Somos realmente Seres humanos?
O que podemos entender por ser humano? Segundo a bíblia, criação divina para cuidar de todos os outros seres vivos. Segundo a ciência, resultado do processo evolutivo do primeiro hominídeo ao atual homo sapiens. Nos dois casos o responsável pela manutenção e preservação da vida em suas mais diversas formas no planeta terra. Será que estamos cumprindo nosso papel? Todas as constatações nos mostram que não.
Mesmo com as catástrofes naturais, antes da existência humana o planeta era sustentável. Até mesmo depois da queda de um asteroide que acabou com os dinossauros, o planeta se recuperou. Claro que levou milhares, milhões de anos, mas se recuperou. Será se nós não estamos promovendo um evento das mesmas proporções e o mundo levará milhares, milhões de anos para se recuperar novamente?
Quando se fala em aumento da emissão de gases na atmosfera elevando a temperatura do planeta, pensamos logo nos EUA, China, países industrializados e grandes centros urbanos; quando falamos em desmatamentos pensamos logo na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica; quando falamos em poluição da água pensamos na emissão de efluentes das grandes indústrias e das cidades sem saneamento básico. Quem pensa assim não está errado. Mas acho que devemos elencar outras situações.
Atualmente a população mundial ultrapassa os 7,5 bilhões de habitantes. O planeta nunca teve uma carga tão grande de humanos encarnados. Cada um desses humanos depende totalmente dos recursos naturais para sobreviver; alimento, vestimentas; moradia e conforto depende da exploração/depredação do nosso meio ambiente. Seria possível tanta gente morando no planeta e ainda termos recursos ambientais suficientes para atender a todas as demandas sem entramos em colapso? Estudos dizem que SIM, mas depende de vários “SEs”; se usássemos de forma racional os recursos que necessitamos; se os avanços tecnológicos não fossem utilizados prioritariamente para as forças armadas e para alimentar o capitalismo insaciável; se fossemos mais espiritualistas que materialistas; se o ter não estivesse sempre acima do ser; se...
Não é só o agronegócio que, com suas monoculturas, detonam a fauna e flora de determinados biomas. São também os agricultores familiares que desmatam novas áreas a cada plantio, inclusive acabando com as matas ciliares; são os produtores que utilizam agrotóxicos incontrolavelmente; os criadores de gado que impermeabilizam grandes áreas para plantar capim...
Não sãs só as grandes minerações que arrasam com os recursos hídricos. Os garimpeiros artesanais que utilizam “azougue” (mercúrio) e acabam com a fauna aquática; os desmatamentos em volta das nascentes e as frequentes queimadas em nossas serras e vales são devastadores para nosso meio ambiente.
O que fazer?
Essa resposta cada um tem que procurar dentro de sua realidade. A maioria de nós cobramos do poder público a resolução dos problemas. Essa cobrança tem que continuar, pois o poder público, em suas três instâncias, tem muitas e importantes atribuições: expedir licenciamentos, fiscalizar condicionantes dos licenciamentos, atender a legislação ambiental nas execuções de obras públicas, promover o saneamento básico, recuperar áreas públicas degradadas, planejar, orientar, monitorar, fiscalizar e combater crimes ambientais.
Se os órgãos públicos conseguirem cumprir seu papel, já teremos um grande avanço. Porém, o avanço mesmo só virá quando cada cidadão assumir sua responsabilidade.
Primeiro lembrar que o meio ambiente não é uma fonte inesgotável e lembrar que as futuras gerações vão necessitar dele também para sobreviver. Hoje não faltam campanhas educativas tentando sensibilizar e orientar a população para as causas ambientais. Economizar água; praticar os três “Rs” da sustentabilidade (Reduzir, Reutilizar e Reciclar); praticar o consumo consciente; consumir alimentos orgânicos, não praticar crimes ambientais, etc.
Com tantas campanhas, nos dias atuais nenhum ser humano está alheio a necessidade de se cuidar do meio ambiente em todas as suas vertentes. Mesmo com tanta publicidade, a cada dia a mídia nos mostra o crescimento do desmatamento na Floresta Amazônica e Mata Atlântica (isso sem falar dos outros biomas a exemplo de nossa caatinga); da situação do nosso Velho Chico; do aumento da emissão de gás carbônico; do derretimento das calotas polares; das secas prolongadas em alguns locais e excesso de chuvas em outros. Aqui em Jacobina, uma cidade que já contou com abundantes recursos hídricos, hoje sofre com falta d’água até mesmo para abastecimento humano, dependendo de barragens distantes como a do município de Pindobaçu, para suprir as necessidades da população; os produtores rurais abandonam suas propriedades porque não têm água para suas plantações e animais; os outrora perenes rios do Ouro e Itapicuru, que atravessam a cidade, hoje são intermitentes.
Tudo isso me faz lembrar do livro “Crônica de uma morte anunciada” do escritor colombiano Gabriel José Gárcia Márquez, ganhador do Prêmio Nobel da Literatura em 1982. Todos sabiam que Santiago Nasar morreria naquele dia, menos ele. Não quero ser pessimista, mas sendo realista sinto calafrios pelo o que vejo pela frente. Se mudanças radicais no comportamento humano não acontecerem, os cenários caóticos que assistimos em filmes sobre o futuro da humanidade estão cada vez mais próximos.
Voltando à questão inicial: somos dignos do título “ser humano”? Estamos cuidando do planeta conforme a atribuição divina? Somos realmente o ápice do processo evolutivo conforme preconiza a ciência? Vamos fazer uma reflexão sobre isso?
Quero finalizar esse texto alimentando a esperança que minha utopia se torne um sonho, e esse sonho realidade. Vamos, cada um tentar agir localmente para que ocorra uma mudança global. Vamos tentar colocar em prática o que a mídia nos alerta: economizar água e energia; praticar os três “Rs” (Reduzir, Reutilizar e Reciclar); consumir alimentos orgânicos, não cometer crimes ambientais e, acima de tudo, pensar em nossos filhos e netos. Eles também precisam do planeta para viver. Vamos assumir nosso papel perante o planeta, vamos tentar nos tornar em seres realmente humanos. Fica a dica.
Jacobina, 30/06/2017.
(Publicada em "A Letra em revista - 2º Semestre - 2017" - publicação da Academia Jacobinense de Letras - AJL)