João de Barro, pulando no meio fio:

- Nem sabia que havia ainda pássaros em São Paulo! Pois é...resistiram a nós, postei! Que continuem resistindo!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 01/04/2020
Código do texto: T6903410
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