AMBIVALÊNCIA - A QUESTÃO DE BRUMADINHO

O Brasil quer que a Vale responda quanto o Vale agora vale. Pois, tanto dinheiro foi dali arrancado, e levado, depois de lavado! E agora, o que fica? Lama, estragos; morte. Tanta riqueza e ao mesmo tempo tanta pobreza de sentimentos e de responsabilidades! O privado sobrepôs-se literalmente. A vida ficou privada de responsabilidade ambiental, de segurança e, principalmente, de escrúpulos. De repente, tudo ficou perdido sob os dejetos e Brumadinho agora é uma gigantesca latrina, imunda e repugnante. Onde corriam rios de dinheiro, agora corre a lama. E a lama levou gente, levou bicho, levou planta, levou coisas; cobriu a biodiversidade de vergonha, mas revelou as caras lavadas dos que vivem entre a hipocrisia e o oportunismo.

Em meio à dor e às tomadas de decisões emergenciais, a todo instante, questiona-se a posição da empresa responsável e a inferência “heroica” do governo acerca da situação e da reparação do dano material. É preciso ressaltar que tudo aconteceu justamente no momento em que o governo federal pôs em xeque as ações do Ibama, considerando as multas abusivas e as licenças ambientais muito rigorosas.

Sabe-se que o recomeço dependerá das indenizações, mas, quem conseguiu salvar-se encontra-se agora diante de danos irredimíveis. Perdeu, dentre todos os bens, aqueles constituídos pelos laços de sangue ou benquerença. Sob os dejetos, ficaram gotas de suor dos que edificaram e, cotidianamente trabalharam, digitais de quem, por ali, se fez; ficaram soterrados os retratos, as pegadas, objetos de valor sentimental, planos, esperanças, marcas de amor e de amizade, sonhos, histórias; memórias de um povo e de um lugar. A lama desfez trajetos e enterrou projetos de vida que não se encaixam nas prioridades da Samarco e, agora, sufoca quem só consegue dizer: valha-me, Deus! Pois, não pode mais dar em seu ente, o rotineiro beijo de despedida, na saída para o trabalho, nem pode experimentar aquela alegria, que só mãe tem, de ver seu filho chegar em casa, são e salvo. É, vale do Rio Doce! Acabou-se o que era doce. Resta a amargura e a revolta.