Solidariedade com a Terra
Paiva Netto
Desde o Protocolo de Kyoto, em 1997, pouco se alcançou de concreto. Ao ser entrevistado para a revista Boa Vontade, o dr. Kiyo Akasaka, então subsecretário-geral da ONU para Comunicação e Informação Pública, na época embaixador do Japão e um dos principais negociadores de seu país nos debates sobre as mudanças climáticas, revelou que “somente em 2005, após a aceitação desse protocolo pela Rússia, é que ele passou a vigorar. Isso levou bem mais tempo do que esperávamos”.
E, nesse caso, o “tempo é dinheiro” dos chamados homens práticos passou a ser “tempo é vida”. O dr. Akasaka, por isso mesmo, falava, em 2009, ano em que foi formulado o Acordo de Copenhague, sobre a importância de equacionar um novo pacto “que abranja tanto os países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento”. Ele exaltou ainda que “a sociedade civil e as pessoas em geral estão bem mais conscientes da necessidade de lidar com essas questões, porque se têm observado os efeitos das mudanças climáticas no aumento do nível do mar, nas tempestades, nas secas, no derretimento de geleiras nos Alpes... Algo precisa ser feito”.
Parecer compartilhado pelo mestre e doutor em Economia Sérgio Besserman, igualmente registrado pela revista Boa Vontade: “Há, de fato, uma consciência de que é totalmente necessário tomar medidas rápidas, emergenciais, muito profundas, de modo que as economias do mundo, e não apenas a produção, mas o consumo, aquilo de que todos participamos também, mudem e passem a emitir menos gases do efeito estufa, com o objetivo de evitar piores cenários de aquecimento global. (...)”.
Indagado sobre quais providências devem ser tomadas, o prof. Besserman foi categórico: “Eu diria que há ainda muita inércia. É natural que haja certo conservadorismo diante de mudanças, somos assim; se o médico nos dá uma má notícia ficamos zangados com o médico, buscamos outro. Só quando a gente está convencido de que precisa emagrecer, fazer exercícios, ter hábitos saudáveis, de que necessita dar atenção à Espiritualidade, só então a gente encontra forças para mudar. O mundo não é tão diferente, ele já tem certa consciência da necessidade de considerar que o planeta é finito; temos de respeitar o ritmo em que a Natureza renova os serviços que ela nos dá, mas isso ainda não encontrou forças suficientes para se tornar em ação e início da transformação necessária neste século 21”.
Mirdes de Oliveira, pós-graduada em meio ambiente e sociedade, falando ao programa Biosfera, da Boa Vontade TV (Oi TV — Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696), observou-nos a resposta que o orbe está dando ante a ação humana: “A cada dia vemos as mudanças das temperaturas: o frio cada vez mais intenso e o calor castigando as regiões com estiagens. Temos também o problema das chuvas. Esse é um grande exemplo porque antigamente tínhamos chuva de verão, mas hoje não: a cada ano que passa, o que vemos são fortes tempestades. Com isso acabamos tendo outro tipo de poluição, provinda da água dos rios que entra nas casas, podendo trazer, por exemplo, a leptospirose”.
Fica explícito que, acima de tudo, o assunto exige urgente cooperação individual e coletiva. Hoje, aguardamos a realização da COP24, entre 3 e 14 de dezembro, em Katowice, Polônia. O principal objetivo dessa conferência é fortalecer os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris no ano de 2015.
Que os líderes mundiais possam tomar as mais acertadas decisões, iluminados pela Vontade de Deus. Sem solidariedade com a própria Terra, não sobrará ninguém para contar a história.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
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